01| Presa

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A M B E R

O barulho insuportável das mulheres gritando enquanto as outras duas se matam é extremamente insuportável. Parece que o único divertimento delas é ver essas coitadas se destruírem nessas brigas ridículas. 

Não vejo nenhuma graça nisso e percebo que realmente esse não é o meu lugar, mas infelizmente, fui condenada a pena máxima em regime fechado e por isso, vou ter que aguentar essa tortura para sempre.

Pensar nisso me faz cogitar acabar com tudo que aconteceu e ainda acontece comigo. Na minha mente.

Ficar aqui dentro, presa, me faz lembrar de uma época que me aterroriza até hoje. E eu me odeio por ter me colocado nessa situação. Se eu tivesse deixado minha vingança de lado, nada disso estaria acontecendo. Eu sempre fui invisível. Matava aqueles filhos da puta sem deixar rastros, e provavelmente, minha irmã nunca iria me encontrar. Mas não, eu tive a brilhante ideia de querer a destruir. E agora, estou pagando pelos meus atos.

Volto meu olhar para as duas mulheres que estão sangrando. Chega ser humanamente impossível uma delas conseguir sair dali com vida, e isso me deixa um pouco nervosa. Já basta o inferno que estamos vivendo aqui dentro e ainda por cima umas às outras querer se matar chega ser absurdo, por isso, me levanto de onde estou, passando um pouco espremida entre as outras presas e indo em direção as duas. Sem pensar em outra forma de acabar com aquilo, apenas puxo a que estava por cima para longe. Seu primeiro movimento é tentar me socar, mas eu a impeço, segurando em seu pulso. 

Todo o refeitório fica em um silêncio absurdo ao ver o que eu fiz, e como eu sei que grande parte delas me respeita pelo simples fato de eu ser considerada "foda" por matar estupradores, resolvo pedir educadamente para pararem.

Garotas, nós estamos todas no mesmo barco, porque brigar pela porra de um prato de comida, se todas tem acesso ao mesmo alimento?! — falo um pouco alto, esperando qualquer reação vindo delas.

Ninguém diz absolutamente nada. Os olhares estão todos na minha direção, pensando no que eu acabei de falar.

— Já estamos presa aqui dentro, ninguém se importa conosco… O Estado não liga se estamos vivendo bem… Então, pensando nisso, porque não nos unimos ao invés de nos separarmos? Todas juntas seremos mais fortes.

A mulher que eu tirei de cima da outra olha para alguém e logo em seguida abaixa a cabeça concordando com algo.

— A novata está certa… Talvez devêssemos nos unir — escuto uma voz grave dizer. Me viro na direção da voz e percebo que é uma das líderes que manda por aqui. Ela me olha com respeito e isso me faz voltar a respirar com mais calma. — Sem brigas por comida e qualquer coisa que esteja incomodando vocês, venham até a mim.

Me afasto um pouco, voltando para a minha mesa ao ver que todas elas voltaram para seus respectivos lugares como se a palavra da tal mulher fosse a lei. Mas no fundo, eu sinto que nada ficará calmo por muito tempo, afinal, estamos dentro de um presídio. Isso é quase impossível.

Antes de me sentar na minha cadeira, sinto a presença de alguém, isso me faz automaticamente me virar.

— Sou Kira, a comandante do barco. — diz, levantando sua mão cheia de tatuagens, esperando que eu a aperte. Como não estou em condições de negar, o faço.

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