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O BARÃO OUVIA, sem dar muita atenção, a leitura das contas de um administrador, quando Robin, cercado por dois soldados e tendo à frente o sargento Lambic, de quem havíamos esquecido de dizer o nome, entrou no cômodo.

Imediatamente o impetuoso barão mandou que o contador se calasse e avançou até o pequeno grupo com uma expressão que nada de bom pressagiava.

O sargento ergueu os olhos para o seu amo, cujos lábios trêmulos se entreabriam, e achou mais polido deixar que ele tomasse a iniciativa de falar. O velho Fitz-Alwine, porém, não era homem a pacientemente esperar que o sargento fizesse seu relatório e aplicou nele uma violenta bofetada, como se dissesse: estou ouvindo.

— Eu aguardava... — balbuciou o pobre Lambic.

— Também eu aguardava. E a qual dos dois cabe aguardar, por favor? Não está vendo, imbecil, que há uma hora me disponho a ouvir? Mas desde já saiba, caro senhor, que já me falaram das suas façanhas. Mesmo assim, concedo ouvir pela segunda vez, agora da sua própria boca.

— O que Halbert lhe contou, monsenhor?

— Dá-se ao desplante de me interrogar? É isso? Não faltava mais nada! Essa é boa!

Trêmulo, Lambic contou a prisão do verdadeiro Robin.

— Esquece-se de um pequeno detalhe, cavalheiro. Não está contando que soltou, depois de capturá-lo, o patife cuja prisão era mais importante para mim. Foi muito espirituoso da sua parte, cavalheiro.

— Está enganado, milorde, já lhe disse.

— Nunca me engano, cavalheiro. Isso mesmo, o senhor capturou um jovem que dizia ser Robin Hood e deixou-o livre quando esse outro jovem de Sherwood apareceu.

— É verdade, milorde — respondeu Lambic que, por prudência, havia omitido esse episódio da expedição à floresta.

— Realmente é o mais ajuizado, fogoso, astuto e esperto dos militares esse sargento Lambic, no comando de uma companhia dos meus soldados — exclamou o barão com deboche, para em seguida acrescentar: — Não se lembrou então das feições de quem havia colocado no calabouço poucas horas antes, rei dos idiotas, morcego, lesma inválida?

— Eu não havia visto nenhum dos dois prisioneiros, milorde.

— É mesmo? Tinha então uma bandagem nos olhos? Avance até aqui, Robin! — gritou o barão com voz estrondosa e desabando numa poltrona.

Os soldados empurraram Robin até o barão.

— Muito bem, pequeno buldogue! Ainda late tão alto? Vou repetir o que já disse antes. Responda com franqueza às minhas perguntas ou mando que meus homens deem cabo de você, entendeu?

— Pois faça as perguntas — respondeu com frieza o interpelado.

— Ah, voltou atrás e não se nega mais a falar? Muito bem!

— Faça as perguntas, milorde.

O olhar do barão, que parecia ter se suavizado, voltou a fulminar, fixando-se no rapaz, que sorriu.

— Como conseguiu escapar, filhote de lobo?

— Saindo da cela.

— Podia imaginar isso sem muita dificuldade; quem o ajudou?

— Eu mesmo.

— E quem mais?

— Ninguém.

— Mentira! Sei que foi o contrário disso. Sei que não poderia passar pelo buraco da fechadura e que abriram a porta para você.

— Ninguém abriu a porta e mesmo não sendo tão magro para sair pelo buraco da fechadura, meu tamanho não impediu que passasse pelas barras da lucarna da cela. Depois pulei para o muro, encontrei uma porta aberta, passei, percorri escadas, galerias e pátios, até chegar à ponte levadiça... Quando vi, estava livre, milorde.

O príncipe dos ladrões (1872)Onde histórias criam vida. Descubra agora