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Desejei poder ficar surdo por uma noite, para não ter que escutar três camas diferentes batendo em três paredes diferentes

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Desejei poder ficar surdo por uma noite, para não ter que escutar três camas diferentes batendo em três paredes diferentes. Porra, como isso é chato.

Mesmo do lado de fora eu ainda podia ouvir as três gemendo.

Não vou mentir, fiquei puto.

Nunca fui do tipo que vive a base de sexo, e eu não estive com ninguém desde que conheci Vivian – e, se eu não estiver enganado, a nossa última transa foi em outubro. Dois meses sem dar umazinha não era uma catástrofe, mas porra...

Há pouco mais de um mês eu tive esse mesmo sentimento de abstinência de sexo, e eu até pensei em acionar um contato do meu celular e descarregar toda a minha frustração nisso, mas foi ai que eu percebi que transar com qualquer garota não tinha a menor graça.

Ou, como eu gosto de chamar, foi ai que eu percebi que eu to na merda.

Bastou dois minutos para eu raciocinar que, se meu coração é completamente de Vivian, então o meu pau também é. Isso não me ajudou em nada.

Então, a única coisa que me serviu de alívio durante esse tempo foi a minha própria mão.

─ Bryce? ─ engasgo com a fumaça do cigarro quando escuto um sussurro. Vivian ri enquanto se aproxima. ─ Não quis te assustar, desculpa.

─ Não foi nada. ─ apago o cigarro no chão e dou espaço para ela se sentar ao meu lado. ─ Pensei que estivesse dormindo.

─ Eu estava. ─ ela suspira. ─ Nailea me acordou. Ou Charli. Ou Taylor, não sei qual das três.

─ Provavelmente foram as três juntas. ─ ela ri baixo.

A avalio de cima a baixo, controlando meus impulsos de pular sobre ela como um predador em sua presa. Não era dia, hora e nem lugar pra isso.

Se bem que só transamos em uma cama uma única vez.

─ Tá com fome? ─ me levanto em um pulo, não aguentando estar tão perto dela, mas, ao mesmo tempo, tão longe.

Praticamente corro até a cozinha, tratando de montar dois sanduíches – se tem uma coisa que eu aprendi, é que grávida nunca recusa comida.

Logo ela havia se juntado a mim, com seu vestido bege beirando seu joelho servindo de camisola. Esfreguei os olhos e dei mais uma mordida no meu sanduíche, enchendo um copo com suco de laranja.

─ Aconteceu alguma coisa? ─ ela questiona, com a testa franzida.

─ Não, nada. ─ mexo os ombros.

Terminamos nossos sanduíches e eu insisti para que ela voltasse para cama, porque amanhã todos acordaríamos cedo. Besteira. Com quase todos acordados a essa hora, é impossível qualquer um acordar antes das dez.

─ Bryce! ─ ela me grita em sussurro. Respiro fundo e vou até ela, deixando a porta do quarto aberta. ─ Você tá estranho. O que você tem?

Como explicar a mãe do meu filho que eu estava tendo um ataque interior por puro tesão acumulado.

A resposta é simples: você não explica.

─ Foi a maconha, Vivian. ─ falo, sabendo que ela entendia que chamá-la pelo nome era sinônimo de desconforto, raiva ou os dois. ─ Podemos dormir?

─ Claro.

Sua resposta seca e curta fez meu estômago se retorcer, mas não havia muito a se fazer naquela situação mais do que embaraçosa.

─ Pode deitar, eu vou usar o banheiro primeiro. ─ falo e saio do quarto meio segundo depois.

Sabiamente, escolhi o banheiro social para ir. Nem fodendo que eu ia fazer isso no banheiro do nosso quarto e correr o risco de ser flagrado com a mão no pau.

Por isso, tentei ser o mais breve e silencioso possível. Não sabia se tinha funcionado ou não, mas o barulho de uma das camas ainda se sobressaía no silêncio da casa.

Quando voltei para o quarto enxerguei o rosto de Vivian sendo iluminado pela tela do celular da mesma, enquanto ela sorria. Me aproximei sorrateiramente e tirei a camiseta, ficando apenas com a calça de moletom que eu estava usando como pijama.

Quando deitei, descobri o que a fazia sorrir: fotos de Thunder. Vanessa havia enviado há ela horas antes, mas ela ficava vendo e revendo elas incessantemente.

─ Eu estava sonhando com o nosso bebê antes de acordar. ─ ela diz, desligando o celular e virando para mim. ─ Agora, tudo o que me lembro é de um bebê sem rosto, mas o sentimento ainda é o mesmo.

─ Eu estava no sonho? ─ vejo ela aquiescer.

─ Você estava trocando a fralda dele, e aí ele mijou na sua cara. ─ ri baixo, começando a brincar com as unhas grandes que ela tem. ─ E quando eu fui zombar de você, você...

─ Eu o quê?

─ Você me beijou. Com o rosto molhado de xixi. ─ ambos fazemos uma careta. ─ Foi nojento.

─ Vou guardar essa informação para usar contra você daqui alguns meses. ─ ela revira os olhos.

Um suspiro pesado deixa seus lábios.

─ Posso te contar uma coisa? ─ ela me pergunta baixinho, mesmo que fosse impossível de alguém nos ouvir.

─ Claro.

Ela suspira de novo.

─ Tenho medo de ser uma mãe ruim. ─ aperto sua mão, dando apoio para que ela continuasse. ─ E também tenho medo de ser uma mãe como a minha.

Franzo a testa.

─ Não que dona Vanessa seja uma mãe ruim, longe disso. ─ ela se justifica. ─ É só que... Eu passei por tanta coisa, tantos traumas, tantas crises... E ela mal sabe disso. ─ ela funga, e eu não demoro para perceber que ela chorava. ─ Ela é uma ótima mãe quando está presente. Depois disso ela é só.. uma sombra. Fumaça.

Não podia dizer que a entendia, porque realmente não entendia. Meus pais sempre foram presentes na minha vida em tantas coisas quanto puderam, até que meu pai morreu e eu saí de Omaha. Mas eu entendia o medo de falhar com o nosso bebê. Eu o sinto todos os dias.

─ Se preocupar em ser uma boa mãe já te torna uma boa mãe, V. ─ levo a mão livre até seu cabelo, fazendo um cafuné leve ali. ─ Esse bebê tem a mãe mais carinhosa e atenciosa, mas também a mais teimosa e raivosa. ─ ela sorri. ─ E gostosa também.

Levo um tapinha no braço e dou risada em resposta.

─ Você não precisa de preocupar com isso agora, Ronnie. Não hoje, pelo menos. ─ ela balança a cabeça em concordância e se aconchega nos meus braços.

A esse momento, outras coisas preenchiam a minha crise de abstinência de minutos atrás.

Pensar no meu amor por Vivian melhorava tudo.

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𝗠𝗢𝗠'𝗦 𝗕𝗢𝗬𝗙𝗥𝗜𝗘𝗡𝗗. Onde histórias criam vida. Descubra agora