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Babi

Já faz uma semana que eu vejo o coringa todas as tardes,ele não mudou muito,permaneceu calado durante todo esse tempo.

Ele não parece ser um psicopata,bom aparências enganam.

Me arrumei novamente para ir vê-lo,e dessa vez espero conseguir alguma informação,eu fico com ele das 16:30 até às 18:30,oque já é tempo demais.

Dei tchau para meu pai e sai de casa,rumo a garagem.

Entrei no carro e dei partida.

Cheguei no hospital psiquiátrico e liberaram minha entrada,passei pelos corredores daqui e senti um certo medo.

Várias pessoas psicopatas nao me dão medo,na verdade é oque fazem com elas que dão medo.

Fui até a cela do coringa e mostrei meu certificado para o segurança que eu poderia entrar,ele acenou e destrancou o cadeado.

Eu entrei e me sentei na cadeira,dessa vez não irei me sentar próximo dele,ele estava dormindo ainda.

Passou-se 5 minutos e eu tive que acordar ele, infelizmente.

Quando eu toquei sua bochecha na intenção de o chacoalhar ele deu um pulo alto,oque me assustou um pouco.

Me sentei novamente e fiquei olhando pra ele,que ainda estava processando oque estava acontecendo.
Ele se levantou e arrastou uma mesa de ferro até a mim e a colocou a minha frente junto a uma cadeira,
Se sentou e colocou os cotovelos acima da mesa enquanto me observava.

—bom,hoje pela primeira vez eu realmente vou fazer as perguntas, não se sinta pressionado.-pego a prancheta e coloco na mesa e depois a caneta.

—okay.-ele não negou?okay vamos lá né.

—você teve algum trauma quando criança ou ainda tem?algo o feriu e vc apenas guardou esse sentimento?-digo enquanto anoto essa pergunta na prancheta.

—sim,com meus pais,amigos de escola e familiares.-ele diz e coça o nariz.

Coringa.

Talvez eu esteja louco,mas durante todo esse tempinho ela foi diferente,vou dar uma chance a ela.

Mais não vou arregar assim de vez, obviamente.

—e oque ouve nessa época?fizeram algo para você?-ela franzi o cenho.


—sim.

—oque eles fizeram?-ela fixa o olhar no meu.


—meu pai,ele depois de um tempo,se descobriu gay,e isso nunca foi um problema para mim,só que quando ele disse isso para todo mundo,todos me zoaram.
ZOARAM MEU PAI,BATERAM NELE,BATERAM EM MIM,ESPANCARAM ELE ATE A MORTE,E TIVERAM O PRAZER SE JOGAR A CABEÇA DELE EM MIM!!!SE NÃO TIVERAM DÓ DELE,EU NÃO TEREI DE NINGUÉM!-digo já gritando.

Aquele assunto ativava uma coisa dentro de mim,que me fazia ficar furioso.

Peguei a mesa de metal e a joguei na parede com tudo,fazendo ela voltar e se despedaçar no chão.
Ela me olhava,com lágrimas no rosto,se aproximou de mim,e me abraçou.

Ninguém além do meu pai nunca me abraçou,nunca.

Mais estar ali com ela não foi algo ruim,apenas deixei levar.

Ela é baixa,curvei o pescoço e abaixei para ficar de sua altura,e rodiei meus braços pela sua cintura.

Depois de um tempo assim,eu me acalmei,meu coração ainda estava a mil,mais não de ódio,e sim de algo,uma coisa estranha.

Ele quase saia pela boca,e isso era confortante,como uma praga dessa é confortável?poha.

Nos separamos e ela me encarou,se sentou e fez um aceno para eu me sentar.

—sabe quando eu era mais nova,tinha um irmão,por consideração,meu pai o adotou quando eu era bebê,e cuidou dele,entende?só que um dia ele me levou pra escola,e no caminho,o arrastaram e levaram ele para um beco,bateram nele de todas as formas possíveis,somente porque ele era negro.-ela já estava chorando e eu prestava atenção a cada detalhe da conversa.—a questão é que,nunca terão dó,e eu até pensei em virar uma maluca total,mais vivi forte por meu pai,eu sinto muito.


—vc deveria ter tentado,eu achei quem o matou,e eu simplesmente os joguei para cães,viraram apenas restos,e pagaram pelo oque fizeram.

—okay isso foi perturbador.


—mais...vc não pode contar isso a ninguém,vão querer me tratar,me encher de remédios,me chamar de depressivo,e abusar de minha fragilidade com o assunto.

—entendo,tudo bem,bom já passei do horário,até amanhã coringa.


Ela sai e eu volto a olhar pra parede,o jeito que ela me acalmou.

Normalmente só uma camisa de força faria isso.

Mais,agora há a dúvida,a puxo para o meu lado,ou vou para o dela?escolha difícil.

Psicopath.Onde histórias criam vida. Descubra agora