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Capítulo Vinte e Cinco: Sonetos

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Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um solitário andar por entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;

é servir quem vence, o vencedor;é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 

- Sonetos, Luís de Camões.

07/02/2022

— Nós vamos conseguir ouvir o coração deles, Harry? — Louis questionou, observando o namorado se aproximar da maca, vestindo seu jaleco, porque estava em plantão médico. Contudo, conseguiu liberação para acompanhar o ultrassom do namorado. Isaac também estava no consultório, seus olhinhos curiosos não entendiam muito bem o que estava acontecendo, mas parecia tranquilo, até mesmo porque seus pais estavam transmitindo essa tranquilidade, o sentimento bom.

— Sim, abelhinha. Nós vamos conseguir ouvir os corações. — Disse, dando ênfase no uso do plural, orgulhoso por ter engravidado o namorado de gêmeos. Louis sorriu, ainda deitado. Sua mão alisando de maneira preguiçosa a barriga já bem evidente. — Sua nova médica me tranquilizou sobre sua pressão arterial. Está tudo bem, vocês estão ótimos, mas os cuidados ainda vão permanecer, porque não queremos que isso se altere. — O rapaz de olhos azuis sorriu, ainda mais tranquilo, como se isso fosse possível. Seu coração também estava em paz depois de ter encontrado a obstetra perfeita para acompanhar sua gestação.

Ainda existia uma pequena tensão pairando no ar, porque ter uma médica responsável e empática não era a única coisa necessária para que a gestação pudesse seguir tranquila. Porém, a doutora sempre fazia questão de tranquilizar o casal, dizendo que sua equipe era escolhida a dedo, assim como as enfermeiras e o laboratório responsável pelos exames colhidos.

— Bem, querido. Você pode levantar um pouco sua camiseta? Nós vamos passar esse gel em sua barriga, e como deve saber, é gelado. — Uma leve risada em tom de compreensão foi emitida por Louis, que no minuto seguinte já tinha sua pele exposta, pronta para receber o material gelado. 

Após o rápido desconforto do material em sua pele, Louis ficou atento a cada movimento que sentia sua obstetra, fazer com o aparelho de ultrassom. As imagens que se formavam no monitor pareciam borrões, mas por não estar no início da gestação, quando seus gêmeos apareceram, tudo ficou nítido, como um cristal reluzente aos seus olhos.

— Encontrei suas crianças. — Harry e Louis acabaram arregalando os olhos, e procurando um pela mão do outro, segurando com um pouco mais de força, os olhos encheram de lágrimas. — Estão preparados para ouvir os corações deles? — Eliza perguntou, mesmo imaginando a resposta. E, após receber a confirmação do casal, mexeu em algumas configurações do aparelho, e não demorou muito para que o consultório que antes era silencioso, foi abraçado por um ritmo forte e compassado dos corações.