Capítulo 16 - Escolhas

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AARON


Olho para o teto pela segunda vez e praguejo baixinho.

Ah pelo amor de deus, era a Penélope do outro lado. A amiga da família e sua (talvez). E ele lhe devia um chocolate quente, certo?

Subo a mão e bato de novo, com um pouco mais de força.

A porta se abre e eu sem querer prendo a respiração vendo-a em um moletom cinza com os cabelos amarrados em um coque bagunçado. Penélope sorri e eu troco o peso de um pé para outro

- Olá – eu falo por fim e ela me observa

- Olá

- Eu te devo um chocolate quente, certo? – pergunto tentando soar despretensioso, Penélope arregala os olhos e abre mais a porta

- Verdade, já tinha me esquecido disso

- Podemos tomar aqui em um café na frente do prédio

- Tenho uma ideia melhor, você faz um chocolate quente depois de jantarmos – abro a boca surpreso e ela acena me convidando para entrar. Entro com passos hesitantes e olho surpreso para o apartamento com coisas simples, mas tão dela – Não fique surpreso por eu chama-lo para jantar, eu não poderia deixa-lo com fome, poderia?

- Na verdade, fiquei surpreso com o fato de você cozinhar – respondo colocando as mãos no bolso

- Ah eu não cozinho, eu engano – ela responde e vai até o balcão pegando dois pratos. Safira corre entre minhas pernas e eu me abaixo fazendo um carinho em sua cabeça

- E porque você acha que eu sei fazer chocolate quente? – pergunto curioso e ela levanta um ombro

- Sei lá, você parece ser esse tipo de cara que sabe fazer a maioria das coisas – Penélope comenta e vejo fascinado suas mãos deslizarem arrumando a mesa enquanto traz uma travessa cheirando a algo incrível e colocando no meio

E ela faz tudo isso como se fosse algo normal e cotidiano

Então eu duvido que ela engane na cozinha

- Podemos? – ela pergunta e eu vou até ela, a mesa em formato redondo com quatro cadeiras faz com que eu fique indeciso onde sentar. Mas é Penélope se sentando em uma cadeira no meio que faz com que eu me sente ao seu lado. Ela sorri e me serve, assim que os dois pratos estão prontos na nossa frente e minha boca esteja salivando com fome ela faz um movimento com a mão me impedindo – Tenho que pedir uma coisa

- O que?

- Você vai ter que fingir que está bom – ela diz e eu arqueio uma sobrancelha, ela vê e revira os olhos – Estou falando sério, minha comida nem de longe é parecida com os jantares da casa dos seus pais

- Você que fez o jantar, não porque foi forçada, mas porque quis. Ganha pontos por isso, não? – eu pergunto simplesmente e ela estreita os olhos

- Não sei

- Penélope?

- Sim?

- Eu estou com fome – eu admito e ela sorri lindamente

- Eu sei, você sempre está com fome – pisco com essa afirmação nada inocente e ela percebe – Percebi isso

Abro a boca para falar, mas não consigo pensar em nada inteligente. Então eu a fecho para não parecer mais idiota e pego o garfo olhando para ela, Penélope acena e eu coloco uma garfada de tudo um pouco na boca.

Mastigo com a expressão cuidadosamente limpa e vejo ela comendo também, mas me observando com o canto do olho.

- Isso está muito bom Penélope

- Ok – ela fala levantando um ombro e eu bato com o cabo do garfo em seu braço, ela se vira e eu dou um sorriso

- Está muito bom mesmo

Ela fica um minuto em silencio e eu vejo quando seu corpo relaxa, ela sorri de volta e seus olhos brilham um pouco

- Agora eu sei que está dizendo a verdade

- Porque? – eu pergunto confuso

- Porque você sorriu, e diferentemente de outros sorrisos seus, esse é verdadeiro – ela diz como se não fosse nada demais e eu tenho que me forçar a focar em algo que não seja ela.

Continuamos comendo em silencio e a não ser por algumas vezes termos que pararmos para falar com Safira e sobre ela não mastigar o travesseiro, o apartamento fica em um silencio confortável.

Nos levantamos na mesma hora e eu pego seu prato ignorando-a dizendo que poderia lavar.

- Você fez o jantar, eu ajudo com a louça – eu falo e ela revira os olhos

- Então eu enxugo

- Isso não é muito justo, você fez sozinha o jantar

- Mas você vai fazer o chocolate quente – ela ressalta e eu aceno lentamente

- Tudo bem, então é justo

Ela dá risada e começa a organizar colocando o que é para lavar na pia. Começo e ela fica ao meu lado auxiliando e enxugando

E de alguma forma isso é tão prazeroso quanto qualquer outra coisa.

E de alguma forma eu sei que estou ferrado

ContradiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora