Capítulo 30

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Não demora para todos estarem ali, Rayvis fazia uma narração detalhada de tudo que conseguiu observar, Amren me olhava com desconfiança, Azriel estava atento a tudo que Ray dizia, Rhysand ponderava como se já tentasse descobrir quem eram, Cassian se animou em tentar fazer rabiscos e anotações, Mor acompanhava Amren em olhar para mim, Nestha estava silenciosa próxima a Elain que tricotava algo e Daphmis estava ao meu lado. Quando chegou minha vez de contar o que aconteceu eu não sabia o que falar, minha mente estava uma ebulição de pensamentos tortos, mas eu não conseguia dizer nada. Daph apertou minha mão e ofereceu um sorriso encorajador lindo, Ray também estava ao meu lado e logo tocou meu ombro como se garantisse apoio e foi nesse instante em que explodi.

- A culpa é minha, eles acham que eu tenho o poder de levar eles de volta de onde vieram, mas eu não tenho poder nenhum e agora vocês estão em perigo, Rayvis já ficou em perigo. Eu devia sair, devia ir para qualquer lugar, é mais seguro assim.

Eu não conseguia olhar para eles, a culpa... a ideia de eles sofrerem mais por minha causa era aterradora, não podia fazer aquilo e se teve um instante em que senti mais a falta de minha mãe foi quando escutei que poderia nunca mais a ver. Meu peito doía, estava pesado como nunca.

- Lianna...

Meu nome sendo pronunciado por Rayvis parecia um milagre, mas eu não devia ceder, não devia escutar o que quer que ele dissesse.

- Se eles acham que você tem o poder de levar eles para casa... se tiver, vamos descobrir e então é isso que faremos.

Feyre falou, quando ergui o olhar para ela vi que estava bem à minha frente, os olhos azuis já não refletiam mais desconfiança, mas determinação. Eu precisava argumentar, precisava proteger eles, por mais que meu egoísmo gritasse para os abraçar e pedir por proteção.

- Mas eu não tenho... eu não sei o que podem  tentar fazer com vocês.

E eu senti o toque daquelas mãos tatuadas, um aperto maternal.

- Ninguém ameaça a nossa corte sem receber um troco.

Lágrimas embaçaram minha visão, não me contive e abracei Feyre, sentindo aquele acalento reconfortante que tanto precisava. Feericos podiam até não ter o hábito de abraços e se tivessem, deveriam aprender a arte com ela. A falta de minha querida mãe só aumentava, minha parceira reclamona, minha consciência e a luz que me guiava, eu a amava mais que tudo, que os livros, pois dela que veio o tudo, viver sem ela... eu sentia aquilo como errado, por mais que soubesse que um dia iria acontecer, quantas pessoas não tinham perdido seus familiares queridos, eu mesma, sem meu pai, mas... não deixava de ser doloroso. Se eu tivesse a chance, se eu realmente pudesse levar todos para casa, eu iria também? Iria trocar aquela eternidade brilhante, talvez repleta de sentimentos que eu não podia explicar, por mais um abraço dela? Por mais momentos com ela? Eu não sabia, não sabia mesmo, apenas que naquele instante, a falta dela era dolorosa demais e o medo por aquelas pessoas grande demais para segurar as lágrimas.

Eu sempre fui chorona, fato. Chorei lendo livros no ônibus, chorei por topar na calçada, porque o dorama acabou e os personagens ficaram juntos, sempre chorei por tudo, mas chorar na frente de um conhecido sempre foi vergonhoso demais para suportar encarar eles depois, então eu estava encolhida naquela janela onde abracei Rayvis pela primeira vez, tentando não pensar na corte dos sonhos me vendo chorando e focar em descobrir se tinha mesmo um poder e se eu realmente queria ter um. Tudo era uma grande interrogação naquele momento. Tentei rever os acontecimentos desde antes de chegar ali e a certeza de que era tudo por causa daquela dona de livraria me tomou, algo naquele marca páginas me levou até ali, mas o que especificamente não dava para saber, seria magia ou loucura mesmo. Também veio o conflito do que eu estava nutrindo por Rayvis, eu cheguei a querer jogar tudo pro alto e aproveitar o tempo com ele, mas aquilo podia ser um erro, se eu realmente tivesse o poder, seria apenas mais difícil voltar para casa. O que eu devia fazer? Como descobrir se tinha um poder? Meu grande desespero era não ter a quem recorrer, alguém para quem pedir conselhos sobre tantos conflitos.

Em meio aos meus pensamentos alguém bateu à porta.

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