Capitulo 27

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- O que isso quer dizer?

Sim, eu era da Terra, mas... O que aquelas quarenta e seis pessoas tinham haver? Aqueci meus braços pois o frio só aumentava e eu não queria tremer na frente de alguém desconhecido. Minha mente ligou os pontos.

- Você é da Terra?

Quase gritei, mas a pessoa permaneceu inalterada, nem mesmo um fio de seu cabelo perfeito saia do lugar. Dei um passo na direção dela para exigir respostas, mas uma porta se abriu.

- O intruso acordou, ninguém consegue o controlar.

O desconhecido olhou da pessoa na porta para mim e ergueu uma sobrancelha.

- Pelo visto o príncipe encantado não vai desistir da princesa.

Pisquei mais uma vez confusa, mas o rosto desesperado de Rayvis clareou tudo.

- Ray...

Disparei na direção da porta e a pessoa que estava lá ficou claramente assustada, então uma bengala surgiu na minha frente, olhei pra o estranho.

- Vou permitir que se encontrem, mantenha-no calmo, então conversaremos.

A bengala saiu de minha frente e fui até a porta.

- Liu, leve-a até ele.

Falou para o jovem à porta que assentiu.

- Vamos.

Ele se virou agitando o cabelo na altura dos ombros e vi as orelhas que o definiam como um feérico.

- Você é humano?

Ele olhou por cima do ombro para mim.

- Robin já disse, depois vocês vão conversar.

Fiquei calada. Não tinha algemas nem grilhões, mas sentia como se estivesse presa ali. Como se sequer precisasem desse tipo de contenção.

- Meu nome é Ming Liu, quando terminarem de converar, estarei à porta.

Acenei e ele me indicou a maçaneta, girei e quando abri uma fresta algo foi lançado contra a porta, abri mais e vi os que provavelmente tinha sido uma cadeira.

- Lianna!

Fui envolvida em braços tão rapidamente que se não fosse pelo chamado não teria reconhecido Rayvis. Me afastei dele e o observei.

- Você está bem?

- Você está bem?

O observei mais uma vez, pelo visto estava.

- Sim, como veio parar aqui?

- Quando vi você sendo levada, me agarrei à invasora quando todos se distrairam com o seu sumiço e vim parar aqui com ela.

- Como pode ter corrido um risco desses?

- E como não correria vendo te levarem dessa forma?

Sorri com a resposta dele, como não amar?

- Até pouco tempo atrás você estava me erguendo com só uma mão.

Ele fez uma careta de insatisfação e virou o rosto, eu ri ainda mais.

- Quem são eles?

Rayvis perguntou mudando de assunto.

- Não sei, mas sabem que não sou daqui.

Ele voltou a olhar para mim assustado.

- Um deles foi falar comigo, algo sobre como quarenta e seis pessoas e mais nenhuma durante séculos... também perguntou se eu era da Terra.

- O que é Terra?

Lembrei que ele não esteve nas minhas narrativas sobre o planeta.

- O lugar de onde venho.

Ele mordeu a boca que me pareceu bem suculenta naquele instante, ainda mais depois de achar que iria morrer sozinha assassinada por um ser que não poderia identificar sequer de onde vinha a voz.

- Você... você acha que eles também são de lá?

O pensamento não tinha se completado, mas sim, tinha.

- Se estão aqui por séculos, como disse, então não deve ter como voltar.

Lembrei da história de Amren, de como ela, e tantos outros, tinham ido parar naquele mundo e nunca conseguiram voltar. Lembrei de Maeve também, que era preciso das chaves para abrir um portal, mas nenhum portal foi forjado para Prythian antes, não, eles surgiam em uma via única.

- Então lhe farei companhia pela eternidade.

Ele me abraçou e o consolo poderia ter sido melhor se não fosse interrompido. Ming Liu cautelosamente abriu a porta e falou sem se expor, certamente com medo de outra cadeira.

- Robin está chamando.

- Tenho que ir.

Rayvis acentiu.

- Se precisar de mim, apareço onde estiver.

Aquilo deixou implícito que ele ainda conseguia saltar.

- Vamos.

Segui o mesmo caminho curto com Liu e ele me levou até o mesmo quarto.

- Imagino que já tenha formado suas próprias teorias.

Robin, de acordo com Ming Liu que permaneceu no quarto, falou, me sentei de frente para aquela pessoa enigmática em uma das cadeiras de madeira.

- Mas antes quero que me responda, você é da Terra?

Não teria como dizer se negar me traria qualquer benefício e pelo que aprendi com muitos livros e séries é que a mentira não protege ninguém por muito tempo, mas a verdade também não. Porém, preferi arriscar na verdade, já que ninguém dali teria como saber da Terra além dos que eu eu tinha contado e de quem fosse de lá.

- Tanto quanto você.

Robin sorriu.

- Então, como veio parar aqui?

Ele estava admitindo, eu sabia. Não podia deixar de me perguntar porque me sequestrar, mas ainda não era o momento, antes, eu precisava saber mais daquelas pessoas.


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