PENELOPE
Sabe quando você passa a semana inteira triste e solitária, ficando desanimada sobre qualquer coisa e do nada, em um dia comum, onde as pessoas estão indo trabalhar e as crianças estão indo para a escola você sorri com o primeiro raio de sol que viu enquanto andava pela calçada ou olhava pela janela?
Sabe esse sorriso? Esse mesmo, esse que te tira tudo e que te faz suspirar feliz
Aaron acabou de me dar um vislumbre disso.
Ele tinha rido e seu sorriso era lindo, dentes brancos e tudo mais. Mordo o lábio enquanto o sigo pelos corredores e tardiamente me lembro de tirar algumas fotos.
Desço o ultimo degrau e guardo de novo a câmera fotográfica, abro a boca para falar com Aaron, mas paro quando vejo uma senhorinha sentada com a minha revista na mão passando as folhas enquanto está muito bem sentada no banquinho meio frágil
Aaron me olha tão confuso quanto eu. Dou um passo a frente e pigarreio, a senhorinha levanta o olhar e sorri animadamente para nós.
- Olá – eu falo cumprimentando
- Olá querida
- Me desculpe, mas porque a senhora está sentada aí? – eu pergunto e ela me olha confusa
- Não é uma sala de espera?
- Não – eu falo e Aaron se aproxima com um sorriso divertido, mas nem mesmo próximo do sorriso que ele me deu lá em cima – Porque achou isso?
- Tinha uma cadeira e uma revista, achei que era – ela responde e eu tusso ocultando o riso. A senhorinha se aproxima e estende a mão para Aaron – Meu nome é Molly – ela diz para ele – Você deve ser o doutor Seymour
- Me chame de Aaron – ele diz suavemente e ela sorri se virando e pegando minha mão
- E você deve ser a sra. Seymour
- Não – eu falo rapidamente soltando um riso nervoso – Sou só a... – Paro pensando e depois decido – Amiga
Molly sorri maliciosamente e eu vejo que cometi um erro me chamando de amiga. Aaron me olha e eu desvio o olhar.
- Bom, eu vim por que eu soube que você estava doando lindos cachorrinhos – Molly diz e o sorriso de Aaron se torna mais acolhedor
- Sim, dois filhotinhos
- Maravilha, e só para confirmar, sou uma ótima pessoa, sua mãe Mirna pode confirmar – ela diz colocando a mão sobre o peito.
- Tudo certo – Aaron diz e para hesitante – Antes de leva-la até eles, poderia ir na frente naquela direção? – ele aponta para o corredor da frente e ela sorri caminhando lentamente para lá. Olho confusa para ele que estende a mão com a aranha, ofego me afastando
- Credo, onde você tinha escondido ela?
- No bolso – ele diz simplesmente e estende a mão para mim - Segure-a para mim, prometo voltar rápido
- Nem pensar – eu falo rindo e ele franze a testa
- Não posso ir com ela até Molly, ela irá se assustar com a aranha
- Ah e eu não estou assustada? – eu pergunto ironicamente e ele inclina a cabeça, resmungo e aponto para a parede – Coloque ela ali, talvez ela até encontre novos amigos
- Penélope...
- Aaron eu não segurar essa aranha
- Ela é inofensiva, diferentemente de você, é claro – ele diz em tom sério e eu faço uma careta
- Vá para o inferno sr. Seymour
Os olhos de Aaron se tornam duas fendas intensas e minha respiração fica presa. Querendo me livrar o mais rápido que posso estendo a mão fria em direção a aranha, Aaron me observa enquanto coloca e eu contenho um estremecimento, mais pela aranha do que pelo toque calmante de Aaron
- Viu? Nem doí – ele diz e eu olho com raiva para ele, que sorri e se vira indo em direção a Molly.
Olho ameaçadoramente para suas costas e depois me viro hesitante para a aranha quietinha na minha palma. Demora alguns segundos antes que meu braço comece a ficar dormente com a posição acirrada, movo um dedinho e solto um gritinho quando ela começa a se mexer
- Aaron – eu sussurro e ela chega na metade do meu braço – Aaron, seu desgraçado – eu falo de novo e nada, a aranha chega ao meu ombro e parece gostar ficando parada.
Solto a respiração lentamente e fico parada encarando suas patinhas peludas e estranhas. Minutos depois Molly sai com seus dois filhotinhos e acena animadamente em minha direção, dou um sorriso tenso e continuo parada.
- Ela acabou de fazer uma doação bem grande para o projeto – Aaron diz como se não houvesse uma aranha pendurada como um papagaio no meu ombro – Acho que aquela sua ideia poderá ser colocada em pratica se continuarmos assim
Aaron para a minha frente e franze a testa quando não a vê na minha mão, pisco lentamente e seus lábios tencionam antes dele pegar a aranha tão cuidadosamente que nem ao menos sinto o seu toque. Vejo-a na palma de sua mão e solto um suspiro
Me sentindo como eu mesma, ajeito a câmera no meu ombro e olho para Aaron
- Eu não demor...- ele começa, mas para quando eu o soco na barriga, ele ofega se inclinando – Porra Penélope
- Você acabou de xingar? – eu pergunto surpresa e ele me encara com raiva
- Você acabou de me dar um soco!
- Bem feito, merecia bem mais depois de me deixar com essa aranha estranha com cara de assassina.
- É um filhote – ele fala como se fosse obvio
- Dane-se, continua sendo aranha
Aaron resmunga algo que eu não consigo escutar, dou de ombros e vou até a minha bolsa. Pego ela junto com a revista, mas acabo desistindo e deixo a revista
Sala de espera provisória então
Sem me despedir dou meia volta e saio pela porta colocando o capuz.

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Contradições
RomancePenélope Warren sabe que provavelmente é uma péssima ideia se mudar, mas também sabe que o prédio em que morava está caindo aos pedaços e que ela foi praticamente expulsa pelo dono do prédio. Então não resta dúvidas de que escolher outro lugar para...