Contradições

Capítulo 11 - Flertes e Bryan

PENELOPE

Jantar na casa de Mirna e Phillip era sempre algo a se preparar durante a semana. Primeiro porque você já deveria saber que comportamentos sérios e tristes era algo a ser excluído (deveriam falar isso para o engomadinho do Aaron). Segundo porque você saberia que a qualquer momento sua vida poderia ser exposta.

Mas esses dois pontos nunca me importaram, talvez o segundo, mas só existe uma parte da minha vida da qual não gosto de falar, e ela está tão bem guardada que nem mesmo Jaz sabe.

Então sim, jantares na casa dos Seymours eram minha parte favorita da semana. Termino de colocar a tarraxa do brinco minúsculo e organizo o rabo de cavalo solto, meio bagunçado antes de me inclinar para passar um brilho labial com cor rosa bem claro.

Olho de novo para o espelho e averiguo a roupa que eu escolhi para hoje, um vestido verde acima dos joelhos, justo no corpo, com uma meia calça preta e botas combinando. Jogo um casaco preto por cima e pronto, é isso.

Pego minha bolsa no meio do caminho e me abaixo para uma sonolenta Safira. Encaro sua expressão apaziguada e lhe dou um beijinho na cabeça antes de sair de fininho do apartamento.

Eu sei ok? Sei que é uma má ideia cuidar de outra pessoinha quando nem mesmo cuida de você. Mas é que ela é tão quietinha, e tem esse brilho no olhar me fazendo acreditar na inocência.

Ah droga, eu tinha que ficar com ela. E provavelmente deveria começar a escutar Aaron e seus conselhos uteis (mas não todos, é claro). Suspiro pesadamente e tranco a porta antes de me virar, pulo assustada quando vejo Aaron me observando e coloco a mão em cima do coração

- Caramba, você me assustou

- Desculpe, não foi minha intenção – eu tenho quase certeza que foi, a julgar por sua expressão taciturna e distante. Tiro a mão do peito e a deixo cair enquanto caminho em direção aos elevadores, ele vem atrás de mim e eu prendo a respiração quando ele se inclina para apertar o botão. Entramos em um silencio desconfortável e eu resolvo o cortar

- E então, nada de ossos humanos?

Olho para a expressão aborrecida de Aaron e percebo que talvez o corte tenha sido mais como um esfaqueamento em geral. Tento um sorriso inocente

- Foi mal, me arrependo totalmente por ter brincando sobre um assunto tão sério como esse

- É claro que você não se arrepende – ele resmunga e eu prendo um sorriso

É claro que eu não me arrependia

Foi engraçado ver a expressão irritada de Aaron. "Eu não me irrito fácil", uma ova que não se irrita.

- Tudo bem, me arrependo mais ou menos – eu falo e saio com os saltos das botas estalando no pavilhão enquanto nos dirijamos para a saída.

Tomo o caminho para o outro lado indo em direção aos taxis, mas paro quando Aaron me chama

- Te dou uma carona – ele diz e eu arqueio uma sobrancelha

- Acho que é melhor eu ir de táxi

- Nós vamos para o mesmo lugar Penélope, isso soa ridículo

- Tudo bem, vou ficar caladinha então – entro no carro depois que ele abre a porta do meu lado e passo o cinto me acomodando e fechando a boca.

Demora exatos cinco minutos antes que eu me ajeite no banco. Mas a culpa não é minha, e sim do cara que acabou de passar por nós. Mordo o lábio inferior e ouço Aaron suspirar ao meu lado enquanto passa a marcha

- Ah para com isso, fala de uma vez

- Certo – eu falo animada como se só estivesse esperando por isso. Ouço o que parece ser um riso abafado, mas não me viro para confirmar – Está vendo aquele carro ali na frente? A mercedes vermelha?

- Sim – ele diz e eu me viro quando sinto o tom de surpresa dele

- Aposto um chocolate quente que ele vai parar ali naquela rua a nossa frente, vai sair e ficar alguns segundos do lado do carro fingindo estar ajeitando a gravata – Aaron olha para mim como se me achasse louca, mas logo em seguida acena

- Um chocolate quente? Apostado

Aaron estaciona o carro e nós ficamos observando, e um minuto depois o cara faz exatamente o que eu disse. Dou risada e Aaron balança a cabeça enquanto volta a dirigir saindo da rua de onde estávamos

- Como você sabia? – ele pergunta e eu vejo logo a frente a mansão Seymour

- Sobre o cara? Fácil, homens que ostentam em carros como aquele só tem um objetivo em mente: Exibição – Aaron entra e quando para o carro nenhum dos dois se mexe, ele se vira para mim e arqueia uma sobrancelha

- Isso é interessante, mas eu estava me referindo a você saber que o carro era uma mercedes, tão de longe como estávamos

- Ah – eu falo e levanto um ombro – Meu pai trabalha em uma oficina, em vez de ler contos de fadas, ele mostrava o catalogo de carros a mostra.

- Uau

- É, era bem legal – eu falo e ignoro sua expressão surpresa enquanto tiro o cinto e desço do carro imediatamente sentindo o ar gélido da noite nos abraçando. Um segundo carro estaciona e eu reconheço como de Bryan, ele desce em um movimento fluido e eu dou risada quando ele se aproxima de mim e me dá uma piscadinha sensual

- E aí minha linda? – sua voz rouca me faz querer rir ainda mais, mas me contenho – Tenho que lhe dizer que você está parecida com um anjo essa noite

Aaron bufa atrás de mim e eu inclino minha cabeça para o lado, fingindo entrar nas brincadeiras de Bryan

- Um anjo? Verdade?

- Não poderia ser mais verdadeiro que isso – ele responde e seus olhos desviam quando ouvimos saltos estalando na porta de entrada. Uma mulher alguns anos mais nova que eu, com cabelos escuros soltos e visual estilo advogada com estilo, desce os poucos degraus e acena para nós. Aceno de volta, mas Bryan acha oportuno tentar outra abordagem

- Não sabia que iria encontrar tantas belezas hoje à noite, se não teria chegado mais cedo

Então a mulher faz a coisa mais estranha que eu já vi alguém fazendo com as cantadas de Bryan.

Ela o ignora

Acenando para mim e para Aaron ela segue o seu caminho sem dar nenhuma palavra e eu olho para Aaron, ele arregala os olhos para mim e eu dou risada quando me viro para um Bryan assombrado

- Ela acabou de me ignorar?

- Sim – eu falo ainda rindo e ele encara as costas da mulher que está quase passando pelos portões de ferro

- Mas que inferno – ele resmunga e Logan pergunta descendo os degraus

- O que foi?

- Nosso irmão acabou de levar um fora – Aaron responde cruzando os braços por sobre o peito

- Ah não, e eu não estava aqui para ver isso – Logan resmunga cruzando também os braços e eu fico admirada novamente com a semelhança deles três, e com a total diferença de personalidades.

Quase como se fizessem de proposito

Logan é irônico e sério ao mesmo tempo, Bryan é paquerador e leva tudo a diversão, Aaron é fechado e na maioria das vezes eu não o conseguia descrever, quase como se ele tivesse sempre a uma distância intocável, e só a família é que o conseguia aproximar por alguns minutos antes dele voltar para a sua capsula

Não que eu o julgasse, afinal eu mesma queria me isolar. Mas sabia o quanto me fazia mal isso.

- Quem era aquela? – Bryan pergunta me tirando dos devaneios, Logan abre a boca para responder, mas Phillip responde primeiro, da porta.

- Arabela Turner – ele faz uma pausa e com um sorriso arteiro ele continua – Sua futura assistente

Um silencio se faz entre todos nós e quem a quebra é Bryan

- Que porra