Os dramatis personae que já entraram nessa história percorriam naquele momento a velha floresta de Sherwood.
Robin e Christabel chegaram ao local em que sir Allan Clare devia esperá-los e, consequentemente, seguiram na direção contrária à do sargento, que recebera ordem de incendiar a moradia do pai adotivo de Robin.
Seguido por vinte boas lanças, o barão, rejuvenescido por persistente raiva, acabava de partir em busca da filha. Vamos deixá-lo galopar a rédeas soltas pelos verdejantes atalhos da floresta para nos reunirmos a sir Allan Clare que, com o apoio de João Pequeno, frei Tuck, Will Escarlate e os seis outros filhos do nobre sir Guy de Gamwell, se encaminhava apressado na direção do vale de Robin Hood, enquanto Maude e Halbert seguiam na direção do cottage do velho guarda-florestal.
Maude não era mais aquela criatura esperta, incansável, corajosa e alegre. Ela tristemente repassava na memória as indicações que lhe dera Robin para não se perder nas mil trilhas que se cruzam e entrecruzam. A jovenzinha, enfim, apesar da salvaguarda de um intrépido rapazote, mais parecia uma pobre abandonada, a suspirar e suspirar pelo término da longa caminhada.
— Ainda falta muito para a casa de Gilbert?
— Não, Maude — respondeu bem-humorado Hal. — Creio que umas seis milhas mais.
— Seis milhas!
— Ânimo, Maude, ânimo. Fazemos isso por lady Christabel... Mas veja lá mais adiante, não percebe um cavaleiro, isso mesmo, um cavaleiro com um frade e alguns homens que parecem lenhadores? É o sr. Allan e também frei Tuck. Olá, cavalheiros! Nunca um encontro veio tanto a calhar.
— E lady Christabel e Robin, onde estão? — perguntou sir Allan ao reconhecer Maude.
— Foram esperá-lo no vale — respondeu Maude.
— Que Deus nos proteja! — exclamou Allan, depois de ouvir minuciosamente Maude contar todas as peripécias da fuga do castelo. — Bravo Robin, devo tudo a ele: minha bem-amada e minha irmã!
— Vamos avisar o pai adotivo dele dos motivos da sua demora — explicou Hal.
— Não poderia ir sozinho, irmão Hal? — perguntou Maude, que ardia de vontade de encontrar Robin. — Minha ama deve estar precisando muito dos meus cuidados.
Allan não viu inconveniente em aceitar a companhia de Maude e todos retomaram seus caminhos.
Frei Tuck, calado e isolado de início, não demorou a se aproximar da jovem. Tentou ser agradável, sorriu, falou menos bruscamente do que o de hábito, mostrou-se quase espirituoso. Mas as tentativas do pobre frade foram recebidas de forma extremamente reservada.
Essa mudança nas maneiras de Maude não só afligia Tuck, mas roubava-lhe também toda facúndia. Ele voltou então a se afastar um pouco mais e caminhava observando pensativo a mocinha, que seguia igualmente pensativa.
Uns poucos passos atrás de Tuck vinha outro personagem que também parecia muito desejar um olhar de Maude e que, procurando dar um jeito na desordem da sua aparência, batia com o antebraço as mangas e as abas da jaqueta, esticava a pena de garça que enfeitava seu gorro, alisava a densa cabeleira... Entregava-se, em plena floresta, a esses pequenos cuidados da brejeirice que todo enamorado principiante instintivamente executa.
E esse personagem outro não era senão nosso amigo Will Escarlate.
Maude preenchia para ele o ideal de beleza; era a primeira vez que a via e, no entanto, sempre reinara em seus sonhos e coração. Testa alva e ligeiramente abaulada, sublinhada por sobrancelhas delicadas e escuras, olhos negros que tinham o brilho amenizado pela cortina de cílios longos e sedosos, faces rosadas e aveludadas, nariz como os que modelavam os estatuários da Antiguidade, boca entreaberta para permitir que o amor se exprimisse e respirasse, lábios em cujas comissuras se aninhavam finos e meigos sorrisos, covinha no queixo que parecia prometer o prazer como o hilo da semente promete a flor, ombros e pescoço unidos por verdadeira linha serpentina, talhe esbelto, movimentos elegantes e pezinhos para os quais as veredas da floresta deviam se cobrir de flores: assim era Maude, a filha de Hubert Lindsay.