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ASSIM COMO Maude dissera, o impetuoso barão fora à cela de Allan Clare, seguido por seis soldados armados.

Nada de prisioneiro!

— Ah, ah! — riu ele como um tigre, caso os tigres rissem. — Ah, ah! É assim que obedecem às minhas ordens, estou verdadeiramente encantado! Para que servem carcereiros e torreão fortificado? Por santa Griselda! Vou passar a exercer meus direitos de alta e baixa justiça sem tanto aparato, trancando os prisioneiros no viveiro de pássaros da minha filha... Onde está o carcereiro com as chaves, Egbert Lanner?

— Está aqui, monsenhor — respondeu um soldado. — Bem seguro, ou já teria fugido.

— Pois se tivesse fugido você é que seria enforcado no lugar... Chegue aqui, Egbert. Está vendo a porta da cela? Está trancada. Está vendo o postigo? É estreito. Pois me explique então como o prisioneiro, que não é tão pequeno assim para passar por essa abertura, nem tão volátil como o ar para se evaporar pelo buraco da fechadura, pode ter escapado?

Mais morto do que vivo, Egbert se mantinha calado.

— Vai me dizer por qual vil interesse ajudou a evasão do criminoso? Faço a pergunta sem raiva, responda sem medo. Sou bom e justo. Se confessar o erro, quem sabe posso perdoar...

O barão fazia-se de magnânimo, mas à toa; Egbert o conhecia o suficiente para não acreditar. Apavorado, continuou em silêncio.

— Aliás, estúpidos escravos que são todos vocês! — lembrou-se de repente Fitz-Alwine. — Aposto que ninguém teve a presença de espírito de avisar o encarregado dos portões do que está acontecendo. Rápido, um de vocês, corra e mande Hubert Lindsay manter erguida a ponte levadiça e fechar todas as portas, por ordem minha.

Um soldado partiu imediatamente, mas se perdeu nos corredores escuros da prisão e caiu de cabeça do alto de uma escada que descia para um subterrâneo. A queda foi mortal. Ninguém se deu conta e foi graças ao desconhecimento dessa catástrofe que os fugitivos puderam deixar o castelo.

— Milorde — disse um dos soldados —, vindo para cá tive a impressão de ver o bruxuleio de uma tocha numa extremidade da galeria que leva à capela.

— E só agora me diz isso? — esbravejou o barão. — Realmente esses cretinos resolveram me liquidar a fogo brando. Só que vão morrer antes de mim, com certeza — acrescentou, sufocando de raiva. — Isso mesmo, vão morrer antes de mim, e vou inventar suplícios terríveis para vocês também, se não prenderem o herege que Egbert, para início de conversa, já vai substituir no cadafalso.

Terminando de dizer essas palavras, Fitz-Alwine arrancou uma tocha das mãos de um soldado e correu para a capela. Christabel estava de pé, diante do túmulo da mãe, parecendo mergulhada em profunda meditação.

— Vasculhem todos os cantos possíveis e imagináveis. Tragam-no vivo ou morto! — ordenou o barão.

Os soldados obedeceram.

— E você, minha filha, o que faz aqui?

— Rezo, meu pai.

— Por acaso não reza por um indivíduo sem fé e que merece a corda?

— Rezo por você, diante do túmulo de minha mãe, como pode ver.

— Onde está o seu cúmplice?

— Que cúmplice?

— Aquele traidor, Allan.

— Não sei dizer.

— Está me enganando, sei que está aqui.

— Nunca o enganei, meu pai.

O barão perscrutou o rosto pálido da filha.

O príncipe dos ladrões (1872)Onde histórias criam vida. Descubra agora