COM A TESTA, as pálpebras, na verdade o rosto inteiro bem chamuscado, pois tinha acabado de servir para apagar uma tocha, o sargento Lambic teve ainda o azar de, indo atrás de Robin, tomar a direção oposta à do fugitivo.
No tempo em que se passa nossa história, o castelo de Nottingham possuía uma enorme quantidade de passagens subterrâneas escavadas na pedra da colina no alto da qual se erguiam suas torres e muralhas ameadas. Poucas pessoas, inclusive entre os mais velhos habitantes da cidadela feudal, conheciam exatamente a topografia do sombrio e misterioso labirinto. Lambic e seus homens perambularam então ao acaso e acabaram se perdendo uns dos outros, sem se darem conta.
Quase sem enxergar, como foi dito, Lambic seguiu na direção contrária, deixou os soldados se afastarem à esquerda e foi parar diante da grande escadaria do castelo, ouvindo ao alto o que lhe pareceu ser o som de passos.
— Bom! — pensou ele. — Os soldados já agarraram o patife, que está sendo levado ao barão. Preciso chegar ao mesmo tempo, ou esses brutos ignorantes ainda vão tirar proveito disso diante do chefe!
Com esse raciocínio desconfiado, o bravo sargento chegou à porta da antecâmara do barão e, prudente por experiência, antes de se mostrar quis averiguar como o mal-humorado Fitz-Alwine estava recebendo os subalternos que levavam o prisioneiro. Colou a orelha junto ao buraco da fechadura e pôde acompanhar o seguinte diálogo:
— Essa carta está dizendo então que Tristam de Goldsborough não pode vir a Nottingham?
— Isso mesmo, monsenhor. Obrigações o chamaram à corte.
— Que desagradável!
— E avisa que vai esperá-lo em Londres.
— Que seja! E ele marca um dia para nos encontrarmos?
— Não, monsenhor; pede apenas que o barão se ponha a caminho o quanto antes.
— Pois partirei essa manhã mesmo! Dê ordens para que preparem meus cavalos e que seis homens armados me acompanhem.
— Às suas ordens, monsenhor.
Muito surpreso de Robin não se encontrar ali e imaginando que talvez os soldados o tivessem então levado de volta à cela, o sargento correu para confirmar, mas encontrou a porta escancarada, o cubículo vazio e a tocha fumegante ainda no chão.
— Ai, ai, ai! Estou perdido — lamentou-se. — O que faço agora?
Voltou automaticamente à porta do barão, ousando esperar ainda que os soldados levassem para lá o maldito rapazote. Pobre Lambic! Já sentia em volta do pescoço o roçar áspero de uma corda nova. A esperança, no entanto, é a última que morre para os infelizes e ela lhe sorriu quando, novamente com a orelha colada ao buraco da fechadura, viu que tudo estava calmo e silencioso lá dentro. Foi o seguinte o seu raciocínio:
— O barão está dormindo e isso significa que não está com raiva. Se não está com raiva é porque ignora que o mateiro me escapou das mãos como uma enguia. Se ignora a fuga, nada tem contra mim para me punir ou mandar enforcar. Ou seja, posso me apresentar sem medo e prestar contas da missão como se a tivesse cumprido da melhor forma. Com isso, ganho tempo para saber o que aconteceu com o miserável foragido, levá-lo de volta ao cárcere ou lá mantê-lo, se por acaso meus dois estúpidos soldados tiverem feito o necessário. Posso me apresentar sem medo... Isso mesmo, sem medo diante do terrível e todo-poderoso senhor... Vamos lá. Mas ele está dormindo, a sono solto! É o mesmo que chegar perto de um tigre faminto para um afago nas costas! Não sou louco de acordar monsenhor. Eu é que não. No entanto — continuava dizendo a si mesmo o pobre Lambic, medroso e, ao mesmo tempo, seguro, tímido e fanfarrão —, no entanto, vai que o barão não esteja dormindo? Seria realmente o melhor momento para entrar e, confirmando que desconhece o ocorrido, me sentir mais tranquilo. Mas se não estiver dormindo, tanta calma e silêncio seriam coisa extraordinária! Pensando bem, posso arranhar de leve a madeira da porta e se a reação ao barulho não for boa, terei tempo de fugir.