Capítulo 9

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Eu ainda estava no chão, então não sabia bem se ele era grande de verdade ou meu ângulo de visão era desfavorecido, eu vi as cicatrizes, vi os músculos e as asas de morcego abertas, ele olhou pra mim e eu soube que aquele cara era problema, minhas mãos pareciam pedras de gelo.

- Quem é você?

Aquela pergunta foi proferida mais uma vez, mas não pra mim. Ele olhou para Rayvis, eu tentei, mas a posição não permitia.
Podia jurar que o herdeiro estava em uma posição de ataque, não conseguia me afastar, havia algo de hipnotizante naquela pessoa, como se o conhecesse, essa sensação de familiaridade. Ele voltou a olhar para mim, se abaixando.

- Você vem comigo.

A voz... não era tão assustadora ou falhada quanto tinha esperado, ele estendeu a mão para meu braço e eu vi uma onda de poder vermelho atingir a mão dele. Ele olhou para frente.

- Não intrometam.

Então eu vi as lâminas presas no quadril dele, brilhantes e pesadas, letais e antes que ele avançasse de novo passei por entre as pernas dele engatinhando e assim que estava do outro lado levantei em uma corrida breve e me virei, ele estava entre mim e os primos, não havia nada que eu pudesse fazer, mas... Eu era o alvo, ele deixou aquilo bem claro, se houvesse qualquer possibilidade de evitar que ele fosse até os verdadeiros tesouros daquela corte dos sonhos, eu o faria. Puro egoísmo me movia, mas... ainda senti orgulho quando atirei uma bola de neve nas costas dele e gritei.

- Atrás de você bobalhão.

Ele se virou parecendo rolar os olhos, Daphmis me olhou e eu acenei de leve para ela, um pedido. Antes que ele realmente me alcançasse gritei novamente.

- Pegue-me se puder!

Mostrei a língua e dispara novamente, mais rápido dessa vez. As botas não eram tão boas contra a neve, mas minhas pernas eram rápidas o bastante para não deslizar e levar uma queda. Eu era boa, quando pequena, nas brincadeiras de pega-pega, a melhor, ninguém me alcançava ainda mais quando me escondia então tentei trazer aquela criança ágil e esperta de dentro de mim e disparei pela cidade de estrelas.

Me senti livre apesar da fuga, da distração, por alguns segundos acreditei que era a mais rápida, que mesmo desviando daquelas pessoas assustadas, dobrando em esquinas aleatoriamente, poderia fazê-lo se perder e quando olhei para trás e não o vi realmente me senti vitoriosa, até sentir meus pés se juntarem e estar caindo como do alto de um prédio direto para o chão coberto por uma fina camada de gelo. Ah! Vai doer. Foi tudo que pensei e realmente doeu quando meus braços bateram primeiro e depois deslizaram para os lados e meu peito e rosto colidiram por fim, fiquei imóvel por segundos, derrotada, me virei, derrotada pela corda de uma barraca que quase tinha vindo ao chão comigo, o dono me xingava e ao redor alguns curiosos me olhavam com pena, me deitei no chão completamente alheia ao mundo sentindo apenas a dor.

Ao abrir meus olhos novamente uma sombra descia do céu. Merda. Ele não tinha corrido atrás de mim, apenas voou. Me sentei com pressa e desenrolei a corda de meus pés apressada, me virei e disparei em outra corrida, mas ele desceu dos céus  bem na minha frente. Abri um sorriso amarelo diante de sua expressão sombria, a pele estava vermelha e apesar do rosto comum com os cabelos escuros e olhos escuros, ele parecia vindo não de cima, mas de baixo, bem, bem de baixo. Ergui minhas mãos em rendição.

- Podemos conversar...

- Não há o que falar, você virá comigo.

Recuei a cada passo que ele dava em minha direção, enorme, ele era realmente enorme e isso o tornava assustador, não as asas de morcego, não sei rosto que era tão humano quanto o meu, nem as armas que pendiam de seu cinto e tintilavam umas contra as outras.

- Por que ela deveria?

A voz de Cassian foi como o coro de mil anjos descendo dos céus pra me oferecer o perdão e a entrada ao paraíso. O homem, o illyriano, desatou, olhou de forma diferente, quase triste para Cas.

- Você não entende, Cassian.

O general ficou entre mim e ele, estendeu uma mão para o lado e depois a outra, em cada uma surgindo uma bola de poder vermelho.

- O que eu não entendo é porque um illyriano está em Velaris atacando uma convidada da corte.

Ele fez menção de atacar, mas o invasor olhou para cima.

- Me leve de volta, Mi Jin.

E ele sumiu em fumaça e poeira. Tanto eu quanto Cas giramos a procura do invasor confusos, mas ele tinha ido.

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