11.0

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Azriel

Tudo estava indo bem. Bem até demais.
Lucien, por mais desconfiado que estivesse, aceitou almoçar com Azriel, que passou as últimas horas se esforçando para fazer a melhor comida de suas vidas.

As sombras o informaram assim que o ruivo chegou, e a euforia por ele realmente vir foi tão grande que nem se lembrou de tirar o avental azul marinho que estava usando quando foi até a varanda para vê-lo lá embaixo esperando.

Por mais que quisesse descer e pegá-lo no colo, havia decidido respeitar os limites dele. E isso não incluía toques, a não ser que ele desse permissão.
Amigos até que ele dissesse o contrário.
Então pediu às sombras que o transportassem até ele. Quando Lucien saiu do casulo de sombras, ele simplesmente tropeçou, indo de encontro ao peito do encantador de sombras. As sacolas que estavam no braços leitosos chacoalharam, e ele ficou meio desorientado, então Azriel o segurou pelos braços.

Por um segundo, achou que ele desistiria, que iria embora. Mas então sentiu o sutil, porém ainda perceptível, esfregar do nariz do ruivo na camisa que vestia por baixo do avental.

Ele estava tentando sentir o cheiro que o mais velho tinha. Azriel soltou um risinho com isso, e Lucien ficou vermelho por ter sido pego.

Tão adorável quanto estava envergonhado!

Permitiu então que seu cheiro emanasse.

Estava tão acostumado a reprimi-lo para não deixar rastros, ou para não ser seguido, que inconscientemente o segurava o tempo todo. Lucien pareceu completamente bêbado com isso, dessa vez esfregando o rosto no peito de Azriel e aspirando sem vergonha nenhuma.

— Pinheiro, acónito e terra molhada. Por quê não me deixou sentir antes? – Lucien perguntou, estava tão hipnotizado que nem sequer aparentava saber o que falava.

— Por que todo macho adora ter cheiro de flor, não é? – disse brincando um pouco com ele, aproveitando sua proximidade para afundar o rosto em seus cabelos.

Lucien ainda estava segurando as sacolas. Azriel queria pedir para ele soltá-las e segurar em seu peito, como o ruivo parecia gostar de fazer. Sentir as mãos dele em seu abdômen sempre lhe causava arrepios, e o fato delas estarem ocupadas e não apertando sua pele o deixou levemente irritado.

— Eu gosto - Lucien murmurou, todo molinho, enterrando a cabeça na curva do seu pescoço, onde o cheiro era mais forte.

Azriel abriu as asas para envolver ambos, os deixando completamente afundados no seu cheiro.

— Gosta é? - perguntou, amando a sensação de ter ele todo entregue assim.

— É tão bom! - cada palavra do ruivo foi dita com seus lábios raspando levemente no pescoço do moreno.

— Vou deixar sempre livre na sua presença, então.

—Por favor, faça isso – ele disse baixinho, com aquela boca molhadinha ainda tocando a pele sensível do pescoço.

“Não queremos atrapalhar, mas logo o assado vai queimar”, as sombras sussurraram. Azriel  percebeu que não foi só para ele, pois Lucien acordou do transe e se afastou, roçando levemente suas costas nas membranas das asas, enquanto elas se abriam para ele sair do meio do abraço.

Azriel não conseguiu evitar de soltar um leve gemido, e se arrependeu no momento em que percebeu que as sombras não evitaram que Lucien ouvisse.

—Eu vou checar o pato. Entre e fique à vontade – disse, ainda enrubescido, desviando do assunto, enquanto guiava ambos para dentro, em direção à cozinha.

As Sombras Apreciam A Luz Onde histórias criam vida. Descubra agora