17; A Nanopartícula da Música de Trabalho

29 2 0
                                    

Burro. Burro. Burro. Burro. Burro.
Mil vezes burro. Era o que Jace repetia em sua mente na tentativa de punir a si mesmo pelas suas atitudes impulsivas. Não podia acreditar na sua capacidade de consertar as coisas e depois estragá-las em menos de 24 horas.

Ele andava pelo shopping na tentativa de encontrar a garota sentada em algum banco, ou se escondendo dele. Mas foi em vão. Ela já devia ter ido embora. E com razão, já que mais uma vez ele havia estragado tudo. Como podia ter infligido a única regra que ela impôs? E pela segunda vez. Era tão fácil, apenas não beijá-la, um ato que passou anos sem fazer e de repente, seus lábios viraram imã, que atraia os dele com seu forte campo gravitacional da qual ele não podia escapar ou sair da órbita.

Era frustrante. Tudo o que estava sentindo, a grande confusão que se tornou seus sentimentos. Uma dor dilacerante no peito, como se seu coração precisasse pular para fora do peito com uma urgência imensurável.

O loiro sentou no primeiro banco vazio que avistou na área externa do shopping, precisa respirar, sentir o ar gélido de fim de tarde entrando por seus pulmões e provando que ele estava vivo. Quando se acalmou, fez o que estava a seu alcance fazer: enviar mensagem para s/n para se explicar, se desculpar, tudo o que precisasse ser feito para não perder a garota. Embora dessa vez, estivesse menos confiante do que nas outras. Como poderia conquistar novamente sua confiança? Eles realmente tinham se beijado. Não foi apenas um encostar de lábios por breves segundos, foi um beijo, um de verdade. Que ela retribuiu.

Jace franziu o cenho ao reviver os detalhes da cena em sua mente. Ela havia retribuído. Por quê? Um ato que ela tanto rejeitou fazer e quando acontece, ela não recua. Isso não fez o menor sentido para o garoto. Estava intrigado, mas não no mal sentido. Na verdade, estava feliz. Sua tão querida amiga retribuiu um beijo seu.

Depois de alguns minutos sonhando acordado, ele voltou a digitar mensagens para s/n, até perceber que os envios pararam de chegar e a foto de perfil havia desaparecido. Ela o tinha bloqueado.

Você é um merda, Jace.

Ele leva as mãos para o cabelo e desliza para o rosto, o cobrindo. Seu dom de estragar tudo estava soando mais como uma maldição. Mas as coisas não se resolveriam sozinhas, sua vida não era assim e nunca ser, seu lado ansioso e hiperativo não podia esperar que o universo ficasse a seu favor, ele era o tipo de cara que agia. Mais cedo ou mais tarde, outra ideia brilhante surgiria na cabeça engenhosa de Jace Norman.

***

O teto branco de sua casa parecia ser a coisa mais interessante do ambiente, pois já o fitava por horas desde que havia chegado do shopping. Ela odiava ter aceitado aquele plano estúpido. Odiava ter nutrido sentimentos pelo loiro. Odiava ter beijado ele. Odiava a si mesma por ter permitido que a situação chegasse aquele ponto.

Desabafou com Ella e Riele, mas não era o suficiente. Seu maior desejo era sumir da face da Terra, ou pelo menos ficar em seu quarto escondida eternamente caso a primeira opção não desse certo. Ela pensou muito. Pensou em Jace. Pensou em seus amigos. Pensou na faculdade. Pensou na peça.

A peça... O baile era na próxima semana, como ela conseguiria atuar com ele? Sentiu seu corpo envolver-se num calafrio aterrorizante só de imaginar o desastre público que seria. Não podia deixar isso acontecer, ela poderia arcar com as consequências que sua ansiedade causa em sua vida pessoal, mas estragar uma peça da faculdade, que era importante para tantos alunos, isso estava fora de cogitação, era uma atitude além do seu caráter duvidoso.

Ela deveria desistir. Eles encontrariam outra pessoa tão boa quanto ela ou até melhor, que fosse capaz de ensaiar e decorar os textos em uma semana e entregar uma estreia exemplar. Estava decidida.

Enviou uma mensagem para seu grupo de amigas, com Ella e Riele, na intenção de desabafar sobre o ocorrido mãos recente e dar a notícia que ninguém queria dar. Mas as duas garotas tinham o dom da razão que faltava em s/n. É por isso que elas se completavam como almas gêmeas da amizade.

É óbvio que elas não apoiariam sua desistência, o que estava esperando? A garota revirou os olhos para si mesma enquanto refletia sobre a fala de Ella.

"Você vai ter que atuar com pessoas que não gosta o tempo todo, não pode deixar os problemas de fora te influenciarem ou sua carreira vai por água abaixo."

Ela tinha razão e odiava isso também. Estava estudando para trabalhar na área que tanto sonhou, mas precisava ser realista. O mercado de trabalho é egoísta, existem pessoas que ama o que fazem, e existem aquelas pessoas que se acham superiores que os outros e vivem sua vida em prol da importunação alheia. S/n encontraria pessoas de muitos trejeitos, personalidades e caráter. Infelizmente ela não poderia escolher com quem gostaria de trabalhar, e isso requer muito profissionalismo.

E também maturidade. O que estava faltando em sua cabecinha desengonçada nos últimos tempos. De repente, refletir sobre suas atitudes foi como um banho de água fria, não conseguia entender suas próprias ações e agora elas lhe enchiam com uma vergonha absurda.

Que falta faz uma terapia nesses momentos. Ela pensou.

Voltou a pegar seu celular e buscou pelo contato de Jace, hesitou por alguns segundos, mas a garota sabia o que precisava ser feito, então apertou na opção de desbloquear.

***

O relógio marcava quase 2 da madrugada quando o garoto comemorou com pulinhos silenciosos em seu quarto a sua mais nova criação.

Desde que voltara do shopping sozinho, sua cabeça tornou-se a oficina do diabo e não deixou de trabalhar um segundo sequer. Tentou dormir para passar o tempo, mas não conseguiu pregar os olhos. Não podia ensaiar a peça, pois o texto o lembraria dela. Não quis incomodar seus amigos pois teria que explicar o que aconteceu, e isso significava voltar a falar dela. Tudo se resumia a ela e nada do que tentasse fazer mudava isso.

Foi quando o violão azul marinho, guardado num canto de seu quarto, chamou por ele através de telecinese. Já tinha um tempo que o loiro não tocava, tinha ficado tão ocupado com as coisas da faculdade e da vida que mal conseguia praticar seus hobbies.

Ele dedilhou pelas cordas, tocou algumas notas, e percebeu que talvez pudesse descrever o que estava sentindo com alguma melodia que seu coração mandasse tocar. Surpreendeu a si mesmo quando a ideia deu frutos. Bons acordes que precisavam ser anotados, o que o fez se inclinar para sua mesa de cabeceira e pegar um pequeno caderno de capa dura e preta, com folhas amareladas e sem pautas. Era sua agenda de canções. Que agora carregava uma de suas mais novas composições, totalmente dedicada à s/n.

Jace estava satisfeito consigo mesmo, se sentia o próprio Shawn Mendes cantando suas mais famosas músicas de romance. Releu algumas vezes para garantir que não faria mais alguma alteração antes de enviar para aquele que seria seu cúmplice na missão de recuperar a amizade perdida.

Noah estava acordado, ele sempre estava, era uma pessoa noturna apesar de estudar no período da manhã. Não demorou para dar um feedback positivo à Jace, o amigo sabia aproveitar uma boa música cheia de sentimentos profundos, não era como Jack ou Sean que preferiam letras chicletes e sem significado.

O loiro sorriu para o celular, o deixando de lado e voltando seus dedos para as cordas do violão. Agora ele precisava ensaiar para que tudo saísse de acordo com o plano.

E eu sei, sei que
Seu calor é uma ilusão
E as flores que estão em sua mão
Eu também quero segurar.

🌹

Mais um capítulo pra vocês que esperaram um retorno por tanto tempo, agora preciso recompensá-los kkkkk

Nossos protagonistas estão com a vida bem movimentada, né? Será que esse baile vai dar bom e finalmente teremos um pouco de paz nessa história? 😔🙏🏻

Att, Sath.

play date; jace normanOnde histórias criam vida. Descubra agora