Alguns dias depois
Karol
Desliguei o notebook da Margô e me estiquei para pegar o celular atrás dele, checando as horas.
Eu tinha passado a tarde inteira resolvendo algumas coisas no site do bazar de roupas dela. A demanda estava crescendo bastante e o sistema começava a travar, então abri uma conta reserva, redirecionando alguns clientes mais antigos, resolvendo a maioria das compras pelo aplicativo de mensagens.
Foi uma loucura, mas tinha certeza que a Margô ficaria bem feliz com isso.
─ Agustín. ─ Murmurei ao ver que havia uma mensagem dele. Meu amigo havia recebido alta, mas precisaria fazer fisioterapia por um tempo, entretanto, já podia caminhar, apesar do médico dizer que não podia abusar da sorte.
Li sua mensagem com um sorriso levemente apático no rosto. Não era que eu não estivesse feliz, mas por orientação dele mesmo, tive que ficar fora da mansão dos Carter. Não sabíamos até onde Elizabeth iria, mas Agustín pediu que um amigo dele, que era detetive particular, ficasse de olho em todos os passos da megera, assim se ela decidisse sair da cidade, ficaríamos sabendo.
A parte ruim era que eu não via o meu filho há uma semana, mas a parte boa era que o processo para as visitas estava indo muito bem, e dali poucos dias sairia a sentença.
Agustín me afirmou que daria tudo certo, ele já tinha conseguido falar com o juiz.
Mesmo afastado até se recuperar totalmente, meu amigo não ficou de braços cruzados um dia sequer.
A coisa que não saia da minha cabeça era que eu precisava abrir o jogo todo com Ruggero. Não dava para adiar.
Eu tinha que contar pra ele sobre a minha vida inteira, sobre tudo o que aconteceu, e rezar para que o sentimento que eu via em seu olhar, nos ajudasse a prosseguir.Sua profissão sempre seria um empecilho na minha vida, mas eu contava com seu respeito.
Se ele estivesse sendo tão verdadeiro quanto parecia, iria me entender.
E eu precisava muito de seu apoio.
Levantei e caminhei um pouco pelo quarto para esticar as pernas. A minha coluna doía um pouco pelo tanto de tempo que fiquei ali sentada; depois fui abrir as janelas. A noite já avançava e eu sabia que precisava parar e descansar um pouco.
Logo Margô exigiria que eu fosse comer algo.
Estávamos mais unidas do que nunca e eu a via como uma mãe. Era impossível não amá-la, porque aquela mulher me estendeu a mão de um jeito que ninguém mais faria.
Além disso, graças a ela conheci Ruggero.
Foi uma sorte dupla.
Sorri pensando nisso.
Eu nem podia me olhar no espelho sem me lembrar dos doces elogios que ele não cansava de repetir pra mim sempre que nos encontrávamos pela casa, muito embora eu o notasse ligeiramente triste, com um olhar perdido vez ou outra.
Eu sabia que algo o estava incomodando, até o vi discutindo com alguém ao telefone, mas não me aprofundei.
Provavelmente era algo do trabalho.De todo modo, estávamos juntos. Juntos e bem.
Ruggero me passava segurança e a certeza de que o futuro poderia ser muito bom.
Deixei os pensamentos um pouco de lado e fui tomar um banho, sentindo os músculos relaxarem a cada gota de água quente que escorregava por meu corpo. Quando sai, parei na frente do espelho e escovei os dentes, penteei os cabelos e, por um mísero minuto, abri o roupão e encarei a minha nudez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
À Prova de Balas
Romance"Três anos enclausurada. Três anos pagando por ter cometido um crime em legítima defesa. Três anos em que estou longe do meu filho, que perdi completamente o contato com a minha mãe e não pude cuidar dela em seus últimos momentos de vida; três anos...