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   As pontas de seus dedos estavam dormentes, por uma fração de segundos você se pegou pensando se realmente existia, se realmente estava ali, dentro daquela maldita sala de espera, correu os olhos até seus pés cobertos pelas botinhas amarronzadas, suspirou pesadamente, suas pontas estavam sujas de lama, sentia que se quem sabe olhasse muito para elas tudo ficaria bem, seu corpo estava procurando um sinal qualquer, qualquer sinal de que tudo ficaria bem.

   Não sabia ao certo quanto tempo havia passado desde que vocês chegaram, ou desde que Kenma os deixou na sala de espera. Estava inquieta, havia se levantado da cadeira ao menos cinco vezes, andava de um lado para o outro naquele enorme corredor que simplesmente parecia não ter fim, estava desesperada.

   — Ei — Suna lhe chamou enquanto segurava seu pulso fazendo com que você parasse de andar, seus olhos se encontraram, ele suspirou pesadamente, encolheu os ombros —, vamos comprar um chocolate quente, okay? Está meio frio, você precisa se esquentar.

   Ele murmurou enquanto esfregava a mão contra a sua como se tentasse esquentar ao menos um pouco a sua pele momentaneamente gelada, suspirou pesadamente antes de assentir devagar, o homem de cabelos escuros se levantou, entrelaçou os dedos aos seus, não demorou muito para que ele lhe arrastasse para longe da sala de espera em direção ao pátio do hospital, você fungou baixinho, encolheu os ombros os sentindo tremer de leve, estava realmente frio, talvez tivesse sido melhor pegar outra blusa antes de sair de casa.

   — Pode pegar um pacotinho daqueles cookies de chocolate também?

Você pediu com a voz baixa, Suna soltou um riso baixo antes de concordar com a cabeça enquanto arrancava o sobretudo preto e grosso de seu corpo os colocando sobre seus ombros, você piscou devagar surpresa o sentindo arrumar o sobretudo quente sobre seu corpo, segurou o tecido lhe puxando para mais perto, deixou um beijo suave em sua testa, sentiu sua pele dormente por alguns segundos, fechou os olhos devagar, ficaram daquele modo por alguns segundos até que ele se afastasse, abriu os olhos levantando o rosto suavemente o encarando ali, ele forcou um sorriso em lábios enquanto levava à mão até seus cabelos os arrumando suavemente.

— Claro que posso, Ma chérie, mais alguma coisa?

Você riu baixinho, encolheu os ombros.

— Aqueles biscoitinhos doces, que tem uma crosta de açúcar em cima.

— Certo, estou in...

— E os bolinhos de sorvete e um chocolate quente extra!

Você murmurou erguendo a voz, Suna arregalou os olhos suavemente, riu antes de franzir o cenho juntando as sobrancelhas, cerrou os olhos.

— Você está extorquindo o seu namorado?

— Exatamente, vá alimentar a sua garota, seja um bom marido.

Você murmurou deixando um soquinho fraco contra o peitoral do mais velho, ele soltou um riso soprado antes de arquear uma das sobrancelhas.

— Minha garota.

Ele repetiu segurando seu rosto com cuidado, deixou um beijo fraco contra seus lábios antes que lhe soltasse por fim andando até a máquina de alimentos. Você suspirou enquanto se sentava na mesa do refeitório do hospital, correu os olhos pelo local, alguns pacientes comiam em silêncio, outros conversavam.

Um hospital do câncer.

Era triste saber que muitas das pessoas que você estava vendo naquele momento provavelmente estavam em seu estado terminal, era mais triste ainda saber que Kenma precisava estar ali, ele precisava daquela medula, daquele transplante; seus olhos correram até Suna novamente ao que o homem voltou com algumas sacolas em mãos e um suporte de papelão com alguns chocolates quentes, se sentou ao seu lado na mesa, deslizou um dos copos em sua direção, você agradeceu baixinho o segurando por entre seus dedos o levando até seus lábios bebericando com cuidado.

Ficaram ali por pelo menos meia hora, Suna lhe acalmava, mesmo que naquele momento sua mente estivesse o mais completo caos ele sabia como lhe acalmar. Escutaram passos pesados por trás de vocês no momento em que você colocava os lixos das embalagens nas sacolas que o homem havia trago junto com ele, virou o rosto para trás se detendo com Lev, tinha uma feição completamente cansada em seu rosto, suspirou pesadamente antes de se sentar ao lado de vocês enquanto Suna levava um guardanapo aos seus lábios os limpando com cuidado, você agradeceu baixinho.

   — Alisa acabou de ser colocada no quarto, está de repouso.

   Ele murmurou com a voz baixa, você suspirou levando os olhos até Lev, encolheu os ombros.

   — Ela está bem? Falam que o transplante de medula dói.

   Lev bufou, deu de ombros.

   — Ela está sedada ainda, mas bem, não é uma pessoa forte para dor, provavelmente vai ter que ficar ao menos três semanas afastada do trabalho.

   — Ela é modelo da Chanel, não?

   Suna perguntou com a voz baixa, o homem de cabelos acizentados assentiu devagar, abriu um sorriso curto em seus lábios.

   — Ela disse que está feliz em finalmente poder ter férias mas eu tenho certeza que ela vai entrar em abstinência, aquela mulher ama o trabalho.

   Ele disse, você soltou um riso fraco por entre seus lábios, abaixou os olhos para os próprios dedos.

   — Claro que ela gostaria, ela é bonita.

   Disse com a voz baixa, Lev cerrou os olhos.

   — Você também é bonita, se quiser eu posso conversar com ela, ela poderia encontrar alguma vaga na...

   — Lev, não — Suna o cortou rapidamente, pousou a mão em seu ombro, você levou os olhos até o mais velho —, ela realmente é linda mas o sonho dela é ser artista, quando voltarmos para o Japão ela vai encontrar alguma coisa.

   Ele murmurou sorridente, você engoliu em seco sentindo seu peito pesar, não havia conversado com ele sobre o museu de artes.

   — Rinrin, sobre isso eu...

   Foi cortada no momento em que a voz de Kyoko se fez presente, passos apressados por trás de vocês, se viraram para trás rapidamente se detendo com a mulher de cabelos escuros, estava ofegante.

   — Acabou... a cirurgia acabou, Kenma está no quarto.

   Disse de maneira cortada pelo cansaço, você se levantou de maneira completamente desajeitada quase tropeçando nos próprios pés, sentia seu coração batendo quase que desesperado contra o próprio peito, correu para longe do refeitório até a sala de espera, o sobretudo preto de Suna balançava suavemente contra suas costas, sentia sua respiração acelerada, quase como se pudesse deixar seus pulmões a qualquer instante, se aproximou mais das cadeiras de espera se detendo com o médico rente a elas, segurava uma prancheta em mãos.

   — O kenma... como ele está?

   Indagou com a voz alterada, completamente ofegante, o médico sorriu antes de concordar devagar com a cabeça, você sentiu suas pernas tremerem de alívio, seu corpo caiu contra a cadeira, finalmente havia voltado a respirar normalmente, o médico coçou a garganta.

   — O corpo dele mostrou uma leve rejeição a medula de começo então mudamos a medicação por enquanto, o deixamos em coma induzido apenas por precaução — o homem murmurou, arrumou os óculos sobre seu nariz, volteou o olhar para a prancheta em mãos, suspirou —, como o corpo dele mostrou rejeição a única coisa que devemos nos preocupar é com os próximos meses, caso aja uma recidiva da leucemia, mas não devemos nos preocupar com isso por agora, o que importa é que o Sr. Kozume está bem, depois que seu corpo se estabilizar com a medula iremos retirá-lo do coma induzido.

   — Graças a deus.

   Você murmurou aliviada, sentiu Suna lhe abraçar com força, Kenma estava bem, era apenas isso que importava naquele momento.

𝐒𝐋𝐎𝐖 𝐃𝐎𝐖𝐍 ; suna rintarouOnde histórias criam vida. Descubra agora