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A PEQUENA CARAVANA AVANÇOU, de início em silêncio. O cavaleiro e a jovem pensavam ainda no perigo a que tinham estado expostos, e na cabeça do nosso jovem arqueiro, por outro lado, um mundo de novas ideias emergia: pela primeira vez ele admirava a beleza feminina.

Orgulhoso por instinto de raça, tanto quanto por personalidade própria, ele não queria parecer inferior a quem lhe devia a vida, e procurava manter, enquanto os guiava, uma aparência de altiva rudeza: sabia perfeitamente que aquelas pessoas pertenciam à nobreza, apesar de modestamente vestidas e viajando sem escolta, mas, na floresta de Sherwood, sentia-se em pé de igualdade, ou até num nível superior, diante, por exemplo, de uma emboscada assassina.

A maior ambição de Robin era que o vissem como hábil arqueiro e audacioso caçador. Fazia por merecer o primeiro título, mas lhe recusavam ainda o segundo, inclusive desmentido por sua aparência juvenil.

A todos os seus atributos naturais, acrescentava-se ainda o encanto de uma voz melodiosa. Consciente disso, ele cantava onde quer que lhe desse vontade e resolveu, então, brindar os viajantes com uma demonstração, dispondo-se a entoar uma bem-humorada e alegre balada. Mas, à primeira palavra, uma emoção extraordinária paralisou sua voz e lhe trancou os lábios, que tremiam. Tentou outra vez e o resultado foi o mesmo. Veio apenas um profundo suspiro. Nova tentativa, com o mesmo suspiro e ainda a mesma emoção.

Eram já os primeiros acanhamentos do amor que se revelavam ao inexperiente rapazote. Mesmo sem saber, ele adorava a imagem da bela desconhecida que cavalgava pouco atrás e deixava em segundo plano as canções, sonhando com aqueles belos olhos negros.

Mas acabou descobrindo as causas da estranha perturbação e pensou, recuperando o sangue-frio:

— Paciência, logo mais vou vê-la sem o capuz.

O cavaleiro fez perguntas a Robin sobre seus gostos, hábitos e ocupações, procurando ser cordial, mas recebeu respostas um tanto distantes e que só mudaram de tom no momento em que o amor-próprio do rapaz se sentiu questionado:

— Não teve medo — era o que perguntava o desconhecido — de que o miserável fora da lei se vingasse do fracasso indo contra você?

— Não vejo como! Seria impossível algo assim.

— Impossível?

— Com certeza, estou habituado às situações mais difíceis.

Havia tanta boa-fé e grandeza de sentimentos nas respostas de Robin que o desconhecido não quis ironizar e perguntou:

— Seria habilidoso a ponto de flechar a cinquenta passos o que normalmente se consegue a quinze?

— Sem dúvida. Mas espero — acrescentou o rapaz, ele sim com tom de ironia — que não considere tão grande demonstração de habilidade a lição que dei ao bandido.

— Por que não?

— Foi um lance bobo, que nada prova.

— E qual melhor prova poderia me dar?

— Que a ocasião se apresente e verá.

Fez-se silêncio por alguns minutos e a caravana chegou a uma grande clareira, que o caminho cortava em diagonal. Assustando-se com o barulho dos cavalos, uma grande ave de rapina alçou voo e uma pequena corça saiu do matagal próximo, buscando se esconder do outro lado.

— Escolha! — disse Robin com uma flecha entre os dentes e colocando outra no arco. — O que prefere, caça com penas ou com pelos? Pode escolher.

Antes, porém, que o cavaleiro respondesse, a corça caiu morta e o pássaro despencou das alturas, rodopiando até a clareira.

— Já que não escolheu enquanto estavam vivos, escolherá quando estiverem assados, à noite

O príncipe dos ladrões (1872)Onde histórias criam vida. Descubra agora