ÀS PRIMEIRAS HORAS do dia seguinte, Robin e João Pequeno entraram num albergue da cidadezinha de Nottingham para a refeição matinal. A sala estava lotada de soldados do barão Fitz-Alwine, como se podia ver pelos trajes.
Enquanto comiam, os dois amigos prestavam atenção às conversas ao redor.
— Não se sabe ainda — dizia um soldado — qual tipo de inimigo atacou os cruzados. Sua Senhoria acredita que fossem outlaws ou vassalos guiados por um dos seus inimigos. Monsenhor propriamente teve sorte, pois só chegou ao castelo algumas horas depois.
— Os cruzados ficarão por muito tempo no castelo, Geoffroy? — perguntou o estalajadeiro ao soldado.
— Não, seguirão amanhã para Londres, levando os prisioneiros.
Robin e João Pequeno trocaram um olhar carregado de sentido.
O que se disse depois interessou menos aos nossos dois amigos e os soldados continuaram a beber e a jogar.
— William se encontra no castelo — murmurou Robin com voz quase inaudível. — Temos que procurá-lo por lá ou então aguardá-lo quando sair. Será preciso usar força, astúcia e boa estratégia, em uma palavra, libertá-lo.
— Estou pronto para o que for — disse João Pequeno no mesmo tom.
Os dois deixaram suas cadeiras e Robin pagou a despesa.
No momento em que passavam pelo grupo de soldados, se dirigindo à porta, o sujeito a quem haviam chamado Geoffroy disse a João Pequeno:
— Por são Paulo! A cabeça do amigo parece ter muita simpatia pelas traves do teto. Se a sua mãe conseguir beijá-lo sem que você seja obrigado a se ajoelhar, ela merece um posto na tropa dos cruzados.
— Será que a minha estatura ofende os seus olhares, companheiro soldado? — perguntou João Pequeno com condescendência.
— De forma alguma, formidável desconhecido, mas francamente me surpreende muito, pois até agora achava-me o sujeito mais bem constituído e mais vigoroso do condado de Nottingham.
— Folgo em dar a visível prova do contrário — respondeu tranquilamente João.
— Aposto um pote de cerveja — disse Geoffroy dirigindo-se a seus companheiros — que, apesar do tamanho, o desconhecido não consegue tocar em mim com um bastão.
— Aceito — gritou alguém.
— Negócio feito! — respondeu Geoffroy.
— Se me permite — exclamou por sua vez João Pequeno —, ninguém perguntou se aceito eu o convite.
— Não acredito que negue quinze minutos de prazer a quem, sem nem conhecê-lo, apostou em você — disse o homem que havia entrado no jogo.
— Antes então de responder à fraterna proposta feita — replicou João Pequeno —, quero dar ao adversário um rápido aviso: não tenho tanto orgulho da minha força, mas devo dizer que nada se lhe resiste; acrescento que querer lutar comigo é procurar a derrota, pode ser até que acompanhada de algum estrago, no mínimo um abalo no amor-próprio. Nunca fui vencido.
O soldado riu alto.
— Tenho a impressão de que é o maior fanfarrão da Terra, isso sim — gritou debochando. — E se não quiser que eu diga que é covarde, além de arrogante, vai aceitar uma disputa comigo.
— Já que é assim, aceito de coração, mestre Geoffroy. Antes, porém, de lhe dar provas de minha força, permita-me falar com meu amigo. Em seguida, prometo usar meu tempo para corrigir essa sua impudência.