Capítulo 14 - Sorrisos e Adoções

4.7K 552 59
                                    

PENELOPE


Sabe quando você passa a semana inteira triste e solitária, ficando desanimada sobre qualquer coisa e do nada, em um dia comum, onde as pessoas estão indo trabalhar e as crianças estão indo para a escola você sorri com o primeiro raio de sol que viu enquanto andava pela calçada ou olhava pela janela?

Sabe esse sorriso? Esse mesmo, esse que te tira tudo e que te faz suspirar feliz

Aaron acabou de me dar um vislumbre disso.

Ele tinha rido e seu sorriso era lindo, dentes brancos e tudo mais. Mordo o lábio enquanto o sigo pelos corredores e tardiamente me lembro de tirar algumas fotos.

Desço o ultimo degrau e guardo de novo a câmera fotográfica, abro a boca para falar com Aaron, mas paro quando vejo uma senhorinha sentada com a minha revista na mão passando as folhas enquanto está muito bem sentada no banquinho meio frágil

Aaron me olha tão confuso quanto eu. Dou um passo a frente e pigarreio, a senhorinha levanta o olhar e sorri animadamente para nós.

- Olá – eu falo cumprimentando

- Olá querida

- Me desculpe, mas porque a senhora está sentada aí? – eu pergunto e ela me olha confusa

- Não é uma sala de espera?

- Não – eu falo e Aaron se aproxima com um sorriso divertido, mas nem mesmo próximo do sorriso que ele me deu lá em cima – Porque achou isso?

- Tinha uma cadeira e uma revista, achei que era – ela responde e eu tusso ocultando o riso. A senhorinha se aproxima e estende a mão para Aaron – Meu nome é Molly – ela diz para ele – Você deve ser o doutor Seymour

- Me chame de Aaron – ele diz suavemente e ela sorri se virando e pegando minha mão

- E você deve ser a sra. Seymour

- Não – eu falo rapidamente soltando um riso nervoso – Sou só a... – Paro pensando e depois decido – Amiga

Molly sorri maliciosamente e eu vejo que cometi um erro me chamando de amiga. Aaron me olha e eu desvio o olhar.

- Bom, eu vim por que eu soube que você estava doando lindos cachorrinhos – Molly diz e o sorriso de Aaron se torna mais acolhedor

- Sim, dois filhotinhos

- Maravilha, e só para confirmar, sou uma ótima pessoa, sua mãe Mirna pode confirmar – ela diz colocando a mão sobre o peito.

- Tudo certo – Aaron diz e para hesitante – Antes de leva-la até eles, poderia ir na frente naquela direção? – ele aponta para o corredor da frente e ela sorri caminhando lentamente para lá. Olho confusa para ele que estende a mão com a aranha, ofego me afastando

- Credo, onde você tinha escondido ela?

- No bolso – ele diz simplesmente e estende a mão para mim - Segure-a para mim, prometo voltar rápido

- Nem pensar – eu falo rindo e ele franze a testa

- Não posso ir com ela até Molly, ela irá se assustar com a aranha

- Ah e eu não estou assustada? – eu pergunto ironicamente e ele inclina a cabeça, resmungo e aponto para a parede – Coloque ela ali, talvez ela até encontre novos amigos

- Penélope...

- Aaron eu não segurar essa aranha

- Ela é inofensiva, diferentemente de você, é claro – ele diz em tom sério e eu faço uma careta

- Vá para o inferno sr. Seymour

Os olhos de Aaron se tornam duas fendas intensas e minha respiração fica presa. Querendo me livrar o mais rápido que posso estendo a mão fria em direção a aranha, Aaron me observa enquanto coloca e eu contenho um estremecimento, mais pela aranha do que pelo toque calmante de Aaron

- Viu? Nem doí – ele diz e eu olho com raiva para ele, que sorri e se vira indo em direção a Molly.

Olho ameaçadoramente para suas costas e depois me viro hesitante para a aranha quietinha na minha palma. Demora alguns segundos antes que meu braço comece a ficar dormente com a posição acirrada, movo um dedinho e solto um gritinho quando ela começa a se mexer

- Aaron – eu sussurro e ela chega na metade do meu braço – Aaron, seu desgraçado – eu falo de novo e nada, a aranha chega ao meu ombro e parece gostar ficando parada.

Solto a respiração lentamente e fico parada encarando suas patinhas peludas e estranhas. Minutos depois Molly sai com seus dois filhotinhos e acena animadamente em minha direção, dou um sorriso tenso e continuo parada.

- Ela acabou de fazer uma doação bem grande para o projeto – Aaron diz como se não houvesse uma aranha pendurada como um papagaio no meu ombro – Acho que aquela sua ideia poderá ser colocada em pratica se continuarmos assim

Aaron para a minha frente e franze a testa quando não a vê na minha mão, pisco lentamente e seus lábios tencionam antes dele pegar a aranha tão cuidadosamente que nem ao menos sinto o seu toque. Vejo-a na palma de sua mão e solto um suspiro

Me sentindo como eu mesma, ajeito a câmera no meu ombro e olho para Aaron

- Eu não demor...- ele começa, mas para quando eu o soco na barriga, ele ofega se inclinando – Porra Penélope

- Você acabou de xingar? – eu pergunto surpresa e ele me encara com raiva

- Você acabou de me dar um soco!

- Bem feito, merecia bem mais depois de me deixar com essa aranha estranha com cara de assassina.

- É um filhote – ele fala como se fosse obvio

- Dane-se, continua sendo aranha

Aaron resmunga algo que eu não consigo escutar, dou de ombros e vou até a minha bolsa. Pego ela junto com a revista, mas acabo desistindo e deixo a revista

Sala de espera provisória então

Sem me despedir dou meia volta e saio pela porta colocando o capuz.

ContradiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora