Capítulo 14

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Comentar ainda mais sobre como os olhos violeta de Rayvis eram encantadores, ou como seu cabelo que por vezes parecia preto brilhava como se fosse loiro, como seus lábios sedutores eram uma perdição e seu porte másculo era irresistível é desnecessário quando se sabe quem gerou aquele ser maravilhoso, claro, Daph não ficava para trás e sinceramente, eu podia me sentir a pessoa mais feia do mundo entre eles dois com minha aparência comum sem grandes atrativos, não, eu não sou feia, mas também não sou nenhuma beldade e quando a massa de biscoitos com gotas de chocolate foi de alguma forma parar bem na minha cabeça eu podia entender porque eles dois ficaram espantados.

- Haha. Vamos, podem rir.

Comentei com ironia e eles realmente começaram a gargalhar.

- Eu deveria amaldiçoar vocês.

Tirei uma bela quantidade de massa de meu cabelo.

- Foi você quem disse que podíamos rir.

Daph respondeu enquanto segurava a barriga e enxugava as lágrimas. Um bolo caiu no chão fazendo um som sonoro de pleck que a fez rir ainda mais alto.

- Talvez devesse usar isso como assessório, ficou muito mais bonita assim.

Olhei para Rayvis pela primeira vez desde que entrei naquela cozinha, eu sabia de minha aparência humilde, mas aquilo era zoeria pesada, então dei dois passos pesados na direção dele.

- É mesmo, grao-senhor? Se lhe agrada tanto, que tal eu compartilhar com você?

Então esfreguei a massa que tinha coletado na mão no instante anterior bem no alto da cabeça dele com muito capricho e ainda deixei minha mão escorregar pela lateral do rosto dele. Os dois se silenciaram e minha irritação não cedeu, Rayvis ficou sério  e ele assumiu uma posição ereta, eu não queria ceder, mas tinha um macho feérico que era o herdeiro dos feericos mais poderosos, eu senti as pernas fraquejarem quando percebi o que realmente podia significar ter ele contra mim até que senti o impacto na lateral do corpo e depois a ardência nas narinas, uma nuvem branca na frente e Rayvis estava metade branco, metade coberto com massa de biscoitos com gostas de chocolate.

- Não se divirtam sem mim!

Daph esclamou e só quando Rayvis se virou lancando a bacia com os ovos quebrados em cima de Daph eu vi porque ele tinha fixado tanto o olhar, a garota virou uma mistura de clara e gema que ainda assim era muito bonita, minhas pernas ficaram realmente moles e eu precisei me apoiar na bancada. Até receber um banho com o açúcar então não deixei mais barato e derramei leite sobre os dois. Após alguns minutos a cozinha era uma massa por si só e nós éramos alguma mistura bizarra.

- Nuala e Cerridwen vão chorar quando verem o que fizemos com a cozinha delas.

Daph falou depois de termos nos deitado no chão, os pulos e perseguições tinham nos custado nossas energias, usei Daph de travesseiro.

- Acredito que elas iriam olhar uma para a outra e silenciosamente começar o trabalho.

- Concordo com a Lia.

Olhei de lado para Rayvis, desde quando ele me chamava por aquele apelido? Daph gargalhou.

- Tem razão, você conhece elas bem.

- Na verdade não...

Falei baixo enquanto ela reclamava de uma dor no ombro. Me sentei e olhei para minhas mãos, os dedos longos e elegantes que não eram como eu via antes. Puxei as pernas contra o peito e as abracei, elas também não eram as minhas pernas.

- Está se sentindo mal?

Rayvis perguntou segurando meu ombro, seu corpo estava inclinado de modo que ele pudesse ver meu rosto, Daph também me observou.

- Estou bem.

Era apenas mais uma crise de mudança de corpo, eu tentava imaginar como teria sido para Feyre, para Nestha e Elain, não conseguia imaginar palavras para descrever, ainda mais para as duas últimas que foram Feitas no caldeirão, então algo me ocorreu.

- O caldeirão!

Mas logo me toquei que pedir que eles me dessem acesso ao que fez eles sofrerem tanto seria o mesmo que enfiar uma adaga em seus estômagos e eu não podia perder a gentileza com que tinham passado a me tratar. Eu realmente estava em um labirinto de becos sem saída.
Eu já conhecia a história de Amren, ela não tinha criado um portal, mas um apareceu para ela, as chaves de Wyrd sequer tinham sido forjadas por feericos, então... o que eu faria? Procurar por feitiços ou deuses vivos daquele mundo? Talvez Rayvis tenha percebido o motivo de minha súbita depressão e se levantou oferecendo a mão.

- Talvez seja a hora de falar com meus pais.

Olhei para ele, bem, se eu tinha alguma chance de descobrir como voltar para casa, seria com o grão senhor antigo ou com a ajuda de Feyre para capturar algum suriel, sim, um suriel seria meu último recurso ali, já que não tinha nenhum entalhador de ossos para recorrer. Aceitei a mão de Rayvis e ele me ergueu, aqueles milissegundos em que estive bem nos braços dele me fizeram ter calafrios, mas ele se afastou rápido, depois tive que lidar com o olhar questionador de Daph, nos separamos para tomar banho, mas Daph me acompanhou até o quarto e ainda cobertas de farinha, ovos e massa de biscoito ela me perguntou.

- Você gosta do Ray?

Me engasguei com o ar.

- O que?

Ela suspirou e afastou os longos cabelos para atrás dos ombros, eles estavam um pouco duros, mas o charme do movimento ainda estava ali, intacto.

- Eu ligo com um casal que grita um com o outro quase todos os dias, juram se matar, mas se amam loucamente. Estou vendo vocês brigando desde o momento em que ele pôs os olhos em você, como se estivesse irritado por alguma coisa, por acaso a parceria...

Eu ri quando ela falou aquilo.

- Eu li tantas histórias em que o filho de Feyre e Rhysand tinha parceria com uma jovem de Hybern, uma garota da Corte primaveril, a filha de Tamlin, uma com próprio Tamlin, certamente não seria comigo que ele teria isso e se fosse ter com alguém de outro mundo, seria com a filha da Aelin com o Rowan, mas não comigo. Se fosse para eu ter parceria com alguém, o que certamente seria um sonho, provavelmente seria com você Daph, porque com ele as coisas só acabam com xingamentos e desmaios.

Ela corou e eu vi algo que não tinha visto ainda nela, como ela era mais próxima de Mor e falavam como se compartilhassem um segredo, então seria aquilo? Foi minha vez de corar.

- Acabei de dizer que meus pais vivem brigando e amam um ao outro...

O olhar dela baixou para os pés e logo os meus também eram bem interessantes, mas... com minha alma de leitora eu não queria deixar de perguntar.

- Daph, você... - parecia ser um segredo ainda e ela tinha ficado envergonhada, talvez nem fosse algo que ela realmente tinha certeza por isso ainda não tinha falado com ninguém além de Mor, talvez ela estivesse tentando descobrir e não era medo de compartilhar, porque eu sabia que ela seria aceita.

Suspirei, não era o momento. Peguei a mão de Daph.

- Não importa, mas não, não tem parceria, porque se tivesse, eu também teria que saber, certo?

Ela acenou e eu procurei me convencer junto. Eu saberia se alguém estava ligado a mim, não é?

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