Capítulo 13 - Portas na Parede

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AARON


- Acho que essa parede pode ser derrubada no final das contas – eu falo para o arquiteto, ele assente anotando no seu caderno e eu suspiro olhando ao redor tentando ver mais alguma coisa que deixei passar – Aquela janela poderia ser maior? Não acho que seja legal uma sala escura

- Claro, vou falar com eles

- Obrigada, por enquanto acho que é só isso – eu falo colocando as mãos dentro do bolso. Me viro para a porta e meus passos diminuem por si próprios quando vejo Penélope entrando pela porta meio emperrada, ela tira o capuz da cabeça e vejo seus cabelos claros úmidos da chuva.

Ela nem parece se importar com isso, no entanto, somente joga seus cabelos para trás e coloca a bolsa e o que parece ser uma revista em cima de uma mesinha que eu deixei somente para jogarmos algumas coisas quando precisarmos. Ela tira a câmera fotográfica de dentro com todo o cuidado e vejo suas mãos oscilarem um pouco antes de fecha-las em punhos.

Parece que isso é o bastante para que elas voltem ao normal, Penélope se levanta e caminha em minha direção, me vendo ela para a uma distância segura.

- Olá – ela finalmente diz e eu aceno

- Olá

- Vim cumprir minha carga horária

- Tipo faculdade?

- Não, tipo serviço comunitário – ela explica e eu estreito os olhos – Em vez de ir para a prisão, sabe?

Arqueio uma sobrancelha e ela ri, obvio.

- Estou brincando com você sr. Seymour – contenho um estremecimento e pigarreio dando a volta e seguindo para as escadas

- Estou indo averiguar o segundo andar

- Ok – ela diz e fica parada no meio do salão, olho para ela contendo um sorriso

- Falei isso no intuito de você vir comigo

- Ah tá – ela diz estalando os dedos – Você precisa ser mais claro, as vezes minha mente me trai e tudo mais

Balanço a cabeça e subo na frente, passamos por corredores abandonados e futuros quartos destinados cada qual com animais diferentes. Entro na sala maior e abro a porta que range com o movimento repentino.

- Sabe, era bom passar um óleo – Penélope comenta divertida – Essas portas rangendo desse jeito parece daqueles filmes de terror

- O bom é que já temos os cadáveres – eu comento e fecho os olhos rapidamente me arrependendo. Já Penélope entra na minha frente com os olhos brilhando

- Isso foi uma tentativa de piada?

- Não foi uma tentativa, foi uma piada – ela faz uma expressão duvidando, e eu cruzo os braços por sobre o peito – Não temos cadáveres Penélope

- Você que acha – ela diz e se volta para o lugar vazio, colocando a câmera em posição ela tira duas fotos e depois coloca a maquina por volta do seu pescoço – Essa sala iria ser legal para aquelas apresentações de adoção

- O que quer dizer? – eu pergunto curioso e ela levanta um ombro

- Ah você sabe, onde os futuros donos ficam aqui esperando e a gente traz o futuro companheiro ou companheira deles – Penélope fala suavemente e eu pisco fascinado. Sim, aquela era boa ideia – As paredes podiam ser claras com desenhos meios rabiscados, e teria travesseiros e petiscos, e um escorregador

- Escorregador? – eu pergunto confuso e ela se vira piscando um olho para mim

- Falei só para ver se você estava prestando atenção

- Eu estou prestando atenção – afirmo roucamente

- Eu sei – ela responde e me olha por um segundo antes de suspirar e ir até o outro lado. Seus olhos se movimentam a todo instante captando tudo e eu tento fazer o mesmo. Imaginando essa sala como ela imaginou: Um lugar de primeiros encontros emocionantes – O que é isso?

Sua pergunta me tira dos devaneios e eu me viro em sua direção, ela está em frente ao que parece ser uma porta se fundindo com a parede. Até mesmo a cor azul fosca estava igual, e se não fosse por um pedaço do papel de parede saindo, nós nunca teríamos achado.

Me aproximo e pego um canto tentando puxa-lo para frente, a porta geme, mas não abre, tento de novo e resmungo quando não mexo nada. Penélope estreita os olhos e cutuca meu ombro

- Tente para frente e não para trás – ela fala e eu escuto fazendo o que ela diz. A porta se abre e eu arqueio uma sobrancelha por cima do ombro

- E como você sabia disso?

- Simples, as passagens secretas tem sempre uma codificação especial. Um botão secreto, um candelabro dourado por baixo de uma teia de aranha, um toque de mão – olho para ela confuso e ela ri – Desculpe, me animei

Suspiro e olho para dentro, ligo a lanterna do celular e entro, ao não ver Penélope atrás de mim, eu me viro. Ela começa a sacudir a cabeça negando

- Não vou entrar aí de jeito nenhum

- Tem medo de fantasmas? – eu pergunto com sarcasmo e ela cruza os braços parecendo chocada com a minha pergunta

- Claro que não

- Então qual é o problema? – pergunto e me viro caminhando em direção a algum lugar da casa. Ouço os passos hesitantes de Penélope e me permito sorrir para mim mesmo

Caminhamos por alguns segundos antes que outra porta apareça a nossa frente. Penélope vem para o meu lado e mesmo nesse corredor abafado e com cheiro de mofo, eu sinto o seu perfume, suave e marcante de alguma forma estranha

- Será que vamos encontrar um tesouro? – ela pergunta batendo palmas e eu reviro os olhos

- Está mais provável que encontremos mais um quarto que precisamos reformar – comento rabugento e estendo a mão para abrir. A porta se abre depois de dois empurrões e vejo Penélope desanimar quando se vê diante de uma sala pequena e sem janelas

- Que sem graça

Me viro para responder, mas paro quando vejo algo em Penélope

- Ahn Penélope, o seu cabelo, ele... – eu paro sem saber como continuar e ela se vira para mim fazendo uma careta

- O que? Nós acabamos de passar por um corredor cheio de poeira. Deveria ver o seu

Faço uma careta por ser comentário e me aproximo hesitante. Ela me percebe estendendo as mãos e arregala os olhos

- Ai meu deus, é uma aranha, não é?

- Sim – eu respondo com uma nota de pesar, espero os gritos e os tapas, mas só o que ela faz é fechar os olhos e continuar paradinha

- Tira por favor

Franzo a testa intrigado, mas me inclino pegando a aranha tarântula do seu cabelo. A aranha sobe em minha mão e eu a pego com um movimento, segurando-a, com a outra mão toco o queixo de Penélope e ela abre os olhos

- Já peguei – eu falo e recolho a mão demorando um minuto a mais. Ela suspira aliviada e olha dando um passo atrás quando vê a aranha quietinha em minha mão – Ela é inofensiva Penélope

- Eu também sou e não tenho essa aparência

E é isso

Começo a rir alto e vejo quando Penélope arregala os olhos sorrindo, demora dois minutos antes que eu consiga controlar meu riso. Ignoro o olhar de Penélope sobre mim e saio com o riso ainda incontido pela porta normal segurando a aranha na palma da mão.

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