Capítulo 4

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Eles me deixaram ficar na Casa do Vento, podia sentir que Rhys e Fey estavam ali, os dois mais poderosos para conter a ameaça desconhecida, quase podia imaginar claramente a cena.

Rhys sentado na cama com as costas encurvadas, as mãos na cabeça assanhando o cabelo preto, Feyre de pé, olhando para o céu com a mão recoberta de tatuagens no parapeito, ela fala enquanto encara o céu já estrelado.

- Vamos superar isso.

- Achei que finalmente tínhamos conseguido, que finalmente poderíamos viver tranquilamente, sem guerras, sem sacrifícios.

Soltei gritinhos de alegria, claramente por saber que eu não era uma ameaça e eles estavam se preocupando a toa, mas que fangirl não iria ao delírio com aquilo, ainda mais quando se torna um deles. Eu tinha que conferir aquilo, então no quarto com vista para as montanhas, eu procurei por um espelho. Estava ansiosa pra ver que tipo de resultado magia podia ter sobre uma garota comum. Quando achei foi de certa forma... decepcionante, sim, eu estava mais alta, a meia mostrava isso e as mangas mais curtas do casaco também, mas meu rosto ainda tinha aquela simplicidade triste. Não sabia o que esperava, de repente ser loira com olhos prateados e uma boca de Angelina Jolie. Só se fosse mesmo.

Me joguei sobre a cama e soube como era deitar nas nuvens. Rolei rememorando os rostos. O filho deles! Deus é pai e eu sei que nada podia ser mais obra divina que aquilo.
Já a garota... se eu fosse lésbica teria me atirado nos braços daquela garota, ou nos pés mesmo, sem ser eu já me via tentada.

Suspirei, que tipo de sonho era aquele eu não sabia, mas estar ali significava que apesar de todo o mundo fantástico eu iria sofrer, afinal, quem nunca assistiu um daqueles desenhos que o garoto entra no mundo dos jogos e descobre que não era tudo maravilhoso. Eu sabia exatamente qual seria meu maior sofrimento ali, mamãe.
Outra questão, será que o tempo estava correndo na Terra? Eu tinha sumido ou o tempo parou? E se lá correr mais rápido que aqui? Então já devia ter sido considerada morta. Mamãe iria sofrer muito...

Me dei um tapa no rosto, não devia pensar naquilo, magia é magia e as coisas se resolvem no final, não estava em nenhuma obra de Shakespeare, não iria cometer suicídio nem morrer em um duelo.

Ao menos esperava que não, o risco era grande já que eu não fazia parte do elenco principal...
Eu precisava ficar em segurança, precisava que a corte me protegesse, mas e se eles me tomassem como ameaça? Não tinha como aquilo acontecer, certo? Mor podia confirmar tudo. Mas e se...
Eu precisava descobrir um jeito de me defender, nem que fosse pra morrer lutando. Talvez eu também tivesse poderes, a Nestha e a Elain ganharam, a Feyre nem se fala, eu devia ter alguma coisa, qualquer coisa...

Fiquei de pé e me concentrei. Nada.
Apontei os dedos. Nada.
Fiz a pose de fusão do Dragon ball, também nada.

Eu tentei de tudo e quando estava de cabeça pra baixo, apoiada na parede, a porta se abriu. Eu caí na hora, mas me ajeitei rapidinho, para ver Feyre erguer uma sobrancelha para mim. Então eles tinham decidido que eu não era uma ameaça tão grande e ela sozinha podia tomar conta de mim.
Ela pigarreou e me deu tempo para ficar em pé, a vergonha era cruel, mal tinha chegado e já estava pagando mico na frente da minha heroína.

- Imagino que esteja com fome, gostaria de se juntar a nós durante o jantar?

Eu, comer com o meu utop? Abri um sorriso puxei a manga do meu casaco e dei um passo, ela olhou para mim curiosa.

- Você quer outras roupas?

A expressão dela dizia que as minhas pareciam desconfortáveis, não estavam muito, sempre preferi roupas mais folgadas e compridas, mas eu iria recusar? Nunquinha. Abri um sorriso e respondi.

- Ficaria mais que grata.

Claramente eu estava tentando me encaixar em um linguajar mais culto, ela sorriu, dava vontade de apertar de tão fofa, ela entrou no quarto fechando a porta e foi ao guarda roupas que eu tinha visto durante minha busca pelo espelho, quando o abriu roupas que não estavam ali antes enchiam o móvel.

- Acredito que alguma deva lhe servir e agradar.

Fui até ela e passei a mão pelos tecidos pareciam roupas de grife, eram macias e finas, delicadas. Peguei uma, um conjunto típico da corte noturna, aquelas roupas meio indianas, observei, era lindo, branco com azul, mas nunca que eu vestiria então coloquei de volta e peguei algo mais meu estilo, calças e blusa.

Depois de vestida com as roupas que imaginava serem de treino, segui Feyre pelo labirinto que a Casa do Vento era até a saleta onde Rhys já estava sentado à mesa repleta de comidas.

- Nuala e Cerridwin?

Eles me olharam surpresos.

- Sempre quis saber como seria a comida delas, Feyre dizia que era deliciosa.

Feyre piscou e eu soube que ela falava pelo laço que nunca tinha me dito aquilo. Me sentei empolgada. Os pratos, as comidas, tudo era tão incrível que eu estava quase babando.

- Então... por que acha que veio parar aqui?

Eu estava faminta, mas me contive, queria passar uma boa impressão.

- Eu tenho uma teoria que devo fazer alguma coisa ou aprender algo com isso, geralmente é isso que essas viagens são, ou posso fazer algum papel importante ou vir pra ensinar algo pra vocês. Esses são os clichês dessas entradas em outros mundos.

- O seu mundo parece ter muitos conhecimentos.

Olhei para Rhys, ele parecia intrigado, talvez estivesse me achando super inteligente ou uma grande convencida.

- Ah, tem muita coisa útil por lá. Mas não temos magia, ninguém é capaz de criar fogo com o pensamento ou tem um espaço que só ele pode acessar, ou ver o futuro...

- Você realmente sabe tudo não é?

Abri um sorriso.

- Li mais de uma vez, é minha história preferida em todo o mundo, ou mundos.

Eles ataram as mãos e mais uma vez eu queria muito guardar eles num potinho.
Algo passou pela minha mente e eu imediatamente soltei.

- Eu posso ver as pinturas da Feyre?

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