Capítulo XXVI

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                           (Bruno)

   Minha mãe olhava feio pro meu pai, que olhava feio para o Henrique, que por sua vez me olhava muito lindo. E lá estávamos nos quatro naquele quarto de hospital, pedi que Brian fosse embora, agradeci sua gentileza. Alguns amizades são tão boas que parecem vir de outra vida.

  — Olha agora eles vão se ferrar —. Henrique diz enquanto assistíamos desenhos na televisão do quarto. Confesso que ver meu loiro melhorou minha vida em 100%.

  — Vou comer alguma coisa, vamos querido —. Minha mãe praticamente expulsa meu pai do quarto para nos deixar mais a vontade.

  — E o Bruno? —.

  — O Henrique está aí —. Eles trocam olhares, meu pai sempre com a cara fechada dele, e Henrique com a cara mais cínica desse mundo. Mas era um cínico fofinho.

  — Eu te amo, e só saio daqui contigo —.
Ele diz beijando Minha barriga, eu estava fraco, mas tinha força o suficiente para bagunça seus belos fios de cabelo.

  — Eu te amo demais —. O médico disse que os exames saíram a tarde, então acho que eu ficaria um longo tempo ali naquele quarto.

  — Viu? Meu pai é só um pouco cabeça dura, mais um tempo e vocês serão amigos —.

  — Que bom, espero que isso se torne realidade —.

                                  •••

   — Bruno, o médico quer ver você, acorda meu amor —. Minha mãe diz, eu desperto e tenho um pequeno susto, Henrique estava do meu lado segurando minha mão. Se isso era amor eu não sei o que era.

   — Boa tarde jovenzinho —. Disse, e retribuo com minha fraca e aguda voz.

   — O quê ele tem doutor? —. Henrique pergunta deixando claro sua ansiedade.

   — Bem é essa a questão, sinto muito garoto, você tem apenas uns 70 anos de vida —. O médico disse brincando e depois ri. Ele me deu um grande susto, mas logo ri também de alívio

   — O quê ele tem, pelo amor de Deus deixa de gracinhas e fala logo —. Henrique disse já irritado.

  — Bom ele está com quadro leve de Anemia e pneumonia, vai ter que passar uns dias aqui internado, mas fora isso está tudo bem. Jovenzinho, sugiro que coma mais folhas verdes, não só coisas processadas —.

  Olhei para minha mãe e ela olhou com uma cara de estresse, já imagino porque. O médico despediu-se e se foi.

  — É Bruno, não me deu ouvidos aí está você, como se comer uma simples folha fosse te matar —.

  — Deixa esse sermão pra depois amor —. Meu pai tentou tranquilizar o ambiente.

  — E você um dos maiores culpados, sempre dando dinheiro pra ele comprar essas besteiras em vez de comer direito —. Henrique olha para mim com uma cara de assustado, talvez pelo fato de ter me dado muita comida que eu gosto também, mas preferi esconder essa informação.

   Resumindo comi apenas uma sopa rala de couve e brócolis, uma verdadeira porcaria, Henrique tentou me incentivar comendo um pouco antes de mim, para dizer que estava bom, mas sua careta o entregou.

   — Viu está uma delícia —. Ri daquilo, e chorei por ter que comer aquilo, minha mãe me obrigou a comer meu pai nem deu atenção.

   Para acabar de completar o desastre que estava aquele dia, me deram um remédio via oral, muito ruim, muito ruim mesmo. Quase vomitei depois de engolir.

   — Quer ir embora? —. Pergunto para o meu loirinho, ele estava parecendo cansado.

   — Como eu disse, só saio daqui com você —. Minha mãe tinha ido para casa, se preparar pra ficar a noite comigo, meu pai dormiria em casa. Ele estava ali ainda, olhando para o Henrique com uma cara não muito boa.

  — Amor não precisa, você tem escola, tem suas coisas, não pode faltar a tudo isso por mim —.

  — Não posso, mas vou, sabe por que? —.

  — Sei —.

  — Mas acho que vou ter que descumprir um pouco desse trato, acho que vou em casa tomar um banho e tirar essa droga de roupa —.

  — Vai lá gatão —. Sussurrei, mas mesmo assim meu pai ouviu e revirou os olhos.

  Henrique me beijou na frente de seu sogro, ousado demais, porém adorei, vê-lo partir foi doloroso mesmo que momentaneamente. Olhei para a poltrona e lá estava o mala do meu pai. Bom pelo menos ele estava ali comigo o que é bom.

  — Por que tem raiva dele? Pra sua informação ele me trata bem, como um príncipe e como pode ver me ama demais —.

  — Não sei de nada, não vi nada —. Disse raivoso, bom pelo menos não falou mais do meu amor.

  — Pai, sabe que eu te amo, não é? —. Muito infantil pegou uma revista da mesinha o lado e colocou na cara.

  Bom se ele queria, jogar sujo eu iria jogar. Eu fingi estar sentindo dor e ele logo veio até mim. Segurei em seu pulso e falei:

  — É bom que se acostume com o fato de eu gostar de garotos, especialmente do Henrique, porque senão eu fujo de casa —.

  — Depois que você sair desse hospital vamos ter uma longa conversa sobre tudo mocinho, mas você verá com seus próprios olho, esse seu Henrique não vai voltar, isso aqui é demais pra ele, sabe por quê? Porque ele ainda é um pirralho, boçal, e você um garoto frágil que ainda precisa aprender muita coisa —. Ele me disse e voltou para sua cadeira.

  — Não quero seu mal, mas não gosto desse garoto, e não confio nem um pouco nele —. Não disse nada, afinal eu preferia que ele visse com seus próprios olhos. Ainda bem que ele apenas não confiava no Henrique, pois confiança era uma coisa que adquiri com o tempo, e o tempo passa e nunca para.

  — Já querido pode ir —. Meu pai veio até mim e beijou minha testa. E fez carinho no meu cabelo.

  — Independentemente de tudo, eu te amo demais, até amanhã —. Sei que tudo que ele disse não foi por mal, apenas para me proteger. Por isso retribui seu afeto.

  — Até amanhã papai —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

 

 

 

 

 

  

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