Pouco Tempo

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Karol

Um pensamento atordoante gritava no fundo da minha cabeça: FUJA!

Mas quanto mais eu olhava em volta e buscava uma saída, mais percebia que não tinha como sair dali.
Blaine jamais me colocaria em um lugar que houvesse a opção de fuga. Nunca.

Ele tinha esperado muito por aquele momento.

Ao menos consegui desamarrar as minhas pernas e caminhei até uma mesa perto da parede onde havia algumas bebidas. Mesmo zonza tateei um recipiente resfriado onde ficavam os cubos de gelo e peguei dois na mão, levando-os até o nariz.

A dor no meu rosto era lancinante, beirando o insuportável.

Escutei uma batida abrupta e me virei.

Blaine apareceu na sala com uma pasta na mão e abriu um sorriso pra mim.

Eu quis vomitar.

─ Ah, sirva-se se quiser. ─ Disse. ─ Não seria correto negar uma última bebida a alguém.

Deixei os cubos caírem e eles tilintaram perto dos meus pés.

─ O que é isso? ─ Eu me referia aos papéis em suas mãos.

─ Ah isso? Então... Eu realmente odeio a fama de mentiroso, então resolvi provar que não estou blefando. Na verdade, eu nem teria motivos para isso, não acha? O que eu ganharia? Eu já tenho você aqui.

Dei uns passos trôpegos me apoiando na parede, mas sem tirar os olhos dele.

─ Não entendo.

Blaine apontou para uma mesinha de tampo de vidro redondo com quatro cadeiras de aço inoxidável, sinalizando para que eu me sentasse.

Eu hesitei.

─ Vai logo, garota. ─ Murmurou me pegando pelo cotovelo e me arrastando até uma das cadeiras, obrigando-me a sentar. ─ Melhor assim. Agora se me permite... ─ Folha a folha ele começou uma apresentação que eu não entendia a minha frente. Passei os olhos por todas aquelas páginas redigidas, mas não entendi nada.

Foi então que ele jogou uma foto.

Uma foto que fez meu coração parar.

Eu estanquei como um carro quebrado.

─ De onde você tirou isso, seu desgraçado?! DE ONDE?

─ Na verdade, eu estava ai. Fui eu que bati a foto. A iluminação não é das melhores, mas convenhamos que dentro de uma UTI não da pra fazer muita coisa. Foi o jeito deixar assim mesmo.

Atirei para longe o nojo que sua voz me causava e peguei na mesa a fotografia que fez todos os meus músculos fraquejarem, como se alguém, de repente, tivesse me dado uma facada no peito.

Era o meu filho.

Henry estava com fios por todos os lados e um respirador. Parecia muito menor e mais pálido, sumindo por entre os lençóis da maca onde estava prostrado.

Eu quis entrar ali e tirá-lo daquele lugar.

─ Isso foi no dia...

─ Do acidente que o Ruggero provocou. ─ Completou solenemente, indo se sentar na cadeira que ficava de frente para a minha. ─ Para você ver que não sou nenhum monstro, fique sabendo que eu fiz companhia ao Henry todos os dias. Acompanhei sua recuperação. Apesar do menino ter o seu sangue, ele também tem o sangue do meu grande amigo, então era o mínimo que eu podia fazer.

Amassei a foto entre os dedos. A dor me fazia arquejar.

O meu rosto se contraiu e percebi que mais sangue saia do meu nariz, escorrendo para dentro da minha boca, levando um gosto horroroso de sangue que ia descendo pela minha garganta. Mas o pior nem era isso, a minha dor eu suportava, o que eu não aguentava era imaginar toda a agonia que meu filho passou.

À Prova de BalasOnde histórias criam vida. Descubra agora