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O PRISIONEIRO POR bom tempo ficou ouvindo o barulho confuso que vinha de fora, e quando as passadas dos guardas deixaram de perturbar o silêncio dos corredores, ele começou a pensar na gravidade da situação.

A raiva e as ameaças do todo-poderoso castelão em nada o assustavam, mais incomodando ao bom filho as preocupações e dor de Gilbert e Marguerite, que em vão o esperariam à noite, no dia seguinte e por mais tempo ainda, é provável.

Esses tristes pensares despertaram um violento desejo de liberdade e, como um leão que gira sem parar em sua jaula para descobrir uma saída, ele andou em círculos pelo cubículo, batendo o pé no chão, medindo a altura da janela, analisando as paredes e calculando quanto precisaria de força, esperteza ou habilidade para quebrar ou fazer com que se abrisse aquela porta reforçada a ferro, cuja chave devia se encontrar nas mãos de um brutal cérbero.

O calabouço era mínimo e tinha três aberturas: a porta, com um pequeno postigo na parte superior e, do outro lado, uma lucarna, a dez pés do chão e com fortes barras transversais. A mobília se limitava a uma mesa, um banco e um monte de palha.

— O barão até que não é tão mau quanto é injusto — pensou Robin —, já que me deixou com os pés e as mãos livres. Deixe-me então aproveitar e dar uma olhada lá de cima.

Colocando o banco em cima da mesa e apoiando-se na parede, conseguiu chegar à lucarna.

Felicidade! Sua mão acabava de se agarrar a uma das barras e ele descobriu que não eram de ferro e sim de carvalho, e um carvalho já bastante carcomido. Sacudiu-as e se deu conta de que facilmente poderia quebrá-las. De qualquer forma, mesmo que resistissem, eram suficientemente espaçadas para que sua cabeça passasse entre elas. E sabe-se que por onde passa a cabeça, passa todo o corpo também.

Contente com a descoberta, nosso herói achou prudente fazer um reconhecimento da situação do outro lado, para não comprometer as chances de fuga. Quem sabe algum guarda mais silencioso tomava conta no corredor e se aproximaria assim que ouvisse algum ruído suspeito.

O banco passou então para a porta e a cabeça inteligente do encarcerado se enfiou pelo postigo. Mas não ficou ali nem por um minuto, um segundo ou mesmo meio segundo, pois um soldado vinha ao longo da galeria, aproximando-se da porta e querendo provavelmente ver pelo buraco da fechadura o que andava fazendo o prisioneiro.

Robin se pôs a cantar uma das suas mais inspiradas baladas e, entre dois refrões, ouviu o soldado se afastar, voltar com precaução, se afastar e voltar mais uma vez. Essas idas e vindas duraram bons quinze minutos.

— Se o sujeito for fazer isso a noite inteira — pensou —, ainda estarei aqui ao amanhecer. Nunca vou conseguir escapar lá por cima sem que ele me ouça.

Reinava profundo silêncio no corredor há alguns instantes e o guarda parecia ter desistido da espionagem, mas Robin, como bom caçador experimentado e conhecedor de todos os truques da arte, achou que, naquela circunstância, o mais prudente era se fiar nos olhos, mais do que nos ouvidos. Arriscou-se então a uma segunda olhada pelo postigo.

E foi boa ideia, pois em vez de um, havia dois vigias atentos e colados à porta.

Nesse mesmo instante, a bonita Maude apareceu na ponta do corredor, com uma tocha numa mão e alguns objetos na outra, e soltou um grito de surpresa ao ver a cabeça de Robin acima da dupla de carcereiros.

Tão leve como uma folha que cai, o prisioneiro desceu de onde estava e, cheio de ansiedade, procurou ouvir o que ia acontecer. A voz de Maude havia felizmente disfarçado o barulho da sua movimentação e a jovem fazia-se de zangada com os dois soldados, mas falando sem parar e com charmes bem femininos, tentando justificar o grito de surpresa ou susto.

O príncipe dos ladrões (1872)Onde histórias criam vida. Descubra agora