23; A Isolação do Monstro

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Uma hora após o início do baile, anunciaram a tão esperada peça de teatro que o curso de artes cênicas iria performar, seu título era "La città di Smeraldo". Jace estava ansioso. Apesar de estar tendo momentos agradáveis com s/n, ele temia sua reação ao ouvir a música que tinha escrito com a ajuda de Noah, não era algo que haviam planejado, e provavelmente o professor ficaria bravo com a mudança repentina de roteiro, mas era um risco que segundo ele, valia a pena.

Para ser sincero, ele apenas sentia, mas não sabia por qual motivo exatamente estava fazendo tudo aquilo. Ele se importava com ela, e muito, isso era óbvio. No entanto, as vezes se questionava se tudo o que sentia estava claro, seu coração não estaria lhe enganando, ou estaria?

— Jace? - ouviu a voz dela lhe chamando. Ele virou para olha-la, já não estava com seu vestido de seda vermelho, mas sim trajada de acordo com o tema da peça, com um vestido de camponesa, uma capa preta por cima e o capuz cobrindo sua cabeça. O loiro se surpreendeu ao pensar no quanto a amiga ficava linda independente de como estivesse vestida. - Vamos?

— Vamos. - eles se aprontaram próximos as cortinas do palco, esperando por sua vez de entrar.

***

Quando o último ato começou, estavam chegando na parte em que a personagem de s/n e Jace se encontrariam pela última vez no jardim do castelo. Era aquele o momento perfeito. O loiro encarou ao longe a figura do amigo que cuidava dos equipamentos de som, fez um aceno com a cabeça, indicando que este era o momento e ele entendeu imediatamente.

Respirou fundo e atravessou a cortina, aparecendo no palco, todos ali estavam olhando para ele, mas ele estava olhando para ela, que continuava atuando como ensaiaram tantas vezes. Tomou coragem e pegou o microfone que havia escondido em sua roupa, assim que ouviu a melodia começar a tocar, ele cantou no mesmo instante, roubando a atenção da garota que não esperava por isso. Agradecia mentalmente por estar com uma máscara cobrindo seu rosto, assim ninguém repararia no quanto estava nervoso.

Nesse jardim escondido
Estou tão solitário
E eu me amarrei
Num castelo cercado de espinhos

S/n, que estava abaixada colhendo flores, intercalou seu olhar entre a multidão e o loiro a sua frente, sem saber o que fazer. Ele se aproximava dela aos poucos, enquanto cantava.

Como é que se chama?
Vai a algum lugar?
Oh, pode me dizer?
Porque você veio aqui para se esconder.

Ele se aproximou mais e se abaixou em frente à ela, que ainda segurava algumas flores, nas quais deveria estar roubando na cena.

E eu sei, eu sei que
Seu calor é uma ilusão
E as flores que estão em sua mão
Eu tambem quero segurar.

Ergueu uma de suas mãos até as delas, mas antes que a tocasse, ele se afastou bruscamente, como se não pudesse fazer aquilo.

Esse é meu destino
Não sorria pra mim
Não me ilumine
Porque eu não posso chegar
Até onde você está
Não há um nome para me chamar.

Naquele momento, Jace resolveu entrar em seu personagem, ao invés de cantar por si mesmo, parecia muito mais fácil, assim como ele, se esconder. Deu as costas para a garota e andou para o outro lado do palco.

Você sabe que eu
Não posso
Me doar
Eu não posso te mostrar minha fraqueza
Então me escondo atrás dessa máscara
Mas eu ainda te quero.

Ele pegou uma das rosas diferentes que estavam na decoração, e voltou sua atenção a ela, enquanto caminhava novamente, estendeu a rosa em direção à S/n, que mesmo hesitante, acabou pegando.

Floresceu no jardim
Uma bela rosa
E eu queria te dar
Enquanto tiro essa máscara.

Nesse momento, Jace retira seu capuz, deixando ainda mais visível a máscara preta que escondia seu rosto. S/n ainda estava estática no chão, apenas observando, segurava com força a rosa em sua mão que acabara de ser entregue. Se a plateia estivesse mais perto, poderiam ver seus dedos tremendo mais do que pensou ser possível para o ser humano.

Mas eu sei, eu sei que
Não posso mais te ver
Eu preciso me esconder
Porque eu sou feio demais.

Ao cantar esses versos, ele ia dando passos pra trás, s/n negou com a cabeça, foi quando conseguiu ter alguma reação, encarou a plateia mais uma vez, lembrou que não podia sair da personagem. Imprevistos exigiam improvisos, era o que seu professor sempre dizia. Então ela se levantou e correu até Jcae, o pegando de surpresa, arrancou a máscara de uma vez e a jogou no chão, com um pouco mais de força do que havia planejado, ganhando a expressão surpresa do público e também do loiro, mas Jace foi mais rápido e uma vez mais colocou seu capuz para se esconder.

Esse é meu segredo,
Tão patético,
Eu tenho medo
De que no fim você irá me abandonar
Então me escondo e vou te encontrar.

Ele se vira rapidamente e seu corpo se encontra com o dela, que o está encarando fixamente, em um instinto, ela pega sua mão livre e entrelaça seus dedos. As luzes azuis do palco lhes atingiu, fazendo com que se tornassem o centro das atenções ali.

O que eu posso fazer
É uma flor que se pareça com você
Nesse jardim ela irá florescer
E como essa flor eu respiro
Mas ainda te quero
Eu ainda te quero.

Jace a puxou pela mão que ainda segurava e iniciou uma dança, a girando sobre o palco e depois a trazendo de volta para si, depositou sua mão livre na cintura da garota.

Naqueles meses,
Se eu tivesse mais coragem
E ficasse bem na sua frente
Será que tudo isso seria diferente?

Ele cantava sem quebrar o contato visual com ela, estavam vidrados, era como se existissem apenas os dois ali. Seus corpos giravam pelo palco, sem sair do lugar. Até que o loiro rompe o contato, se afastando novamente, e indo em direção a máscara jogada no chão, ele se abaixou em frente à ela.

Estou chorando
Nesse castelo de areia
Que está sumindo com as ondas do mar
Enquanto olho para esta máscara quebrada
Mas eu ainda te quero.

S/n o seguiu, abaixando à sua frente e com cautela abaixando seu capuz, dessa vez sem que o loiro protestasse.

Mas eu ainda te quero
Mas eu ainda te quero
E eu ainda te quero.

Quando a música acabou, eles permaneceram na mesma posição, hipnotizados um pelo o outro, podiam sentir suas respirações se mesclarem em um ritmo violento e ansioso. Por alguns segundos a garota desejou que ele se aproximasse mais e grudasse seus lábios no dela, então o barulho das palmas vindas da plateia fez com que eles acordassem daquele lindo sonho. Jace soltou um riso nervoso, ainda não acreditava no que tinha feito, havia improvisado e saira perfeito, ousava dizer que havia sido bem melhor do que o final original da peça. Sem uma história trágica, sem decepções, sem mortes. Como um verdadeiro conto de fadas, era assim que gostaria que fosse sua vida para sempre.

🌹

A música é uma tradução adaptada que eu fiz da música The Truth Untold do BTS, pra quem quiser ouvir é uma melodia magnífica e cheia de sentimentos, combinou perfeitamente com o momento dos dois.

E agora, como será que a história vai prosseguir depois dessa "declaração" pública do Jace? Até o próximo capítulo! 🤭

Att, Sath

play date; jace normanOnde histórias criam vida. Descubra agora