A NOITE ESTAVA calma e serena, com a claridade da lua inundando a floresta. Nossos três fugitivos atravessavam com rapidez as áreas alternadamente escuras e iluminadas do matagal e das clareiras.
O despreocupado Robin cantava refrões de baladas de amor; triste e silencioso, Allan Clare lamentava os resultados da sua visita ao castelo de Nottingham, enquanto o frade ruminava tristonhos pensamentos, lembrando-se da indiferença com que Maude o tratara, e da gentileza que dispensara ao rapazote da floresta.
— Pelo santo Miserere! — resmungava surdamente o religioso. — Sou belo homem, bem aprumado nas minhas pernas e nada feio de rosto, não tenho a menor dúvida, pois várias vezes já me repetiram isso. Por que Maude mudou tanto? Era só o que faltava! Se a danadinha me deixar de lado por causa desse frangote pálido, isso só comprova o seu mau gosto. Não posso perder meu tempo lutando contra tão ínfimo rival. Ela que o ame, se quiser, pouco me importa!
E o pobre frade suspirava.
— Bah! — recomeçou ele de repente, com o rosto iluminado por um sorriso de amor-próprio. — Ela não pode amar esse mal-acabado que só sabe mesmo cantarolar suas baladas. Quis somente despertar meu ciúme, testar minha confiança nela e me fazer ficar ainda mais apaixonado. Ah, mulheres! Mulheres! Têm mais malícia num fio de cabelo do que os homens em todos os pelos da barba.
Talvez não agrade a nossos leitores que se coloque semelhante linguagem na boca do monástico personagem, dando-lhe o papel aventuroso de homem levado a alegrias mundanas. Mas que se transportem em pensamento à época em que se passa nossa história e haverão de entender não ser, de forma alguma, intenção nossa caluniar as ordens religiosas.
— E então, meu jovial Gilles, como diz a bela Maude — disse de repente Robin. — Em que tanto pensa? Está parecendo tão melancólico quanto uma oração fúnebre.
— Os que usufruem dos favores da... da sorte têm o direito de se sentir alegres, mestre Robin — respondeu o frade. — Mas quem é vítima dos seus caprichos tem igualmente o direito de estar triste.
— Se chama favores da sorte os olhares meigos, os agradáveis sorrisos e os ternos beijos de certa bonita mocinha — respondeu Robin —, posso me gabar de ser rico. Mas você, frei Tuck, que fez voto de pobreza, por que razão se diz maltratado pela caprichosa deusa?
— Finge não saber, meu jovem?
— Realmente não sei. Mas por acaso Maude tem algo a ver com essa sua tristeza? Não! É impossível! É o seu pai espiritual, seu confessor... E nada mais, não é?
— Indique o caminho da sua casa e pare de falar a torto e a direito como um desajuizado, que, aliás, é o que é — respondeu o monge mal-humorado.
— Não vamos brigar por isso, bom Tuck — tentou Robin a reconciliação.
— Se o ofendi, foi sem querer. E se Maude for a causa disso, também não foi esta a minha intenção, pois posso jurar que não a amo e antes de vê-la hoje, pela primeira vez, já havia comprometido meu coração...
O frade se virou para o rapaz, apertou afetuosamente sua mão e disse com um sorriso:
— De modo algum me ofendeu, querido Robin. Fiquei triste à toa, de repente. Maude não pesa em meu ânimo nem em meu coração. É uma alegre e ótima moça. Case-se com ela quando estiver na idade de se casar e será feliz... Tem certeza mesmo de que o seu coração não está livre?
— Certeza absoluta... para sempre.
O frade voltou a sorrir.
— Não tomei o caminho mais curto para a casa do meu pai — explicou Robin após um instante de silêncio —, para evitar os soldados que o barão certamente mandou atrás de nós, assim que descobriu nossa fuga.