Capítulo Um: Dilúvio

5.2K 463 199
                                    

08/12/2020

Era uma noite complicada para Louis, principalmente porque o trabalho no bar daquela maldita boate estava insustentável, não existia maneira fácil de acabar com seu sofrimento, sabia exatamente o que fazer. Teria que pedir sua demissão.

Todo o problema começou quando sua família intolerante decidiu caçá-lo como em uma caça as bruxas depois que assumiu sua transexualidade. Eles estavam determinados a acabar com o pouco de paz que ainda lhe restava e pareciam dispostos a qualquer idiotice para isso, e foi assim que seu emprego se tornou o lugar menos seguro possível para continuar existindo. Ele lembra do dia em que sua intimidade foi exposta para todos seus colegas de trabalho, aquela memória era tão viva em sua mente que parecia uma cena de alguma série que sempre estava se repetindo em looping infinito.

Seu novo endereço continuava seguro e em segredo, pelo menos isso. Louis gostou de saber que seu chefe e supervisor não quiseram contribuir com seus pais, mas sabia que aquele emprego não era algo que poderia ser mantido, não depois de tudo. Tinha sorte de ter seu melhor amigo nessas horas, porque morar com Niall tornava tudo um pouco mais fácil, como se fosse possível amenizar toda a merda que vem acontecendo em sua vida. Mas ainda tinha esperanças, afinal.

Louis nunca reclamou por ter sido adotado, mas agora a ideia de ter permanecido no abrigo parecia um pouco mais atrativa. Não, não era justo pensar assim. Ele tem que reconhecer que teve uma boa vida enquanto criança, ninguém merece crescer em um abrigo. Ele afastou esses pensamentos enquanto caminhava devagar para fora de um dos banheiros da boate, enxugando as insistentes lágrimas porque precisava manter o rosto apresentável para os clientes. Percebeu o corredor vazio e agradeceu mentalmente por não precisar lidar com nenhum cliente bêbado, principalmente porque ainda tinha alguns minutos de intervalo antes de precisar voltar a atender e pretendia respirar um pouco de ar fresco. Não existia qualquer outra coisa interessante para fazer, mas sair um pouco daquele lugar cheio de gente parecia atrativo.

Louis apressou um pouco os passos ao perceber que o corredor estava começando a ficar mais movimentado, e estava realmente preocupado em não ser notado. Ele estava uniformizado e não queria precisar lidar com nenhuma chamada de atenção por estar usando o banheiro errado. Deveria estar usando o banheiro dos funcionário, mas depois que descobriram sua antiga identidade aquele não era mais um lugar seguro.

Louis resmungou ao que esbarrou contra um corpo forte por não estar olhando para frente, e sua primeira reação – depois de xingar – foi se desculpar pelo transtorno, mas percebeu que não conseguia se mexer ao sentir a mão firme do homem em seu braço, o mantendo perigosamente perto. — Está tudo bem? Você se machucou? — O corpo de Louis tremeu ao ouvir a voz forte e levemente rouca. Ele não queria parecer tão afetado, mas parecia inevitável, e a preocupação sincera exposta na voz, aquilo amoleceu suas pernas instantaneamente.

— Estou bem, sim. — Ele ergueu seus olhos azuis até encontrar os verdes brilhantes do outro rapaz. E caralho, esse é o paraíso, então? Louis se permitiu pensar enquanto tentava se libertar da hipnose que sofreu ao manter o contato com aquele olhar penetrante. — Desculpa por isso, uh? Eu não estava prestando atenção. Você está bem?

— Estou. — O homem de nome ainda desconhecido levou a mão até o rosto do garoto, sabendo que aquela era uma atitude um tanto ousada e quem sabe até invasiva, mas não estava se importando muito com isso. Estava apenas enxugando uma lágrima solitária que se fez ser notada. — Tem certeza de que está tudo bem? Não parece.

— É só um dia difícil. — Louis resmungou mesmo sabendo que não deveria abrir seus problemas para um completo desconhecido, mas todo aquele charme estava nublando seus pensamentos. — Um dia muito difícil.

— É o que vejo. — O homem pareceu sincero. — Você precisa de algo? Um abraço, ou quem sabe um beijo? — O sorriso cafajeste que nasceu nos lábios carnudos e avermelhados fez a pele de Louis acender como fogo em contato com álcool. — Ouvi dizer que ajuda a melhorar o humor.

— Um beijo? — Louis não conseguiu evitar o sorriso que começou a nascer em seus lábios, não era todo dia que um cliente tão charmoso e atrevido estava disposto a ceder um pouco de sua atenção a um dos funcionários. E ele estava quase aceitando, implorando mentalmente para que o homem continuasse suas investidas por mais alguns segundos e então teria uma boa quantidade de motivos para ceder e não se culpar depois. — Um pouco ousado, não é? — Me mostre que você vale a pena, por favor. Pensou suplicante, quase revelando seus pensamentos pelo olhar cheio de expectativas que direcionava ao homem.

— Veja bem, querido. Você é um rapaz muito atraente. — Louis sentiu a mão firme segurando sua cintura e mais um 'bom motivo' foi acrescentado em sua lista. — E minha mãe sempre disse que um bom carinho não se nega a ninguém.

— Eu acho que não era desse tipo de carinho que a sua mãe estava falando, não é? — Eles sorriram ao mesmo tempo e os corpos se aproximaram ainda mais, como se isso fosse humanamente possível. — E a minha sempre disse que não devemos aceitar nada de estranhos, será que carinho está incluso nisso? — Ponderou, envolvendo o pescoço do homem em seus braços finos. — Infelizmente não tenho como descobrir isso agora, então. Uh, o que posso fazer, não é? Vamos entender que carinho de estranhos não está incluso nisso, o que acha? — Ele estava surpreso com o quão maliciosa sua voz soou no momento, mas não se importava. O sorriso que o homem abriu o deixava imune a arrependimentos, imune a qualquer coisa que o impedisse de se jogar de cabeça naquela nova sensação.

— Prometo ser um bom estranho pra você, gatinho. — Seu corpo foi escorado na parede e o choque contra o cimento gelado fez sua pele arrepiar e um gemido baixo escapar de sua garganta. — O que me diz?

E merda, não existia uma palavra sequer no extenso vocabulário de Louis que conseguisse explicar o quão amolecido seu corpo ficou com o toque do rapaz de olhos verdes. Sua pele parecia feita de gelatina. Estava agradecido pelo apoio que os braços firmes lhe proporcionaram, afinal, os músculos que sustentam suas pernas não faziam questão alguma de mantê-lo firme.

Sobre.viver ➳ l.s |▸ trans!louis | Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora