Flores

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Karol

Era um pouco engraçado como a minha cabeça parecia flutuar para longe, como se estivesse literalmente desligada do meu corpo, sem qualquer elo que nos mantivesse em sintonia ou junção.
Isso me fazia sentir duas pessoas em uma.

Não que eu estivesse me preocupando com esse detalhe, já que diziam que as noivas costumavam se sentir esquisitas com a aproximação da data do casamento. Qualquer pessoa que ia se casar ficava ligeiramente maluca, histérica ou desligava de vez.

Eu estava no meio termo, mas isso não era tão bom.

Tinha dias que eu ficava muito feliz, entusiasmada, mas em outros me apavorava a idéia de que tudo estava se desenrolando para um fim onde... eu estaria com uma aliança no dedo novamente, dividindo a vida com alguém, compartilhando uma casa, um sonho, uma existência.

Tudo de novo.

Mas saber que não era Logan do outro lado me fazia sentir menos apreensiva.

Ruggero nunca seria ele.

E, para melhorar as coisas, havia Henry. E meu filho o amava de verdade, o tinha como um pai de sangue, sem distinção alguma.
Eles se completavam de um jeito absurdamente lindo.

Nunca imaginei que isso fosse possível, mas era.

Alô!!!!? Terra chamando Karol. Terra chamando Karol!!!! ─ Os gritos de Jeff me trouxeram de volta num sobressalto.

Por um momento viajei para longe, me esquecendo de que ele estava do outro lado da linha me ajudando a escolher as flores que enfeitariam a igreja.

O Ruggero até que tentou ajudar, mas ele tinha o gosto péssimo.

─ Ai, Jeff, perdão! ─ Guinchei envergonhada. ─ Eu estou... vendo as opções que você me mandou por e-mail. E são todas belíssimas!

─ Ah que bom que gostou! Mas eu ainda acho que deveria ser algo mais chamativo. Você está acabando com a minha musa brilhante interna. Sinto que vou definhar de tanta vontade de enfeitar aquela igreja com purpurinas e paetês...

─ Paetês? ─ Retruco achando graça. ─ Vai colar paetês aonde? Na bata do Padre?

Ele ri do outro lado.

─ Não seria uma má idéia. Será que ele deixa?

─ Pelo amor de Deus, não! Não faz isso.

Meu tom de súplica provavelmente soou muito mais enfático do que deveria porque ele passou os minutos seguintes rindo disso e me tranquilizando.
Não era por nada não, mas eu sinceramente não queria perder a chance de me casar naquela catedral só porque o Jeff achou que seria uma boa idéia cobrir o pobre do Padre de coisas brilhantes como se ele fosse um globo de discoteca.

─ Sabe o que eu pensei? Vou mandar para a sua casa algumas amostras das flores que selecionamos. Daí você escolhe melhor, porque vai ser bem mais agradável tê-las pertinho, sentindo o perfume. Garanto que será uma experiência perfeita!

─ Ótimo! Assim o Ruggero me ajuda também com isso, muito embora eu não vá dar muito crédito aos comentários dele. Nós dois sabemos que o meu noivo não entende nada de decoração.

─ Sem dúvida! Ainda tento entender o que passou pela cabeça dele ao achar que seria uma coisa maravilhosa usar aqueles tecidos de seda super cafonas nas mesas do salão da recepção da festa!! Qual o problema dele? Olha só, quero ele bem longe da minha arrumação, entendeu?

Sorri concordando.

Jeff era simplesmente fenomenal em seu trabalho de decorador, então eu não tinha problema algum em entregar em suas mãos a paleta de cores do meu casamento. Ele era tão elegante, sofisticado e com um olho clinico para os detalhes. Isso tudo me admirava de modo surreal, então eu saia concordando e palpitando muito pouco.

À Prova de BalasOnde histórias criam vida. Descubra agora