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Eu andava de um lado para o outro na sala de estar, tentando controlar a minha ansiedade

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Eu andava de um lado para o outro na sala de estar, tentando controlar a minha ansiedade. Falhei.

No almoço, dona Vanessa me avisou que teríamos uma conversa assim que ela chegasse, ás seis e meia. Agora são, exatamente, seis e trinta e um, e eu estou sentindo o meu coração querendo explodir no meu peito.

Ela provavelmente me mandaria morar na Itália se descobrir as coisas horríveis que eu fiz, no mínimo. O pior seria ter de conviver com ela, sabendo da merda que eu fiz, sabendo que foi culpa minha. Mas eu não podia entrar em pânico, não agora.

─ Oi, amor. ─ suas palavras soam de maneira doce, me tranquilizando um pouco. ─ Me desculpa por te deixar ansiosa, mas eu tive que avisar, para caso você saísse. Não posso mais adiar essa conversa.

Fico nervosa de novo. Minha mãe se senta no sofá, batendo ao seu lado para que eu me sentasse com ela.

─ Eu terminei com o Hall. ─ ergo as sobrancelhas. Não era exatamente isso que eu esperava, mas era uma das coisas que eu imaginava que ela ia dizer. ─ Quero dizer, eu já planejava fazer isso, mas então ele me chamou para jantar ontem a noite e esclareceu as coisas. Não estou mal e nem nada do tipo, mas imagino que você esteja.

Eu tenho plena certeza de que não havia cor alguma no meu rosto.

─ Eu não sou idiota, Ronnie. ─ suspiro, encarando meus dedos. Eu não ia dizer nada, afinal, eu ainda não sei o que ela sabe e até onde ela sabe; eu posso me entregar sem saber. ─ Quando você ficou em casa naquela semana, eu vi o jeito que vocês dois brincavam, o jeito que vocês se olhavam.

Nem eu tinha percebido.

─ Eu não sei se algo aconteceu enquanto eu estive fora, e prefiro não saber. ─ balanço a cabeça, um pouco mais aliviada, mas com a consciência pesada. ─ Afinal, ficar brava por isso seria hipocrisia da minha parte.

Arregalo os olhos.

─ Então você ficou com alguém? ─ automaticamente, fecho os olhos com força. É, eu me entreguei. ─ Quero dizer...

─ Fiquei, Ronnie. Ele é lá da empresa, é um gato. Eu neguei o seu pedido para sair duas vezes, mas cedi na terceira e... Aconteceu. ─ ela encosta no estofado, nem um pouco abalada com as minhas palavras. ─ Que a verdade seja dita, eu só pedi algo sério com Bryce por pura carência, não tinha certeza se ele aceitaria ou não. Além de ele ser ótimo na cama, apesar de só ter acontecido uma vez.

Então ele não mentiu, afinal.

─ Eu não sei se você gosta dele, filha, mas eu sei que ele gosta de você. ─ ela segura as minhas mãos. ─ E eu quero que você saiba que, do fundo do meu coração, eu não estou brava, triste e nem magoada com nenhum dos dois. Eu juro.

Senti que estava na minha vez de dizer algo, e não pude aguentar.

─ Nós nos conhecemos naquela festa que eu fui um dia antes de você trazê-lo em casa. ─ a sensação de poder, finalmente, dizer tudo era ótima. ─ Nós ficamos, bem, mais do que ficamos, e então ele passou de um cara aleatório em uma festa, para o novo namorado da minha mãe.

─ Ok, eu vou ignorar o fato de que você transou com um desconhecido em uma festa. ─ ela diz, com o seu senso de humor intacto, mas com um pingo de tom de bronca.

─ Bem, ele havia acabado de me salvar de um possível estupro, então eu achei que podia confiar nele naquele momento. ─ mexo os ombros. ─ Eu gosto dele, mas não sei quanto. Só faz dois meses desde que nos conhecemos, e eu estive mais confusa do que nunca.

─ Eu entendo, amor. ─ dona Vanessa me abraça, me dando o conforto que eu precisava desde o primeiro dia. ─ Se você gosta dele, não deixe isso passar. Vai por mim, eu sei como é deixar um amor escapar entre os dedos.

Ficamos conversando por mais alguns minutos, até ela dizer que precisava de um banho longo e dormir por doze horas seguidas.

De noite, tudo o que eu temia começou a me atormentar. Estava claro que eu não o amava – não ainda, pelo menos –, mas o quanto eu gostava dele? É o suficiente para tentar algo? Ele também gosta de mim?

Naquele momento de desespero, peguei o cartão de crédito destinado a emergências e comprei uma pizza tamanho família, uma porção média de batatas, um refrigerante de dois litros e algumas barras de chocolate. É uma emergência, afinal.

Há uns cinco anos, eu sofria de distúrbio alimentar; anorexia e compulsão, portanto, quanto mais eu comia, mais eu queria comer, ainda que me enxergasse como uma baleia nojenta no espelho todas as manhãs.

São em momentos como este – onde a minha mente não consegue trabalhar –, que eu como. Como tudo o que estiver na minha frente, sem questionamentos e sem pensar em como aquilo me daria indigestão no fim do dia.

Quando as coisas chegaram eu já estava na porta, eufórica. Fiz duas viagens para conseguir levar tudo ao meu quarto – com o bônus de um pote de sorvete e os cookies que restaram de ontem. E comi.

Surpreendentemente, eu consegui acabar com quase tudo no tempo de um episódio de The Originals, e não sentia nada. Eu não me sentia cheia, muito pelo contrário, eu me sentia mais vazia do que antes, e eu precisava de mais.

Ao decorrer da noite eu fiz doze cupcakes e mais dez cookies. A única coisa capaz de me parar naquele momento foi a falta dos ingredientes para fazer mais coisas. Ali, eu tive que me contentar com o vazio.

─ Vivian? ─ a voz da minha mãe soou pela casa silenciosa. Eu, que antes tinha a cabeça apoiada na ilha, agora a olhava. ─ Ah, meu amor...

Os braços dela me apertaram em um abraço que pareceu durar horas.

─ Tudo vai se resolver, Ronnie. ─ apenas balanço a cabeça. ─ Quer saber o que eu penso sobre isso? ─ novamente balanço a cabeça. ─ Eu acho que os seus sentimentos por ele estão trazendo tudo à tona. As crises de pânico, de ansiedade, a compulsão... Não estou dizendo que é culpa dele, nenhum de vocês é culpado, é só que você nunca passou por isso antes, e quando as coisas estão prestes a explodir, você tem uma recaída de algo que já superou há muito tempo.

Talvez ela esteja certa. Talvez a emoção esteja falando mais alto que a razão, mas o que eu posso fazer? Ignoro ele pelo resto da minha vida? Deixo que as recaídas me afetem mais do que afetavam no passado? Fujo pra Itália?

─ Ainda assim, eu acho que isso é bom. ─ ela me olha. ─ Você sabe, se apaixonar e essas coisas, é completamente...

─ Eu não estou apaixonada! ─ me apresso em dizer. É verdade. Eu não estou apaixonada.

─ Ah, Vivian, minha doce e linda Vivian... ─ suas mãos passeiam pelo meu rosto em um gesto carinhoso. ─ Eu sou sua mãe, Vivian, e intuição de mãe nunca falha. Você pode enganar a si mesma, mas não a mim. ─ ela se aproxima. ─ Eu já estive em uma situação parecida, e você sabe como acabou.

Ah, claro, o detalhe que eu sempre escondo de todos. Michael, o meu querido doador de esperma, além de um adolescente inconsequente e irresponsável, também foi o namorado da minha tia, antes que ela voltasse para a Itália com a minha avó. Quando minha mãe ficou sozinha, ele se aproximou e o resto da história todos já sabem.

─ Faça a escolha certa, Vivian.

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