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HAVÍAMOS DEIXADO ROBIN na capela, escondido atrás de uma pilastra, e ele se perguntava qual feliz conjunto de circunstâncias havia ajudado Allan a escapar da cela.

— Provavelmente foi Maude, a tão desprendida Maude que vem pregando essas peças ao barão — ele concluiu. — E por Deus! Se continuar a abrir para nós todas as portas do castelo, prometo que lhe darei um milhão de beijos.

— Mais uma vez, Christabel querida — dizia Allan, levando aos lábios as mãos da jovem —, tenho a felicidade, após dois anos de separação, de esquecer a seu lado tudo que sofri.

— Sofreu tanto assim, Allan? — perguntou Christabel ligeiramente incrédula.

— Tem dúvida quanto a isso? Um sofrimento enorme, e desde que fui expulso do castelo do seu pai minha vida tem sido um inferno. Deixei Nottingham naquele dia caminhando de costas, para não perder de vista a echarpe que você agitava do alto da muralha, se despedindo. Cheguei a achar que era para sempre, pois tinha a impressão de que não sobreviveria à dor. Mas Deus teve pena de mim e me fez chorar como uma criança que perdeu a mãe. Chorei e isso me ajudou.

— Allan, o céu é testemunha de que se estivesse em minhas mãos fazer a sua felicidade, você seria feliz.

— Então um dia serei feliz — exclamou o rapaz com entusiasmo. — Deus há de ouvi-la.

— E tem sido fiel? — perguntou Christabel, interrompendo-o com ingenuidade. — Jura que sempre será?

— Em pensamento, palavras e atos. Sempre fui, sou e serei.

— Obrigada, Allan! A confiança que tenho em você me sustenta no isolamento em que vivo. Devo obediência às vontades do meu pai, mas a uma delas nunca me submeterei, e ele pode ainda nos separar, como já fez, mas nunca me fazer amar outro além de você.

Pela primeira vez na vida, Robin ouvia a linguagem do amor; compreendia-a por intuição, acompanhava a felicidade daquelas palavras e pensava, suspirando:

— Ah, se a bela Marian falasse comigo assim!

— Como conseguiu descobrir em que cela eu me encontrava, Christabel? Quem abriu aquela porta? Quem conseguiu para mim esse hábito de frade? No escuro nem pude identificar quem me salvou. Apenas me disseram: "Siga para a capela."

— Há uma única pessoa em quem, no castelo, posso confiar, uma jovem tão boa quanto inventiva, Maude, minha camareira. Devemos a sua fuga a ela.

— Tinha certeza — murmurou Robin.

— Quando meu pai jogou-o na prisão, depois de tão brutalmente nos separar, Maude, aflita com meu desespero, disse: "Não se preocupe, milady, logo vai estar com o sr. Allan." E cumpriu o prometido, a pequena Maude, vindo me avisar, ainda há pouco, que o esperasse aqui. Acho que o carcereiro que o vigiava se deixou levar pelas manhas femininas e se embriagou com canções, vinho e olhares, até dormir como uma pedra. Ela então pegou as chaves. Por feliz coincidência, seu confessor se encontrava no castelo e o santo homem não se negou a emprestar a própria batina. Não conheço esse venerável servidor de Deus, mas quero ser apresentada para agradecer a paternal ajuda que deu.

— De fato, muito paternal — disse consigo mesmo Robin, que continuava atrás da pilastra.

— Não se chama frei Tuck, esse amigo? — quis confirmar Allan.

— É o nome dele. Conhece-o?

— Um pouco — sorriu o rapaz.

— Certamente um frade idoso e bondoso — acrescentou Christabel. — Mas por que riu, Allan? O bom homem não merece nossa veneração?

O príncipe dos ladrões (1872)Onde histórias criam vida. Descubra agora