Capítulo 49

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Estar envolvida num mundo onde a violência e tida como a melhor forma de resolver questões pendentes é doloroso, mas ficar no meio do fogo cruzado e desesperador, me sinto exatamente assim, bem na fronteira entre as duas famílias, sei que pareço já ter escolhido o meu lado mas na verdade eu não quero ver meu pai perdendo a vida, não quero ver as futuras gerações da minha família sendo extinta.

A vontade de vingança cobriu todo ser de Víctor, parece que uma manta preta o veste por inteiro impedindo dele enchergar tudo que o cerca, sempre li nos livros de romances que o bem sempre vence o mau e o amor é soberano diante de todo sentimento ruim mas parece que na vida real isso não é uma regra.

Meus dias estão tristes e mesmo tentando lutar eu não consigo, cada dia que passa percebo o afastamento do homem que eu amo, Víctor está voltando para aquele abismo que ele vivia, sinto sua mão soltando a minha aos poucos e acho que não serei capaz de continuar assistindo tudo isso sem fazer nada.

- Sula preciso sair um pouco, por favor avise ao Senhor Baruk. - comunico Sula deixando meu celular em cima da cama e saindo rápido do quarto não deixando brecha para ela dizer alguma coisa.

Dispenso meu motorista mas não consigo fazer o mesmo com os seguranças, estou indo a um lugar que Víctor não pode nem sonhar que irei.

Alguns dias atrás recebi um recado do meu pai, uma criança da escola de música me entregou inocentemente um papel, estava tudo escrito em português, era uma carta de meu pai, nela ele me pedia perdão, e me pediu para ir ao local anotado. Ele precisa conversar comigo e talvez essa seria a última vez que eu o veria.

Guardei aquela carta e não contei nada ao meu marido, talvez eu tenha feito errado mas eu precisava manter meu pai longe de Víctor. Despistar dos seguranças não foi uma tarefa fácil, fingir ir em algumas lojas, caminhei pelo shopping por horas e eles continuavam descretamente me acompanhando, até eu entrar em uma loja de lingerie onde ficaram um pouco afastados, paguei a uma funcionária e ela me ajudou a sair pela porta dos fundos da loja. Deixei meu carro no estacionamento e peguei um taxi, o local que meu pai estava era quase 4 horas de carro partindo de Istambul.

Chegando ao local sentir um aperto no peito, meu sexto sentido estava tentando me avisar que algo de ruim aconteceria mas eu não dei ouvidos. Paguei ao motorista do taxi e andei por alguns minutos floresta a dentro a procura da casa que meu pai se escondia.

O local estava silencioso e a casa apesar de está bem conservada parecia abandonada, ao bater na porta meu pai abriu e me puxou rápido para dentro, ele estava com o semblante abatido, parecia mais magro e toda aquela pose de soberano havia se perdido.

Seu Ibrahim me abraçou forte como nunca feito antes, e apesar de não está olhando em  seu rosto eu percebir que chorava enquanto me abraçava, me aconcheguei em seu abraço e começei a chorar também, minha infância e adolescência passou em minha mente como fleches, eu desejei tanto um abraço carinhoso do meu pai a minha vida inteira.

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