08| Sem lógica

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A M B E R

Desde sempre, estive acostumada a desconfiar de tudo e de todos ao meu redor. Cada coisa que passei durante minha infância e adolescência, presa naquele cativeiro com Max Thompson me transformaram no que sou hoje. E eu não estou pronta para receber tudo que venho recebendo aqui.

Quando comecei a socializar na sociedade, sabia que precisava criar um personagem e também, precisava me proteger. Por isso, as poucas vezes que fui a um psicólogo, quando estava na casa de Angelina, ele me disse que eu estava começando a criar uma barreira nas minhas memórias, e isso não era ruim. Eu sabia tudo que eu passei, mas me protegia, proibindo minha mente de projetar tudo aquilo. E eu gostei disso. Eu me sinto um lixo às vezes. E quando estava muito mal psicologicamente tinha pesadelos com ele, mas sempre fazia algo para tentar apagar qualquer coisa. Por isso, quase sempre eu tinha um cara diferente na cama.

Mas hoje, olhando para trás, não consigo me orgulhar disso. Não consigo gostar de nada disso. E a culpa desses pensamentos, nesse momento, é exclusivamente de Dominic. Ele está fazendo isso comigo.

Dois dias dentro desse apartamento e minha vida parece estar sendo transformada em outra.

Evitar lidar com as pessoas que transitam aqui é um saco, porque eu sinto que eu posso ser um pouco mais legal. Mas eu tenho medo. E só de pensar nisso, me faz ver, mais uma vez, que eu não sou mais a mesma.

O filho de Dominic é a coisa mais fofa que já pus meus olhos e ele nem se fala. Esse homem vem se infiltrando dentro de mim de uma forma absurda. Nesse tempo, cada coisa que ele faz, sendo totalmente atencioso e me tratando com tanto carinho, está me pisando por dentro.  Eu simplesmente não sei lidar com sentimentos bons.

Olho mais uma vez para a televisão do quarto, tentando me distrair com o que passa ali, mas não consigo. Queria ir até lá fora, ver como as coisas estão, e o que está acontecendo, e admito, que também quero ver aquele bebê lindo.

Bufo, jogando meus pés para fora da cama, perdendo o receio de sair desse cômodo. Ninguém vai me tratar mal. Mesmo com olhares assustados, quando Dominic me apresentou as funcionárias, elas foram bem educadas. E ele deixou bem claro que não preciso ficar aqui o tempo todo.

Saio do quarto e resolvo verificar um pouco mais o apartamento dele, afinal, ele não me mostrou quase nada, fora os cômodos principais.

No final do corredor vejo uma porta e não resisto à vontade de ir até lá. Ao entrar, me surpreendo com o que vejo. É o quarto de Ian, e é a coisa mais incrível que já vi. Todo decorado com carrinhos, ursos de pelúcia e uma infinidade de brinquedos de todos os tipos.

Fico admirada porque a cada nova coisa que descubro, percebo que Dominic é o tipo de pai que eu sempre quis ter. Ele é amoroso com seu filho. Nitidamente daria sua vida pelo pequeno e isso é admirável demais.

Nos dias de hoje, é bem difícil encontrar um pai assim. Ainda mais solteiro. Fiquei atenta a tudo que ele fazia ontem - não vou fingir que não estava o verificando, porque eu estava. Caso eu visse qualquer mão errada, ou olhar diferente, ele não estaria mais vivo - e devo admitir que sua interação com seu filho é linda. Até me senti uma intrusa mas logo eles me envolveram na conversa e foi bem estranho, mas eu gostei. 

O cheirinho dele me faz não querer sair mais daqui, mas opto por fazê-lo, não quero ser pega bisbilhotando nada. Já basta os olhares que recebo. Não preciso de mais.

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