58 | vivian

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Mal dormi de sexta para sábado

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Mal dormi de sexta para sábado. Bryce me trouxe em casa por volta das três e meia, depois que os meninos chegaram. Passei o restante do dia organizando as lembrancinhas do evento do dia seguinte.

Passei quase a madrugada toda revendo os episódios de Sherlock na Netflix, e gritando internamente a cada vez que ele fazia aquela coisa no cabelo. Confesso que eu o imitava depois de concluir a série na primeira vez.

Consegui dormir apenas quando percebi a luz do sol passando pelos buraquinhos de metal da janela fechada. Quando acordei, abri a janela e prendi a risada quando percebi que todos ali "gritavam" em sussurros, ou simplesmente falavam baixo, enquanto moviam algumas mesas do lugar ou coisa do tipo.

─ Obrigada por prezarem pelo meu sono. ─ mando um beijinho no ar para minha mãe, que segurava o lado de uma mesa, enquanto Tay segurava o outro. ─ Alguém pode me dizer que horas são?

─ Quase duas, senhorita. ─ Jaden responde rapidamente. ─ Você deveria arrumar esse seu fuso horário, V.

Mostro a língua pra ele e voltei a cabeça para dentro do quarto. Peguei meu roupão atrás da porta e fui para o banheiro, entrando em um banho longo e relaxante. Lavei o cabelo e o hidratei, depilei as pernas e limpei a sobrancelha quando já estava fora do box.

Finalmente, abri a porta do banheiro e suspirei com a corrente de ar frio que atingiu meu rosto enquanto caminhava até o meu quarto novamente.

Como eu e Bryce já havíamos combinado, só estariam presente aqueles que realmente importam para nós, portanto, nossos amigos, nossas mães e Kaylan, apenas. Não havia necessidade de mais ninguém aqui além deles.

Minha mãe saiu com Thunder enquanto eu secava o cabelo. Ela não iria simplesmente jogar algumas gotas de violeta genciana ou azul de metileno nele, é óbvio; ela estava o levando na casa de uma amiga veterinária, que tinha o tipo de tinta para animais que não causavam nenhum tipo de alergia ou doença, e então Thunder ficaria apenas colorido, e não doente.

─ Se estiver pelada se cobre, tô entrando! ─ Tayler grita do lado de fora, cinco segundos antes de abrir a porta do meu quarto e me encontrar sentada no banco da penteadeira, com o roupão bem preso e com o secador na mão. ─ Charli mandou eu ver se você precisa de ajuda.

Eu não conseguiria engolir a piada.

─ Devo te chamar de pau mandado? ─ cruzo os braços, achando graça.

─ Eu chamo isso de amor. ─ ele mexe os ombros. ─ E não é como se o Bryce não lambesse o chão caso você pedisse.

Meu sorriso murchou na hora.

─ Qual é, V. ─ ele se senta na ponta da cama, virando o banquinho para que eu ficasse de frente para ele. ─ Você sabe que ele te ama.

Levando em consideração a expressão em seu rosto, era muito provável que o meu rosto estivesse totalmente pálido.

─ Ele disse isso à você? ─ pergunto, desviando o olhar.

─ Disse. ─ ele responde. ─ Ontem a noite. Fomos dar um tapinha no quintal, e você sabe como ele é quando fica chapado... Ele disse que estava cansado de guardar para ele mesmo e admitiu que te ama. Acho que foi a primeira vez que ele falou em voz alta, porque quando ele percebeu, o rosto dele ficou mais pálido que o seu. ─ reviro os olhos.

─ Já que você está sendo usado como caixinha de segredos... ─ movo o olhar para meus dedos, que se mexiam freneticamente sobre minhas coxas. ─ Talvez eu o ame também...

Era mesmo muito estranho admitir para outra pessoa.

Ele não parecia surpreso.

─ E posso saber por que vocês não estão agindo como uma família feliz nesse exato momento? E não me diga que é por causa do lance com a Valentina, nós dois sabemos que vocês dois evoluíram e amadureceram muito depois daquilo e você parece já ter superado. ─ tive alguns segundos em silêncio para raciocinar suas palavras.

Tayler, muito provavelmente, sabia mais sobre mim do que eu mesma.

─ Porque... ─ olho para os cantos do quarto, sem nenhuma desculpa. ─ Porque não vai alterar o resultado final, e eu prefiro não sofrer mais do que claramente já vou.

Era estranho admitir isso também.

─ Você precisa de um psicólogo, Vivian. ─ dou um sorrisinho. ─ Não estou brincando, você realmente precisa! Somos amigos há meses, V, e os traumas que você não me contou por vontade própria, eu pude adivinhar pelas suas atitudes.

A velocidade da minha respiração se intensificou.

─ Eu sei que você teve dois tipos de transtornos alimentares, tem crises de pânico e de ansiedade, porque você me contou e me deixou te ajudar com isso. Elas pararam, não foi? ─ assinto, envergonhada. ─ Agora que as cartas estão na mesa, Vivian, podemos falar sobre o seu medo de abandono e a sua responsabilidade afetiva?

Ou melhor dizendo, a minha falta de responsabilidade afetiva.

Eu estava mesmo precisando de um balde de água fria agora.

─ Você não deixa as pessoas se aproximarem de você pelo medo da dor que vai sentir se algum dia elas partirem, mas você não tem como saber se elas vão partir, V. ─ ele segura minhas mãos. ─ E, se algum dia já fizeram, foi por consequência dos seus afastamentos. Sim, eu sei que o seu pai é um babaca e é totalmente culpa dele, mas você já se perguntou o porquê de ele ter ido? ─ nego com a cabeça. ─ E isso faria alguma diferença? ─ novamente, nego com a cabeça.

Tayler aperta minhas mãos e abre um sorriso fraco.

─ Do medo nasce a indiferença, mesmo que falsa, e é essa mesma indiferença que empurra as pessoas para mais e mais longe de você. Você estilhaçou e sapateou no coração do Hall quando disse aquelas coisas pra ele no dia da festa, e isso o levou a completar a merda. ─ trinco os dentes ao lembrar daquela cena. ─ Não houve nenhum inocente naquele dia, Vivian. Você o tratou com tanta indiferença que ele realmente achou que não significava nada pra você. Os dois foram culpados.

─ Eu continuo fazendo essas merdas de novo e de novo... ─ levantei a cabeça, impedindo o choro. ─ Eu percebi que o amava quando dormimos juntos no quarto dele, ainda antes de Valentina chegar, e não movi um fio de cabelo pra demonstrar isso. Agora as coisas entre nós estão arruinadas por causa do meu medo idiota e por não acreditar que alguém seria realmente capaz de me amar. É tudo culpa minha.

─ Eu não diria isso. ─ eu teria caído do banco se Tay não estivesse me segurando. ─ Juro que não estava bisbilhotando, só ouvi a última parte. ─ Hall dá dois passos para dentro do quarto quando Tay se levanta e me da uma piscadinha antes de sair e nos deixar sozinho.

Aproveitei os breves segundos para secar os olhos, e então já estávamos a sós no meu quarto. O observei rapidamente, passando o olhos pela sua camiseta colorida e na calça jeans preta antes de o encarar de novo.

─ Podemos conversar sobre isso?

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