Capítulo 26

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A noite estava gélida e tinhamos alguma carne de origem desconhecida sobre o fogo enquanto Cassian cantarolava alguma música de guerreiro, Rhysand estava se certificando de que nossa comida não viraria carvão, Feyre mantinha o fogo na temperatura certa e montava uma pequena cúpula de calor ao nosso redor, porém não estava funcionando muito bem e mesmo eu, com meu gosto pelo frio, estava aceitando de bom grado a manta que Daph oferecia compartilhar comigo.

Observei Rayvis finalmente se aproximar para sentar e Feyre o chamou para ficar próximo a ela, ela o abraçou e sussurrou algo em seu ouvido, Daph agarrou minhas mãos e senti as dela absurdamente geladas, nos envolvemos mais uma no lado da outra. Rayvis se levantou e foi para uma barraca, retornou alguns segundos depois com uma manta nos braços e a colocou sobre nós duas.

- Se ainda sentirem frio, é só avisar.

Pela piscadela e o tom que usou, Daph o mostrou a língua e eu ri. Ele voltou a sentar próximo de Feyre e ela voltou a falar com ele baixinho. Cassian mudou a música e Rhysand se juntou a ele, devia ser uma música Illyriana. Distribuímos a carne entre nós e observamos as estrelas com música e o fogo crescente que não conseguia combater o frio daquele relevo. Então eu senti algo estranho, como se soubesse que em certo lugar, um espaço se tornasse outro, então Rhys se levantou de súbito, com uma espada na mão, Cassian foi o próximo e logo todos estávamos em pé.
Observei a direção que Rhys encarava, era a mesma que eu tinha tido aquele sentimento estranho e, das sombras para a luz vimos um corpo tomar forma e ser possível identificar uma mulher. Ela era alta, com a pele morena e longos cabelos negros, os olhos, porém, brilhavam como lâmpadas verdes. Ela estava com poucas roupas, expondo o corpo voluptuoso e todas as armas que carregava consigo.

- Esperei muitos anos por esse momento, mas me pediram que eu fosse direta. Então, garota.

Ela olhou para mim.

- Você virá comigo.

Daph ficou na minha frente, lentamente cada um foi assumindo uma posição de ataque ou defesa. A garota rolou os olhos e depois sorriu.

- Bem, será do jeito difícil então. Vamos tentar não causar muito dano.

Ela sacou uma adaga de um cinto em sua perna e a lançou. Não entendi bem o que aconteceu em seguida. Podia entender que estavam saltando e atacando, mas a garota era rápida, muito rápida e conseguia se esquivar, ela girava e esquivava, vi cada um ir para ela e se alternar nos ataques, eles pareciam ir com tudo que tinham de si e ainda não chegavam a tocar nela até conseguirem, eles tinham ela nas mãos.

- Você não vai levar ninguém.

Mor falou com os dentes cerrados e eu senti aquilo de novo.

- Tarde demais.

A garota respondeu e mãos me puxaram para trás.

Quando abri meus olhos ainda sentia a agonia de estar caindo para trás então estava sufocada, mas logo percebi que eu estava sentada, em uma cama. Tudo estava escuro, mas senti o ambiente mais úmido e abafado, como se nenhuma luz pudesse entrar ali, podia enxergar alguns contornos então afastei as cobertas e me levantei, meus pés entraram em contato com pedra fria e lisa o que fez com que me tremesse por inteiro.

- Finalmente acordou, novata?

Não pude identificar que tipo de pessoa seria pela voz que ecoava levemente. O quarto não devia ser pequeno.

- Quem é você?

Me encolhi pelo frio que subia pelos pés me abraçando.
Escutei o farfalhar de roupas e o que provavelmente seria um passo. Tinha me acostumado com a audição aguçada, mas não reparei muito em diferenciar todos os sons.

- A pergunta mais adequada seria, quem é você. Desse mundo não é, então, de que mundo?

Girei pois a voz já não parecia vir de uma só direção, mas de todas. Fechei os olhos e me concentrei.

- Como pode saber se não sou daqui se nunca nos encontramos antes?

- Exatamente por isso. Por anos monitorei cada um aqui. Neste continente e então você surge, do nada. Qual o seu mundo, garota?

Senti a ameaça em cada palavra, se foi alguém capaz de monitorar as pessoas naquele lugar, tinha poder. Certamente era a pessoa relacionada àquele illyriano que surgia e desaparecia e àquela garota que foi capaz de lutar contra a corte dos sonhos. Pensei. Em momento algum eles tentaram me matar e claramente estavam atrás de mim, então conter a informação seria o que garantiria minha vida.

- Por que eu deveria dizer qualquer coisa para alguém que sequer tem coragem de mostrar o rosto?

Então luzes se acenderam e tive que fechar meus olhos pelo incômodo e quando finalmente me adaptei a pessoa que eu vi era o exato retrato da voz, não poderia identificar um homem ou mulher, tinha os cabelos curtos, postura perfeita, um rosto bonito e roupas elegantes, segurando uma bengala que certamente nada tinha haver com a idade.

- E agora, garota?

Engoli em seco, nenhuma arma, nenhum segurança, ou aquela pessoa não me considerava ameaça ou ela estava segura de que ela seria a maior ameaça.

- Tudo bem, não sou desse mundo. Mas o que você tem com isso? Por que fica me perseguindo? O que quer de mim?

A pessoa me analisou, então deu um passo e conforme falava se aproximava mais.

- Quarenta e seis pessoas e por séculos, mais nenhuma. Quarenta e seis e acreditamos que não haveria mais nenhuma. Então você surgiu. Então, menina, você é da Terra?

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