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Lucien

Um dia depois de chegar à mansão dos exilados nas terras humanas, Lucien recebeu a primeira carta. Duas coisinhas pretas e fofoqueiras se materializaram em seu quarto, trazendo o envelope com selo oficial do mestre espião e com a insígnia da corte noturna.
Era curta e bem formal, mas dava pra sentir o carinho e a graça em cada palavra.

“Caro Lucien,

Espero que tenha chegado bem.

Gostaria de saber se já conseguiu comprar todos os itens que precisa para seu novo apartamento. Caso não seja esse o caso, posso te levar em comércios menos conhecidos, mas ainda assim muito bons, onde existem quinquilharias que você provavelmente iria gostar, como o saleiro e pimenteiro, que não pude evitar notar em uma de suas sacolas, quando você pegou nossos colares.

Com apreço, Azriel.”

Lucien riu com a ideia de Azriel bisbilhotando suas sacolas. Passou os dedos pelas letras curvas e desalinhadas… Será que a caligrafia do mestre espião era feia assim por causa de suas cicatrizes? Será que ele tinha dificuldade em fazer letras mais redondas e uniformes?

O grão-feérico de fogo achou isso absolutamente gracioso.

As sombras ficaram circulando, e trouxeram tinta e papel pra ele, como se quisessem presenciar o momento em que o ruivo escreveria de volta.

Caro bisbilhoteiro de pertences alheios,

Cheguei bem, obrigado por perguntar. Espero que você também tenha ficado bem depois de minha partida.

Não, ainda não comprei tudo que quero, e aceito sua gentileza com duas condições:
1-Terá de ser cavalheiro e carregar as sacolas para mim.

2-Se fizer qualquer comentário sobre as quinquilharias que gosto de comprar, vou abandoná-lo sozinho no mercado.

Tendo isso em mente, até breve.

Com apreço, Lucien.”

Como imaginou, assim que colocou a carta no envelope, as sombras a tomaram de suas mãos e desapareceram levando suas palavras em tinta.

Apressadas.

A próxima carta veio no dia seguinte.

“Caro colecionador de objetos de decoração de forma incomum,
Não posso dizer que fiquei exatamente bem...

Quando perceberam que estava lendo essa parte da carta, as sombras que a trouxeram falaram “ele sente saudades, muita saudade”. Lucien sorriu quando ouviu isso, seu coração mais quente e o sorriso mais amplo ao voltar a ler.

Tenho em mente suas condições e as aceito, embora tenha de adicionar as minhas:
1-Se eu for um cavalheiro, você tem a obrigação de enganchar seu braço no meu enquanto passeamos pelas lojas e carrego suas coisas.

2- Já que não vou poder fazer comentários sobre suas escolhas peculiares de objetos, você terá de ao menos, comer algo comigo em uma cafeteria que tem perto do mercado.
Espero ansioso por sua volta a Velaris.

Com apreço, Azriel”

O sorriso de Lucien ficou enorme, suas covinhas estavam mais visíveis do que nunca.

“Caro cavalheiro disfarçado de cozinheiro.
As sombras me contaram um pequeno segredo seu, mas não se preocupe, não vou revelar a ninguém. Também sinto saudades, amigo.

Aceito seus contra-termos.

Uma dúvida que já havia me ocorrido antes, mas só lembrei de perguntar agora: onde o mestre espião e encantador de sombras aprendeu a cozinhar tão bem?

As Sombras Apreciam A Luz Onde histórias criam vida. Descubra agora