quarenta e dois.

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Pra quem não gostava de desfilar, temos mais um na conta. Sempre com minha dupla, mas ao mesmo tempo sozinha, já que desfilaríamos para estilistas e em horários diferentes.

Acho que de todas as vezes que desfilei, esse era o evento mais importante. O tanto de gente da moda que tinha presente, era surreal. Cada vez que eu dava uma espiadinha nas cadeiras próximas à passarela, era uma arregalada de olho diferente. Porém, por incrível que pareça, era o evento em que eu estava mais calma e segura.

Já tinha acordado assim, me sentindo a xerecuda, e depois de quase morrer de ansiedade todo pré desfile, merecia, né? A parte negativa é que era em um dia péssimo, plena sexta, de tarde. Flavinha tinha faculdade, os meninos treino, vô não conseguia vim sozinha, mas terror nenhum, que já lancei o link pra geral ver. A mãe estava confiante.

Assim como fotografar, desfilar causava um cansaço físico absurdo, se não mais. Doia o pé, a pele ficava irritada de tanta maquiagem, corpo cansava, vista cansava. Mas continuavamos intactos, como se nada tivesse acontecendo.

Terminaram de me vestir para o primeiro desfile e formei a fila, dessa vez, no meio. Sou tagarela, então fazia amizade super fácil, mas confesso que estava com saudade do meu xodó. A música começou, eu respirei fundo, fechei os olhos e ouvi as cortinas abrirem, começando a andar, esperando a minha vez de entrar.

Pisei naquela passarela como se tivesse no Fashion Week, posturada, sérinha e olhando pra frente, mas a periférica sempre trabalhando. Nessas, juro que vi Flavinha e mais algumas pessoas com o rosto conhecido ao lado, mas logo os flashes ficaram mais fortes e não consegui conferir se era mesmo na volta.

Fiz três desfiles, no meio, abrindo e encerrando, e posso falar? Entendi porque Vitinho ama. O homem é confiança pura e desfilar seguro é gostoso demais. Sigo preferindo fotografar e é assim que quero seguir, mas qualquer oportunidade que tiver de desfilar, farei até ritual pra entrar assim sempre.

Como sempre não tirei a maquiagem, que hoje estava um babado, apenas tirei a roupa, tomei um banho rápido, coloquei a minha e saí, indo para o espaço atrás da passarela e só então encontrei Victor.

- Caralhooo, você arrasou hoje, minha nega. - Victor me abraçou, me girando no ar.

- Você que estava maravilhoso, que isso. Agora a gringa vem. - Ele riu.

- Tomaraa. - Deu uns pulinhos, me fazendo rir. - Essa maquiagem de bilhões, que isso, tu ta um arraso. Babo muito em você, xodó. - Me girou, enquanto eu ria e ele entrelaçava nossas mãos.

- Eu amei muito desfilar hoje, tava levinha, sem nervoso, foi tudo.

- Eu percebi, tava tranquila demais. Como os nossos foram seguidos, só consegui ver o último, mas estava parecendo uma princesa da Namíbia na passarela. - Gargalhei. Percebi que ele olhava pra trás de mim enquanto falava e como bela curiosa, fui olhar também, mas ele segurou minha mão mais forte.

- Iiih tóxico. - Ele riu.

- Tem um pretinho lindo ali atrás, to tentando flertar com ele, mas se tu olhar disfarçando como tu sabe, vai dar muito na cara.

- Eu disfarço super.

- Horrores. - Ri. - Deixa ele se afastar que eu te mostro. Mas han, continua contando como se sentiu.

- Desse jeitinho aí, parecendo uma princesa da Namíbia, principalmente nesse último que me colocaram aquele vestidão, cheia de acessório, meu amor, ninguém me segurou ali.

- Tava a coisa mais linda mesmo. - Ouvi a voz do meu bem.

- Oxi. - Virei, vendo ele segurando um buquê de flores que não faço a minima ideia de quais são, mas eram lilás e lindas demais. Olhei por trás dele, vendo meu avô, Flávia, João e Gabigol. - Não acredito, cara. - Ri, o abraçando.

Saturno || Reinier JesusOnde histórias criam vida. Descubra agora