Capítulo 16

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Por incrível que pareça a dona Natália e o Luís assumiram o namoro deles. A Sofia ficou muito surpresa. Eu também, não posso negar. Depois do jantar de ontem, a Sofia apareceu hoje no bistrô para conversar comigo.

— Tenho certeza que serão felizes. — falei.

— Acredito também. — ela concordou.

A dona Natália estava feliz e o Luís não era diferente. Aliás, todos nós estávamos dessa forma.

— Você esperava por essa?

— Nunca. Mas se a gente reparar bem entre eles sempre teve certo clima.

Ela sorriu.

— Ótimo. Só quero ver a cara da Ivete quando souber. — a minha amiga continuava sorrindo.

— Melhor deixar essa peste bem longe.

— Faz tempo que ela não dá as caras. — a Sofia não sabia que a Ivete tinha ido ao meu apartamento e levado uns tapas da mãe dela.

Preparava algumas coisas para abrir o bistrô e a Sofia se despediu. Pensei no Danilo e fiquei como uma boba sorrindo.

Eu amava o meu trabalho, mas pensar no Danilo fazia as coisas passar mais rápido. Ele disse que me encontraria aqui quando fechasse. Quando os funcionários se despediram fui ao meu pequeno escritório só para organizar alguns pedidos do estoque, e ao entrar na minha sala tinha uma cesta em cima da mesa.

Estranhei porque ninguém avisou que chegou nada para mim. Cheguei mais perto e tinha um bebê dentro.

Olhei mais uma vez pra acreditar que os meus olhos não estavam me traindo.

Ele dormia serenamente. Era um bebê lindo.

Ao lado da cesta estava uma bolsa e tinha uma carta em cima.

Isso tudo era muito estranho. Abri a carta, mas estava com medo. Não sabia o que esse bebê fazia aqui.

Mari, espero que cuide do Dom. Ele é um bebê maravilhoso e saudável. Não posso ficar com ele e você foi a primeira pessoa que me passou pela cabeça. Você é uma boa pessoa. Por favor, cuide e ame esse bebê como se ele fosse seu. Não o rejeite também, Mari. Ele merece uma boa mãe, tudo que nunca vou conseguir ser. Não tive coragem o suficiente para tirá-lo, mas também não sou corajosa o bastante para cuidar dele. Seja a mãe que ele merece, é só o que te peço.

Ass.: Carla.

Li outra vez pra ver se eu entendia bem.

Procurei em todos os cantos do bistrô por alguém. Fui à janela e a Carla olhava do outro lado da rua. Ela chorava. Sai do bistrô a sua procura e ela havia desaparecido.

Escutei o chorinho do bebê e o peguei no colo. Ele era muito fofo, mas eu não podia ficar com ele. Pra começo de conversa ela nem deveria ter feito isso, deixar uma criança aqui e sumir no mundo. Essa história era muito doida pra minha cabeça.

Ele também precisava ser trocado e fiz isso. A bolsa também tinha umas roupinhas, fraldas e uma mamadeira.

A Carla estava grávida esses dias. Ela não contou que em tão pouco tempo seria o parto. Não sei o que se passou pela vida dela, mas era ter contado o que acontecia que daríamos um jeito de resolver, não de deixar uma criança sem a mãe.

— Está sendo babá por uma noite?

O Danilo chegou e eu não sabia como contava pra ele.

— Eu não sei.

Ele sorriu.

— Ué, Mari. O que esse bebê faz aqui então?

Entreguei a carta nas mãos dele. O Danilo até sentou.

— Nossa. — foi tudo que ele conseguiu dizer.

— Eu sei.

O Danilo passou as mãos pelo rosto e logo se aproximou.

— Qual é o nome dele?

— Ela disse que é Dom.

— Ele é fofo.

— Sim é.

— Cuidaremos dele.

— Danilo? Como assim? Ele precisa da mãe dele. Aquela irresponsável cuidará dele. Vou a casa dela.

— Mari. Calma. — pegou o bebê dos meus braços — Fala mais baixo pra não acordá-lo.

— Como ter calma nessa situação? — falei sussurrando.

— Nós podemos cuidar dele. Você vai ter a coragem de entregar esse carinha pra adoção?

— O caso não é esse, Danilo.

— Essa mulher claramente deve ter tido os seus motivos pra fazer algo assim. Pelo menos, ainda teve o juízo de deixá-lo aqui com você.

— Amanhã procurarei alguém para resolver essa situação. Estou perdida.

— Você não sabe o que fazer, não é?!

— Claro, eu não esperava que a Carla fosse deixar o filho aqui e ainda me pedir pra ficar com ele. Tudo o que ela me contou há uns dois meses foi que estava grávida, ela não falou que já teria o bebê. Depois sumiu e voltou dessa forma.

— Agora vamos levá-lo para casa porque esse rapazinho precisa descansar.

O pediu que eu o segurasse para que ele pegasse a bolsa e as outras coisas. Me sentia perdida com esse bebê nos braços.

Depois que o arrumamos na minha cama. O Danilo tentou fazer outra mamadeira.

— Parece que você já se sente pai.

— Eu já estive aí no lugar dele.

— Como?

— Os meus pais me abandonaram na rua. A nossa diferença é que a mãe dele teve o cuidado de deixá-lo com você, o meus pais não, me largaram a própria sorte na rua.

Não sabia sobre o que ele passou.

— Não sabia disso. Apenas que o Luís te adotou.

— Se não fosse ele, eu teria morrido provavelmente.

— Você não conhece os seus pais biológicos?

— Não. Mas soube que morreram quando eu tinha dez anos. Nada justifica o que eles fizeram. Se o meu pai não tivesse passado exatamente ali no momento que eu precisava de um milagre, a vida teria acabado. Eu não tinha esperanças mais. Talvez você seja o milagre que essa criança precisava.

— Meu Deus, Danilo!

— Não sei o motivo de ela fazer esse pedido pra mim.

— Porque ela sabe o quanto você é boa.

O Danilo disse que ficaria a noite para me ajudar a cuidar do bebê.

— Vamos descansar e não pense sobre isso agora. Amanhã falaremos sobre isso e você pode ter mudado de ideia.

— Eu não quero por maldade. Só não me sinto preparada para ser mãe ainda. Cuidei dos meus irmãos, sei que fui uma mãe pra eles. Mas agora eu não sei o que fazer.

— Você não precisa fazer nada e nem decidir nada hoje.

Não sabia se conseguiria cuidar dessa criança. A minha vida começava agora a entrar nos eixos, não sei se teria espaço assim. Me sinto má pensando dessa forma, mas não me programei para ter um filho, muito menos uma criança jogada nos meus braços do nada.

A Carla foi muito irresponsável em fazer uma coisa dessas. Mas agora não podia resolver nada, seguiria a sugestão do Danilo e dormiria, amanhã procuraria o conselho para entregá-lo. Era isso. Ele ficaria bem.

MARIOnde histórias criam vida. Descubra agora