Capítulo 20 - Terra

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PENELOPE


Meu corpo inteiro está devaneando

Minha cabeça está pesada demais

Meus músculos estão me sufocando

E minha respiração simplesmente não está controlada.

Coloco a mão na garganta e apoio meu corpo de encontro a bancada da cozinha, minhas mãos geladas deslizam e batem no copo de vidro o derrubando fazendo um som que repercute pelo meu corpo inteiro.

Tento me concentrar, porque sei que isso iria me ajudar. Mas a minha visão está borrada demais.

Me ajoelho no chão e puxo uma, duas respirações antes de desistir e apertar as unhas de encontro a pele da palma

- Penélope? – a voz de Aaron soa distante em meus ouvidos e mesmo assim eu sei que ele não devia me ver assim. Então fico paralisada no lugar – Penélope? Eu ouvi um barulho, você está bem?

Continuo em silencio esperando que ele vá embora e quando fecho os olhos me perco. Flutuo para longe, não vendo mais nada, nem sentindo mais nada, nem mesmo o carinho que Safira está fazendo em minhas mãos.

Engasgo com a falta de ar e algo cai a minha frente fazendo com que eu o sinta em todos os meus ossos. Olho para frente e vejo Aaron de olhos arregalados e com as mãos na minha frente, mas sem me tocar

- Hey, olha para mim – ele diz e sua voz entra na minha cabeça, fecho os olhos apreciando o som – Não meu bem, olhe para mim

Pisco e olho para frente, ele acena e estende as mãos

- Está me vendo? Estou aqui na sua frente – ele diz e meu peito aperta – Estou aqui com você

Engulo em seco e tomo uma respiração pela boca, o ar chega em meus pulmões e eu consigo controlar minhas batidas desenfreadas. As lágrimas pinicam por trás dos meus olhos e eu ofego

- Sim, meu bem, está tudo bem – Aaron diz em voz baixa, abro os punhos testando, as palmas de minha mão estão vermelhas por conta das unhas. A mão de Aaron aparece na minha frente e eu a toco com cautela, ouço ele suspirando e um minuto depois estou em seus braços sendo segurada com tanta força que talvez o tenha sentindo por inteiro

Mas não reclamo

Porque bem ali, eu estava caindo em terra de novo. Onde eu pertencia.


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- Você me assustou – ele diz baixinho em meus cabelos e eu me forço a falar

- Sinto muito

- Está tudo bem – sua mão acaricia minhas costas. E eu fungo baixinho apoiando minha testa em seu peito – Você está bem? Quer que eu pegue algo para você?

- Não – respondo e me afasto, ele me aperta não me deixando sair e eu arqueio uma sobrancelha, ele puxa uma respiração e me solta lentamente. Seus lábios se franzem e eu me levanto testando minhas pernas.

Permaneço em pé e suspiro aliviada quando não desmaio. Meu pescoço range com o movimento e eu faço uma careta enquanto vou até o bebedouro e bebo um gole de água.

Me abaixo em seguida e começo a catar os caquinhos do copo e só na metade do processo é que olho para Aaron que permanece no mesmo lugar me observando com seus olhos intensos

- Já fez isso milhares de vezes, não foi? – ele pergunta baixinho e eu aceno afirmando, não confiando em minha voz – É transtorno de ansiedade Penélope, você sabe disso não sabe?

- Sei – falo simplesmente e jogo os cacos no lixo

- Penélope...

- Não comece – eu o corto e ele se levanta me encarando – É por isso que eu não falo a ninguém, pelo simples fato de que sei o que vão falar. Frases como "isso passa", "isso é besteira", "você precisa de um médico", e a minha preferida "você está mentindo, quem tem ansiedade não anda sorrindo por aí".

Aaron fica em um silencio e eu me viro para ele tentando controlar a raiva. Mas não era raiva dele... Tudo bem talvez um pouco de raiva dele.

- Olha, eu sinto muito mesmo – eu começo – Desculpa por ter te assustado e por ter falado tudo isso

- Penélope...

- Eu estou bem agora – eu falo e levanto o olhar assustada quando o vejo na minha frente, pegando meu rosto em suas mãos ele me encara irritado

- Dá para você parar um minuto? Eu estou querendo falar com você a horas e você não me deixa dizer que tudo bem.

- Eu já sei que está tudo bem Aaron

- Claro que sabe, é irritante o suficiente para que evite todo tipo de questionamento sobre você

- Ah, eu sou irritante? – eu falo e o empurro, ele se afasta suspirando aborrecido

- Sim, você é um maldito pé no saco. Satisfeita?

- Sim, muito, porque isso só me mostra o quão hipócrita você é, me cobrando algo que nem mesmo é problema seu

- É problema meu sim, eu posso ajudar – ele grita de volta – Aliás todo mundo da família pode ajudar, e nenhum deles vai te dizer o que deve fazer, e você sabe muito bem disso

- Eu não estou à procura de pena

- Jesus, quem disse que é pena Penélope? – ele fala exasperado e eu desvio o olhar

- Olha, essa conversa já foi longe demais – eu admito cansada – Obrigada pelo que fez, mas pode ir embora agora

Aaron me encara pelo que parece uma eternidade, continuo sem o olhar e minutos depois ele sai batendo a porta em seguida. Fecho os olhos inspirando pelo nariz e quando os abro de novo, vejo Safira me observando curiosa

- Vamos ficar bem, não é garota?

Safira me responde olhando para a porta, como se esperando que Aaron voltasse.

Mas ele não iria voltar

ContradiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora