O senhor que mora sozinho

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Mais um dia de aula se passou, foi um dia divertido. Teve uma brincadeira na sala de aula que acabou resultando em um sorteio, onde Hendery acabou ganhando um baralho de Uno sem nem saber como. Esses dias YangYang tem estado mais próximo também, era bom ter um amigo em sua sala, já que os outros do grupo eram todos de salas diferentes e Xiaojun ainda tinha Renjun como companhia.

Já na entrada de sua casa Hendery pôde ouvir gritos, gritos que já não ouvia há um tempo, mas sempre voltavam. Seus pais brigavam com frequência, lembrava de que quando menor eles eram um casal adorável. O garoto não sabia o que tinha feito os dois ficarem daquele jeito, mas em uma das discussões à noite, ele conseguiu ouvir seu nome no meio da conversa.

Lembrava muito bem do dia que ouviu sua mãe dizer "... por causa do Hendery...", talvez tenha sido tirado do contexto ou um mal entendido. Mas aquilo sempre deixava Hendery meio cabisbaixo, não gostava das discussões de seus pais e gostaria menos ainda se fosse o motivo.

Como qualquer adolescente maduro e responsável com seus problemas, Hendery deu meia volta e foi para um ponto de ônibus para pegar o primeiro que aparecer.

(...)

Por coincidência (ou não), o ônibus que Hendery pegou dava no norte da cidade. Sim, onde Xiao mora. O garoto andava em direção à casa do chinês mas nem sabia se o avô do garoto estava por ali, torcia para que não estivesse, não queria arrumar problemas para Dejun.

Hendery estava parado um pouco distante da casa, tentando enxergar qualquer movimento por ali. E teve a brilhante ideia de ir até a porta para ver quantos pares de sapatos havia na entrada, e foi isso que ele fez. Só não esperava dar de cara com o homem que ele menos queria ver no momento.

— Posso ajudá-lo? - o homem parecia ainda mais assustador de perto, a feição séria dele era de dar arrepios na pele do garoto à sua frente.

— Ah...- Hendery tinha muito pouco tempo para bolar um plano e sair dali, então foi com o primeiro que apareceu - Eu sou do colégio neo, estou no primeiro ano do ensino médio e o senhor poderia me dar uma entrevista? É um trabalho sobre pessoas que moram em zonas mais rurais. - o homem pareceu pensar um pouco sobre o que o garoto acabou de dizer e Hendery já estava suando frio. Segundos depois o homem apenas convidou o chines menor para entrar.

Enquanto Hendery se agachava para tirar seus sapatos, ele olhava para o cômodo onde o homem havia entrado. O cômodo ficava ao lado da porta de entrada e no pé da escada, e pelo o que parecia, era a sala de estar.

Hendery sentiu um estranho incômodo, vindo de um déjà-vu, sentia que já havia visto aquela sala. O sentimento ficou ainda pior quando entrou naquele cômodo, sentia um clima pesado, tão pesado que seus ombros começaram a doer como se tivesse carregando aquilo, aquela estranha sensação o fazia querer sair correndo. Viu o homem sentar em uma poltrona e erguer a mão apontando para o sofá ao seu lado, indicando que era para o menino sentar. Hendery tirou um caderno da mochila para complementar na atuação, enquanto tentava disfarçar o nervosismo.

— Então... O senhor mora sozinho?

— Sim. - o garoto estranhou a resposta.

— Sozinho? Tipo o senhor não tem nenhum neto ou esposa? - quando viu o maxilar do mais velho trincar Hendery lembrou do que jaemin já havia dito para ele: "Calado você é um poeta". Levaria aquela dica para sua vida.

— Não.

— Certo... - anotou no caderno.

(...)

Xiaojun como já havia terminado seus afazeres, lia um livro que tinha pegado na biblioteca da escola, já estava cansado de ler e reler os livros que sua avó havia deixado. Há pouco tempo havia descoberto que é muito divertido ler enquanto ouve música, mas como música era algo proibido dentro de casa, mantém o aparelho que Hendery havia lhe dado na cabana, por precaução.

O aparelho era muito importante para si e cuidaria dele com todo o carinho do mundo, era o primeiro presente que recebia de um amigo, que recebia de Hendery.

Desceu as escadas para checar se seu avô ainda estava ali ou se já havia saído. Já no final da escada avistou dois pares de sapatos, os de seu avô e um all star preto. Prestando mais atenção no ambiente ele conseguiu ouvir vozes conversando vindo da sala de estar, ia subindo a escada novamente sem fazer barulho mas reconheceu a voz da suposta visita.

"Deus, sou eu de novo" - pensou o garoto. Xiaojun travou ali na escada e não sabia se subia ou se descia. O menino começou a tremer de nervoso, botou a mão na testa tentando raciocinar o que Hendery estava fazendo ali. Quando ouviu Hendery agradecendo por alguma coisa e se despedindo, Xiao acordou de seu devaneio e subiu rapidamente para seu quarto.

- Obrigado pela entrevista senhor Xiao, até algum dia - disse o menor sorrindo amarelo para o homem mais velho, que ficou com a mesma expressão séria o tempo todo.

Saiu caminhando mas indo pelo caminho que fica ao lado da floresta, olhou para trás e viu que o homem já havia entrado dentro da casa então se escondeu atrás de uma árvore. Pela janela, viu que Dejun o encarava mortalmente, se ele o matasse mais tarde, Hendery o perdoaria.

— Estou indo, volto só a noite - disse o homem já saindo pela porta enquanto Xiaojun olhava da escada.

Um tempo depois, Xiaojun saiu de dentro da casa e foi até o lugar onde Hendery estava escondido. Apenas pra checar se o garoto havia ficado ali todo esse tempo.

— Hendery. - chamou pelo garoto que estava sentado em uma pedra distraído com o celular, levou um mini susto e agora olhava para Dejun com outro sorriso amarelo - Por que você estava falando com o meu avô?

— Eu vim porque queria falar com você, então fui até a porta para ver se seu avô estava em casa, por causa dos sapatos e tal... - Hendery já estava falando um pouco rápido e embolando algumas palavras, o que foi fofo na visão de Xiao - Aí ele abriu a porta e eu falei que eu tava fazendo um trabalho e precisava entrevistar alguém que mora em zona rural e foi isso. - ele sentia muita vontade de perguntar sobre o avô ter dito que morava sozinho, mas isso parecia ser um assunto delicado demais para falar no momento, iria esperar o momento em que Xiao quisesse o contar.

— Ai Hendery o que eu faço com você? - revirou os olhos e riu, não conseguia ficar bravo com Hendery - E o que você queria falar?

— Sabe jogar Uno?

— Você veio até aqui só para perguntar isso?

— Não, eu também trouxe o Uno.

— Não sei nem o que é Uno.

— Vamos para a cabaninha que eu te ensino - disse Hendery puxando o braço do outro para dentro da floresta como se soubesse para onde estava indo.

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Me desculpem se vocês acharem qualquer erro, sempre reviso mas nunca se sabe né 🌹 obrigada por lerem.

Electric Hearts - XiaoderyOnde histórias criam vida. Descubra agora