52 | vivian

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O clima frio de outono estava finalmente dando as caras, e eu parecia com um guarda-roupa ambulante

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O clima frio de outono estava finalmente dando as caras, e eu parecia com um guarda-roupa ambulante.

Uma camiseta, uma camisa de manga longa, uma blusa de moletom, uma meia-calça, uma calça de moletom e duas meias, era exatamente isso que eu vestia.

Parece exagero, eu sei, mas acontece que o aquecedor resolveu parar de vez e me abandonar no frio.

Apertei a caneca branca nos dedos, aproveitando a temperatura quente que ela expelia. Logo a fumaça pararia de subir e o chocolate quente viraria chocolate frio se eu não o bebesse logo.

Eu estava tão focada no episódio de A Maldição da Mansão Bly que nem reparei quando minha mãe passou pela porta completamente ofegante. Só a identifiquei quando ela parou na frente da televisão, de braços cruzados.

─ Vivian Bella Vienna, posso saber por que você ainda não está pronta? ─ franzi a testa, dando outro gole no chocolate quente.

─ Não sabia que tínhamos compromisso hoje. ─ falo, calmamente.

─ Você sabe que dia é hoje, Vivian? ─ reviro os olhos. Eu tenho mesmo andado um pouquinho fora de órbita, mas é claro que eu sabia que dia era hoje. Três de novembro! ─ Hoje é dia cinco, Vivian! Seu ultrassom é em quinze minutos e nem o cabelo você penteou!

Cuspi o chocolate para dentro do copo.

─ Tá doida? Hoje é dia três, mãe! ─ ela revira os olhos e me mostra o ecrã do celular. Cinco de novembro. Porra.

─ Vai se trocar. Agora.

Fiz o que ela disse e fui para o meu quarto o mais rápido que eu consegui – já que subir escadas estava se tornando um pouquinho difícil. Continuei com a meia-calça e a calça de moletom, mas me livrei da camisa de manga longa. O resto estava no mesmo lugar.

Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e calcei o tênis sem cadarço que eu tinha comprado semana passada.

Meu celular vibrou no meu colo dois minutos depois que dona Vanessa arrancou com o carro na avenida a oitenta por hora, provavelmente se esquecendo que tinha uma grávida no banco do passageiro. Era uma mensagem de Bryce, dizendo que tinha acabado de chegar no hospital.

Merda.

Eu tinha esquecido completamente que eu teria que aguentar o clima de ter os dois no mesmo quarto. Puta merda!

Bryce tinha passado a tarde comigo no sábado, "brincando" com o bebê e conversando comigo – casualmente, como se eu não tivesse chorado litros semanas antes.

Minha mãe também estava completamente boba pelo bebê, sempre brincando quando estava em casa.

Acho que não será tão difícil quanto eu pensei que seria, mas ainda será estranho.

Automaticamente, abracei Bryce quando o vi – nós dois ficamos surpresos por isso – e esperamos pela minha vez. Conseguimos chegar com cinco minutos de antecedência.

─ Se o médico conseguir ver o sexo do bebê hoje, a festa será no sábado, tudo bem? ─ minha mãe diz, olhando para nós dois. Assentimos.

─ Você consegue organizar tudo em menos de uma semana? ─ pergunto e ela revira os olhos.

─ Você tá duvidando da minha capacidade, filhota? ─ é a minha vez de revirar os olhos.

Foi o tempo de eu suspirar nervosamente para que meu nome fosse chamado pelo médico.

De início, o médico achou estranho que minha mãe também estivesse junto, mas entendeu a situação quando explicamos que apenas ela saberia sobre o bebê naquele dia.

─ Quatro meses? ─ o médico pergunta, colocando as luvas brancas.

─ Completo cinco meses no dia oito. ─ falo, tentando controlar minha respiração.

Eu já tinha passado por aquele gel outras três vezes, uma em cada mês, mas a cada vez ele parecia mais gelado.

O médico murmura alguma coisa, que eu não entendi pelo nervosismo. Em questão de segundos ele pediu para que eu levantasse a blusa e despejou o gel na minha barriga.

No breve desespero, encontrei a mão de Bryce que, novamente, me olhou surpreso. Aquela também não era a primeira vez dele aqui comigo, mas devido as circunstâncias...

─ Querem ouvir o coração? ─ nós dois assentimos freneticamente.

Os batimentos ritmados, pela terceira vez, me fizeram chorar. Era sempre uma emoção diferente saber, a cada mês, que um ser humano era desenvolvido no meu ventre. É surreal.

─ Seu bebê está em perfeitas condições. Quinze centímetros e aproximadamente duzentas e dez gramas. ─ ele diz, olhando para o monitor. De repente, o contorno do bebê se mexe e o rostinho fica de frente para a tela, e o que parecem suas pernas, se abrem. ─ O que temos aqui...?

O médico continua passando o aparelho pelo gel até erguer uma sobrancelha e torcer o nariz. Eu me desesperaria se ele não fosse mais rápido em falar:

─ Já tenho a resposta à pegunta de vocês.

O restante da consulta seguiu perfeitamente bem, ele me receitou algumas vitaminas e mais remédios para enjôo, e, claro, as recomendações de sempre: pegue sol, não beba muito gelado, se exercite e etc.

Minha mãe ficou na sala com o médico por mais três minutos, e foi o tempo para eu me recompor.

─ Sábado é o grande dia, então. ─ Hall murmura, esfregando as mãos. ─ Você pretende chamar alguém? Tipo, alguém que não seja nossos amigos.

─ Não, acho que não. ─ respondo. ─ E você?

Ele hesita.

─ Eu... ─ ele tosse. ─ Eu não sabia que seria esse sábado, e minha mãe vai vir me visitar na sexta-feira.

Eu tenho certeza que eu parecia o Gasparzinho agora, de tão branca.

─ Eu posso pedir pra ela adiar o vôo, se você quiser. ─ ele sugere, mas eu balanço a cabeça.

─ De jeito nenhum. ─ sorrio fraco. ─ É sempre bom conhecer alguém novo pra falar mal de você, e sendo sua mãe... Será que ela vai trazer álbum de fotos constrangedoras? Eu adoraria.

─ Ha-ha! ─ ele revira os olhos, mas tinha um sorrisinho no rosto.

Eu estava surtando por dentro.

Minha mãe sai do hospital com um sorriso discreto no rosto. Ela nunca tinha dito o que queria que meu bebê fosse, então eu não tinha como adivinhar somente pela sua expressão.

─ Quer que eu te leve em casa? ─ ela pergunta, abraçando meus ombros.

─ Você vai se atrasar para o trabalho. ─ falo. ─ O Hall me leva. Ele, com certeza, não vai dirigir a quase cem por hora com uma grávida do lado dele.

─ Larga de ser dramática! ─ ela resmunga e deixa um beijo na minha testa. ─ Até mais tarde, então. Tchau, Bryce.

Hall passou o resto da tarde comigo, assistindo filmes e jogando videogame.

E o bebê não parava de chutar.

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𝗠𝗢𝗠'𝗦 𝗕𝗢𝗬𝗙𝗥𝗜𝗘𝗡𝗗. Onde histórias criam vida. Descubra agora