Acertei em Cheio

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BERVERLY

Após Jeff me falar sobre ele e Liu, pode perceber um grande ódio vindo das palavras. Jeffrey não se arrependia de ter matado o próprio irmão.

Esse não era o que mais me chocava, e sim o fato de que ele estava dirigindo as palavras principalmente para seu ponto de vista em relação ao convívio com o irmão, mas é perceptível que esse não é o único motivo de sua psicopatia.

Psicopatia é o de menos! Consigo diagnosticar vários transtornos diferentes vindo de Jeffrey, isso graças ao meu grande entendesse na área psicológica e por ter lido tantos livros sobre o assunto.

O principal motivo de tudo, pelo que eu pude perceber, é a depressão e talvez ansiedade. Jeff pode já ter nascido com sociopatia e psicopatia, mas se não fosse a depressão, esses transtornos não seriam "ativos".

Pode reparar que Jeff era o saco de pancadas por quase 24 horas por dia. Na escola, mencionou brevemente uns valentões, e em casa, tinha que aturar mais os desaforos de Liu. Não tinha convívio com seus pais e nem com amigos... Realmente, foi difícil sua infância.

Quando ele chegou na parte do assunto onde mencionava perder o controle, acredito que estava se referindo as suas emoções, e fazer aquele corte mal cicatrizado em seu rosto... Ele falou que eu mesma já havia esclarecido o motivo.
Não fazia ideia do que oque eu disse sobre a forma de se manifestar ou se expressar estava realmente certa, havia dito apenas como um chute, e pelo jeito, acertei em cheio.

Quando percebi que Jeff não era tão culpado por enlouquecer, que matar as pessoas não foi tão proposital assim, e sim que é a única forma que tem de se sentir... Vivo, alguma chama dentro de meu peito ascendeu.
Era como se agora, eu não o julgasse tanto. Embora seja completamente errado os atos de homicídio, não estava mais com raiva ou medo de Jeffrey, agora, sinto que podemos livremente nos tornarmos amigos.

Oque seria bom para mim, assim o tempo aqui dentro deste moquifo passará mais tempo, se houver diversão.

Parei meus pensamentos viajados quando percebi que Jeff estava me encarando. Agora que ele terminara de contar, provavelmente estava esperando alguma reação minha, fora essa expressão estranha que percebi agora que estava fazendo.

Bev- E-então tá. Era só isso que eu queria saber... Está tudo bem?

Jeff então parecia confuso e querendo chorar, mas duvido muito que ele se solte, ainda mais na minha presença

Bev- Quer que eu saia daqui?

Perguntei pois agora quem estava confusa era eu... Se eu sair do quarto assim será meio insensível da minha parte, pois está na cara que Jeffrey não está bem. Mas ele não é uma pessoa normal, ou qualquer, poderia não ser uma boa ideia ficar aqui e consolá-lo.

Jeff- N-não. Fique aqui um pouco... por favor.

O "por favor" saiu meio baixo enquanto Jeff entrelaçava os dedos nos cabelos. Depois suspirou pesadamente e sentou na cama, de cabeça baixa.

É realmente ruim ver ele desse jeito. Não por ser ele, qualquer pessoa sofrendo pelas próprias coisas que passam em sua cabeça é triste de se ver.

Nesse momento, meu instinto psicóloga estava querendo muito ajudar, mas não conseguia pensar em nada para falar. O fato de ele se irritar facilmente não ajuda em nada.

Por falta de idéias, achei melhor executar o meu plano de me tornar amiga dele. Assim ficará mais fácil e menos estranho de apoiá-lo nestes momentos.

Me aproximei dele na cama e sentei-me ao seu lado. Como se estranhasse algo, Jeffrey levantou um pouco a cabeça, e me olhou por trás das mechas de seu cabelo escuro e comprido.

Não, Berverly! Agora não é um bom momento para reparar o quão bonito esse cara consegue ser.

Num movimento meio rápido, o abracei.
Nesta hora ele arrumou a postura e abriu levemente os braços... Achei que iria me afastar, mas logo cedeu o abraço e lentamente o retribuiu.

Jeffrey está mudando, se eu o abraçasse assim a semanas atrás, seria bem capaz de ele me empurrar esse distanciar em um movimento brusco como da última vez.

Continuamos abraçados, agora sentia a respiração de Jeff ficar mais trêmula. Seria muito bom se ele chorasse agora, tiraria um grande peso de suas costas.
Será que eu falo para ele "se soltar", ou isso pode estragar o clima?

Agora, minha vontade de ajudá-lo só aumentava. Se Jeff se tratasse, pode deixar de ser esse louco, os sintomas de psicopatia, sociopata, depressão entre outros poderão diminuir gradativamente... E assim, poderei ter minha liberdade, e a cidade não terá esse serial killer.

Agora Jeff encostara uma de suas mãos nas minhas costas, apertando mais o abraço. Nesse ato consigo perceber ainda mais a for que sentira por todo esse tempo... Realmente, preciso ajudá-lo.

Levantei meu rosto para que pudesse olhar para ele agora. Estava com uma solitária e dolorida lágrima escorrendo em seu rosto, chegando cada vez mais perto de sua cicatriz que considero artisticamente incrível devido os sentimentos retratados na mesma.

Ainda não tinha idéia do que dizer a ele. Optei pela melhor opção e simplesmente sorri solidariamente enquanto secava sua bochecha com meu polegar.

Subi um poucos meus olhos, de encontro aos dele. Esses olhos tão simples, mas tão complexos ao mesmo tempo. Tão vazios mas tão cheios de solidão, tão negros e... Bonitos.

O brilho lacrimal contra essa escuridão penetrante, me fazia lembrar de algo que eu amava muito, mas não poderei ver tão brevemente: O céu estrelado a noite.

Sinto falta da minha vida fora daqui. Era tão bom os momentos em que andava pela rua todos os dias no final da tarde, e podia observar aquelas nuvens rosadas que traziam tanta paz. Eram esses os meus momentos favoritos, pois era quando me sentia completa.

Sinto falta da minha casa, tinha um terreno consideravelmente grande, onde eu gostava de ver o anoitecer deitada no gramado, um céu escuro e mesmo que muitas vezes nublado nesta época do ano, conseguia ser deslumbrante e misterioso.

Saí dos meus pensamentos ao perceber oque eu estava sentindo agora. Neste momento em que estou abraçada de Jeff, me sinto estranhamente em paz.

Parece que os problemas sumiram brevemente, me sinto tranquila como se estivesse naqueles momentos adimirando o mistério céu.

Agora, eu reparava em cada detalhe do rosto de Jeffrey, todas as linhas de expressão não muito aparentes estavam agora relaxadas. Seu rosto sem semblante nenhum, como se também estivesse perdido em pensamentos agora... Mas dessa vez, não eram ruins.

Jeff- Bev, porque está fazendo isso?

Jeff The Killer: porque?Onde histórias criam vida. Descubra agora