Capítulo 4

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Oiii, alguém aí?

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Sarah's Point of View

Puta que pariu!

Fechar-me num cômodo pequeno com Juliette havia sido uma péssima ideia.

Ela estava perfeita sob a luz da lâmpada vagabunda que iluminava o cômodo. Seria tão fácil eu acabar com a distância entre nossos corpos e beijá-la de modo com que eu ansiava há tanto tempo... mas aquela garota me odiava com todas as forças e a única coisa que eu poderia esperar dela seria um belo soco na cara.

- Quem te disse que eu preciso de aulas para conquistar o Bill? – Sua voz me tirou dos meus devaneios e eu desviei meu olhar de sua boca para seus olhos castanhos, que pareciam mais lindamente brilhosos.

- Ninguém precisa dizer nada, você realmente espera conseguir alguma coisa com ele com seus "bom dia, Bill"? – Eu usei meu tom mais debochado, mas internamente, eu esperava que Juliette nunca conseguisse nada com aquele filho da puta. Ela ruborizou e abaixou a cabeça.

Tão linda...

- Eu vou ter que te entregar minha alma?

- Quê? – Eu franzi o cenho e ela levantou a cabeça para mim.

- Satanás sempre pede a alma em troca de favores. – Ela disse com um risinho debochado.

"Eu espero que no final de tudo isso, você me entregue seu coração, palhaça. "

- Eu estou falando sério, sua idiota! Eu passei anos ouvindo o babacão falar sobre garotas e sei muito bem como ajudá-la a ficar com ele e deixar o caminho livre para eu ficar com a Gizelly – Obviamente que eu não o deixaria chegar perto dela. – Além disso, você não deve nem saber como funciona um beijo, não é? –Prendi a respiração esperando uma resposta, mas sinceramente eu não esperava que ela fosse me dizer.

Ela desviou o olhar e um suspiro de alívio escapou sem que eu pudesse conter porque aquilo era a confirmação de que ela não havia beijado ninguém.

- E quem garante que você não vai me sacanear como você tem feito desde que nós nos conhecemos?

Ela estava realmente pensando na possibilidade de aceitar aquele acordo?

- Por que eu te sacanearia? Eu sou a maior parte interessada nisso tudo. –Parte daquilo era verdade. Aquela ideia estúpida havia surgido do nada, assim como todas as ideias estúpidas que eu havia tido ao longo dos anos.

Nos conhecemos quando eu tinha nove anos de idade e ela se mudou para a casa ao lado da minha.

Ela usava um vestido horrível com golas de Peter Pan e um laço gigante que caía por suas orelhas e quase chegavam aos ombros, fazendo-a parecer um coelho. Infelizmente nosso primeiro contato foi desastroso. Os Freire haviam resolvido fazer a cerimônia da boa vizinhança na casa dos meus pais e minha mãe achou uma boa ideia falar para Juliette ir me procurar na varanda de trás e quando ela chegou lá, se deparou comigo agachada na caixa de areia do gato, soltando um barro. Eu fazia aquilo todas as vezes que estava brincando no quintal e sentia preguiça de entrar dentro de casa e ir ao banheiro. Fiquei tão envergonhada, que comecei a gritar e xingar Juliette enquanto levantava o short e corria para dentro.

E foi assim que o inferno começou.

Os nove anos seguintes foram passados sob muitas idas à detenção, cabelos cortados e presentes de grego distribuídos entre Juliette e eu. Então ali estávamos nós, ela me odiando com todas as forças sem fazer ideia de que meus sentimentos por ela haviam mudado drasticamente nos últimos anos enquanto o único modo que eu havia encontrado de mostrar a ela que eu não era uma babaca total, era "empurrando-a" para cima do cara do qual eu tinha todos os motivos do mundo para odiar.

- Eu não confio em você Andrade, mas eu estou cansada de apenas dar "bom dia" para o Bill. –Ela levantou o queixo e ergueu as sobrancelhas arqueadas –Como funcionariam essas tais aulas? Aliás, como você saberia me ensinar alguma coisa se eu mesma nunca a vi com alguém?

Caralho... Eu me guardava para ela há muito tempo e não era tão experiente quanto fingia ser, para dizer a verdade, eu não era nada experiente e só havia beijado uma pessoa na minha vida, durante uma brincadeira.

Vamos lá Sarah, use a confiança que você não tem!

- Ao contrário de uns e outros, eu não fico exibindo meus relacionamentos para o mundo –De súbito, enlacei sua cintura com o meu braço e troquei nossas posições, imprensando-a contra a porta e passando minha mão livre por trás do seu pescoço –Se você acha que sou incapaz, posso te dar uma prova de graça Freire, o que acha? –Eu me aproximei de seu rosto, apenas esperando o momento em que ela iria me empurrar e me estapear. Passou-se uns dois segundos e ainda estávamos na mesma posição, até que ela fechou os olhos e aproximou sua cabeça milimetricamente.

Meu coração começou a bater como um louco e eu sabia que o som de suas batidas frenéticas se misturava ao de nossas respirações naquele cômodo apertado e silencioso. Os lábios que dominavam meus sonhos todas as noites e meus pensamentos todos os dias estavam entreabertos prontos para receberem o primeiro beijo e eu só precisava avançar alguns centímetros.

Eu não queria que o primeiro beijo de Juliette fosse dentro de um armário empoeirado com a pessoa que ela mais odiava na face da terra, mas porra! Ela não estava me ajudando. Ela tinha que ser tão perfeita? Aquilo não parecia uma recusa e eu não era feita de aço.

Mandando qualquer pensamento à puta que pariu, eu acabei com o espaço entre nossas bocas.

Foi o encostar de lábios mais perfeito da história do mundo. Meu estômago parecia um viveiro com pássaros furiosos querendo escapar e minhas pernas trêmulas pareciam varas verdes enfrentando a fúria de um furação. Os lábios de Juliette tinham um sabor indescritível e meu coração transbordou de amor ao senti-la aumentar a pressão do nosso contato. Levei minhas duas mãos até as laterais de seu pescoço e encaixei seu lábio inferior entre os meus, antes tomá-los entre meus dentes em uma leve mordida.

- Você está ficando louca? –Juliette me empurrou com força, fazendo com que minhas costas batessem com força na parede e várias vassouras caíssem em cima de mim. –Você estragou a porra do meu primeiro beijo, sua filha puta!

- Juli... –Eu ainda estava desnorteada.

- Juli é o caralho! Você ultrapassou todos os limites, Andrade! Como se não bastasse tornar minha vida um completo inferno todos os dias, ainda fez o sonho da minha vida virar um pesadelo. –Ela apontou o dedo para mim – Eu não preciso da porra da sua ajuda para conquistar ninguém, eu posso fazer isso sozinha. Faça o favor de voltar para o inferno, que é o lugar de onde você nunca deveria ter saído! Eu nunca vou te perdoar por isso. – Ela ajeitou a alça da mochila, se virou e abriu a porta, batendo-a com força ao sair.

Eu era uma escrota.

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You Hate Me but I Love YouOnde histórias criam vida. Descubra agora