Azriel
— Vai fugir de mim de novo ou podemos conversar agora? – A voz de Azriel, apesar de grave, passava um pouco de gentileza.
Sabia que Lucien não queria falar com ele. E se já não soubesse antes a fuga, o ruivo teria deixado óbvio.
Passou a última semana pensando em como se aproximar, como falar com Lucien sem fazer o macho ficar magoado. Sabia exatamente cada um dos passos que Lucien tinha dado naqueles dias, seguindo de perto o cheiro viciante de folhas secas, frutas cítricas, pimenta e tardes de verão. Ele já até sabia onde ficava o apartamento que o ruivo havia escolhido.Ele nunca contaria isso ao ruivo, mas foram suas sombras que bagunçaram as folhas de contratos de apartamentos, para que o contrato do apartamento que sabia que Lucien iria amar ficassem bem por cima.
Apesar de querer muito - muito mesmo - ter Lucien entre seus braços de novo, sabia que se fizesse qualquer coisa antes de terem uma conversa, ele acharia que Azriel estaria brincando. Azriel sabia disso.
Merda, Azriel é péssimo conversando sobre sentimentos. Principalmente sobre os seus.
Saber que Lucien o estava evitando, ver que fora capaz de virar as costas e fugir só pra não ter de encará-lo, machucou um pouquinho.
Lucien estava com roupas típicas de feéricos da corte noturna, nada extravagante, poderia se misturar com um padeiro ou pintor comum facilmente. A expressão dele era de total surpresa pelo mestre espião o ter seguido com tanta facilidade.
Surpresa, não pavor. Lucien nunca demonstrou pavor olhando para Azriel, mesmo sabendo das coisas cruéis que o mestre espião já fez. Azriel amava isso em Lucien.
A troca de olhares deles já estava durando demais. Foi Lucien quem a quebrou, desviando sua atenção para o chão e murmurando envergonhado:
— Eu não estava fugindo de você... Só lembre que deixei o café no fogo.
Azriel levantou uma sobrancelha, enquanto os cantos de seus lábios se transformavam em um sorriso cômico. Era praticamente visível a pergunta estampada em sua expressão: "essa é mesmo sua melhor desculpa, raposa?,"— Tenho ótimos motivos pra não acreditar em você — Azriel disse, risonho, o que só serviu para deixar Lucien ainda mais envergonhado.
E ele ficava adorável assim, todo corado.— Por que? Não tem nada que prove que estou mentindo! — Lucien retrucou, um pouco irritado, suas bochechas ainda vermelhas combinado com o cabelo.
Como Azriel tinha dito, muito adorável.— Calma, raposinha. Vou te dizer porque sei que está mentindo — Azriel fez uma pausa, apenas para dar um efeito de drama — Até onde me lembro, você não gosta de café. Diz que prefere chá.
Lucien pareceu mais irritado que antes e Azriel não entendeu por que. Era pra ele ficar ainda mais corado por ter sido pego mentindo, não?
— Como sabe disso? Andou me espionando? — o tom era ríspido e transbordava desconfiança.
— Espionando você? Nunca fiz isso. Eu espiono outras pessoas. Já em relação a você, "espionar" não é o termo que eu usaria.
— Ah — Lucien entoou, a voz cheia de sarcasmo — Me elucide então, mestre espião. Qual termo usaria?
O típico sarcasmo da raposa, que para muitos poderia ser ofensivo, para ele era fofo.
Azriel soltou um riso que pareceu desarmar as barreiras de Lucien, e se deu o direito de não responder a pergunta.
— Quero conversar com você. Vamos pra outro lugar? – Azriel perguntou, suas sombras que ficavam à sua volta passaram a circular Lucien como se tivessem sentido falta dele nesses poucos dias.
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As Sombras Apreciam A Luz
FanficPorque admirar Lucien de longe como vem fazendo nos últimos 250 anos não é mais suficiente para Azriel...