OS SOLDADOS CONTINUAVAM a se aproximar, mas com toda prudência. A cada passo paravam, protegidos pela densa folhagem, respeitando as ordens do barão, que não queria que utilizassem o arco, temendo que ferissem sua filha.
Tal ordem não agradava aos soldados, pois sabiam que o jovem arqueiro não deixaria que se aproximassem o bastante para utilizar a lança, e mataria alguns deles.
— Se tiverem a presença de espírito de me cercar, estou perdido — pensou Robin.
Uma abertura na vegetação permitiu-lhe, de repente, avistar Fitz-Alwine, e o desejo de vingança o invadiu.
— Robin — murmurou nesse momento a jovem —, já estou me sentindo melhor. O que aconteceu com meu pai? Não fez mal nenhum a ele, não é?
— Nenhum, milady — respondeu ele com um leve tremor —, mas...
Fez vibrar com o dedo a corda do arco.
— Mas o quê? — quis saber Christabel, assustada com o gesto sinistro.
— Ele, sim, me causou um grande mal! Ah, milady! Se soubesse...
— Onde está meu pai?
— A poucos passos daqui — respondeu friamente Robin. — E Sua Senhoria não ignora que estamos a poucos passos também. Seus soldados, entretanto, não se arriscam ao ataque, com medo das minhas flechas. Ouça com atenção, milady — ele continuou, depois de um minuto de reflexão —, inevitavelmente cairemos nas mãos deles, se continuarmos aqui. Nossa única escapatória é fugir, fugir sem sermos vistos. Para isso, vamos precisar de coragem, muito sangue-frio e, sobretudo, de toda confiança na proteção divina. Ouça bem; se continuar tremendo assim, não vai entender direito minhas palavras. Terá que agir agora. Cubra-se bem com a sua capa, a cor escura vai ajudar a passar despercebida, e siga sob a folhagem, o mais perto do chão, rastejando se for preciso.
— Vão me faltar forças, ainda mais do que coragem — disse chorando a pobre Christabel. — Serei morta antes de dar vinte passos. Salve-se você, sem se preocupar comigo. Fez tudo que pôde para me levar ao meu bem-amado. Deus não permitiu. Que se faça então a sua santa vontade e a sua bênção o acompanhe! Adeus, meu amigo... vá! Diga ao querido Allan que meu pai não poderá exercer por muito tempo seu poder sobre mim. Meu corpo inteiro, e não só o coração, está ferido. Resta-me pouca vida. Adeus.
— Não, milady — insistiu o corajoso rapaz —, não vou fugir. Fiz uma promessa ao sr. Allan e para cumpri-la vou continuar, a menos que a morte me impeça... Anime-se, Allan talvez já esteja no vale e, vendo a minha flecha, sairá a nossa procura... Deus ainda não nos abandonou.
— Allan, Allan, querido Allan, por que não chega? — afligiu-se Christabel.
Repentinamente, como respondendo ao chamado do desespero, ouviu-se atravessar os ares o uivo prolongado de um lobo.
De joelhos, Christabel estendeu os braços ao céu, de onde vem todo socorro, mas Robin, com as faces intensamente afogueadas, pôs em concha as duas mãos em volta da boca e repetiu o mesmo uivo.
— Estão vindo nos ajudar — disse ele satisfeito. — Estão vindo, milady. Esse uivo é o sinal combinado entre a gente da floresta. Como respondi, nossos amigos vão surgir. Deus não nos abandona, como pode ver. Vou pedir que se apressem.
Com uma só mão em funil por cima dos lábios, ele imitou o grito de uma garça perseguida por um abutre.
— Isso significa, milady, que estamos em perigo.
Ouviu-se um grito semelhante, de garça assustada, não muito longe.
— É Will, meu amigo Will! — exclamou Robin. — Coragem, milady! Esconda-se na folhagem, estará protegida do perigo de alguma flecha perdida.