Saturno || Reinier Jesus

- um.

Você pode pagar as minhas contas?

Você pode pagar as contas do meu telefone?

Você pode pagar as contas do meu carro?

Se você pode, então ficaremos numa boa

Eu não acho que você pague

Então você e eu terminamos

Ri traduzindo a música na minha cabeça, enquanto subia a rua de casa. É Beyoncé, era só alguém pra pagar as minhas contas, porque a mãe aqui ta cansada.

- Eaí, meu gato. - Disse, vendo meu vô molhar as plantas.

- Eaí, magrela. - Virou o rosto, fazendo biquinho, enquanto eu ria e abaixava, beijando seu rosto.

- Isso é hora de molhar planta, filho? Faz o que de manhã?

- Vou jogar no bicho e beber pinga no boteco. - Revirei os olhos, jogando a bolsa no sofá.

- Não é nem doido de botar pinga pra dentro.

- Ah, e a bonitona pode?

- Lógico. - Ele riu. - O que o senhor quer comer hoje?

- Nossa fia, vai tomar uma água, descansar, depois pensa no velho aqui. - Sentei no sofá, vendo ele entrar com a cadeira de rodas na sala.

- Vou perguntar novamente, o que o senhor quer comer hoje?

- O vô ta sem fome. - Revirei os olhos e ele riu.

- Vou fazer um ovo mexido show, quero ver a fome não aparecer rapidinho. - Levantei, indo pra cozinha, enquanto ele vinha atrás. Comecei a preparar as coisas, pensando em algo pra acompanhar os ovos. Mudei de ideia e resolvi fazer omelete com salada de rúcula.

- Como foi no trabalho hoje? Nem te vi sair.

- Cansativo, vôzinho. Quando saí não tinha nem clareado ainda, mas foi bom. Fotografei pra uma marca de maquiagem que gosto muito.

- Ganhou negócio pra passar na cara de graça?

- Ganhei. - Ri. - Mas o que importa é o dinheirinho no bolso da gata aqui, é isso que eu quero.

- Tô vendo que vou ter que ir na porta da Kappa pedir pra nego lá te fotografar pro meu Vasco, não vai ter jeito.

- Vai mesmo, que pedido de idoso não se nega.

- Idosa é você, minha filha. Mas ia ser foda, imagina, neta minha em campanha com camisa do meu Vascão? Ta maluco, ia até tirar foto na frente, mostrar pra essa Vila da Penha inteira. - Ri.

- Pro Mengo ia ser mais gostoso, né? Pede lá pra Adidas.- Ele me olhou sério.

- Vou ignorar o que você disse, tenha paciência, né? - Gargalhei. - Vai trabalhar amanhã?

- Não, só domingo.

- Plena sexta, não vai sair?

- Eu não, vou ficar aqui com o senhor.

- Que ficar aqui o que, sexta feira, você de folga, não vai pra um pagode? Na minha época era até crime fazer isso. - Ri.

- Não quer minha companhia não, Antônio?

- Não. Quero que você curta sua vida, que não fiz seu pai bonito, pra te fazer mais bonita ainda, pra gatona chegar no auge da idade e ficar em casa cuidando de gente velha.