Capítulo 17

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Cuidar de um bebê era uma tarefa complicada, principalmente se não se preparou.

Hoje pela manhã acordei pelo chorinho dele. O peguei em meus braços e quando ele olhou pra mim, o meu coração doeu.

Acho que eu estava louca.

O olhar dele dizia pra cuidar dele. Será que ele tem noção do que aconteceu na vida dele nas últimas horas?

Ele era muito pequeno, mas muito fofo. Depois de trocá-lo e dar a sua mamadeira, tentei ainda ligar para a Carla e não atendeu.

Não sei, talvez eu tivesse a esperança que ela voltasse a trás e visse a besteira que fez.

— Ela não vai atender.

O Danilo tirou o celular da minha mão e beijou o meu rosto.

— Como ele está?

O bebê sorriu pra ele.

— Bem. Preciso encontrar a Carla e conversar com ela. Essa história é confusa. Ela não pode simplesmente deixar o filho comigo e fugir.

— O que isso quer dizer?

— Que irei encontrá-la e devolver o seu filho.

— E?

— Vou cuidar dele até lá. Não sei como funciona essas coisas e não quero que ela perca o filho por medo ou o desespero que a fez largar tudo. Primeiro, vou entender o que aconteceu e depois tomo uma decisão.

— Te apoio. E vou ajudar nessa.

— Você sabe que não é a sua obrigação.

— Sei, mas sei também que cuidar de alguém dá trabalho e posso e quero ajudar você. Além disso, fico feliz que você tomou essa decisão. Estou aliviado na verdade.

O Danilo se sentia no lugar desse bebê, indefeso e abandonado. Essa situação deve mexer muito com ele.

Eu precisava saber se era muito pra ele lidar com isso.

— Danilo... — não sabia como começar — Já percebi que você se vê um pouco nele quando era criança. Se essa situação for difícil pra você, por favor, não quero que lide com o que não pode.

Ele tocou o meu rosto e sorriu.

— Eu já me libertei do sentimento de abandono dos meus pais. Mas é inegável que me coloco no lugar dele, porque já estive aí quando criança e fui rejeitado. Mas eu quero ajudar, quero que ele possa ter um começo de vida diferente da que eu tive.

— Te entendo. Fico feliz que você conseguiu superar. Ele ficará bem.

Segurei a mão do bebê e ele sorriu pra mim.

— Como você pôde ter pensado em entregar o Dom. Ele é tão sorridente.

— Eu sei, ele é lindo, ele é fofo. Mas agora é a hora do banho.

— É, amigo, você está precisando.

— Temos que comprar tudo o que ele precisar.

— Farei isso.

O Danilo saiu. Fiquei sozinha sem saber o que fazer com o Dom.

Cuidar dos meus irmãos desde que a Ivete foi embora quando eles tinham dois anos de idade, foi a experiência mais desafiadora da minha vida.

Mas ainda tínhamos o meu pai que sempre cuidou de tudo. Hoje me vejo sozinha com esse bebê.

Quer dizer, não estou sozinha.

Sorri.

O Danilo está comigo.

— O Danilo está com a gente.

— E estou mesmo, querida.

Ele tinha várias sacolas nas mãos.

— Compraremos mais amanhã.

— Obrigada.

— Não me agradeça. Comprei também um berço.

— Você pensou em tudo.

— Depois arrumamos o quarto dele.

— Só você, Danilo.

Fiquei impressionada o quanto ele estava ocupando bem o lugar de um pai. Ele cuidava do Dom com carinho.

— Acho que ele gosta de você. — depois do banho do Dom, o Danilo disse que o colocaria para dormir. Realmente deu certo.

— Talvez um dia eu tenha filhos. — falou me levando para fora do quarto que agora era do bebê — Eu quero. Talvez um dia seja possível.

— O que falta pra isso? Por que você não é mais tão jovem assim.

Brinquei e sorrimos.

— Ah, é?! — o Danilo sorria e me beijou — Só você aceitar casar comigo.

Esse homem adorava fazer piada, mas eu também podia brincar.

— Você nunca pediu.

— Não seja por isso. — beijou os meus lábios — Um dia, Mari. Um dia.

Enquanto o Dom dormia, decidi não ir trabalhar hoje. Pedi que o Danilo cuidasse do bebê enquanto eu ia a casa da Carla.

Confesso que foi desanimador ir até lá e não achá-la. Nenhum vizinho sabia dela desde o dia que deixou o Dom comigo.

Mesmo sem querer trabalhar, fui ao bistrô porque lembrei que a Carla e a Sibele andavam muito juntas.

A Sibele é a host do bistrô. Elas eram amigas, ela teria que me dizer alguma informação.

— Mari, achei que não viesse hoje.

— Não viria, só que preciso muito falar com você.

Pedi que ficassem no lugar dela e fomos ao meu escritório.

— Você sabe onde a Carla está?

— Não, aconteceu alguma coisa?

— Sibele, preciso que me diga se souber onde ela está. A Carla deixou o filho dela aqui e sumiu.

— Sério?!

— Sim.

— O tanto que eu pedi que não fizesse isso.

— Então, você sabia de tudo.

— Não que ela o deixaria com você. A Carla falou sobre o namorado não querer o bebê, mas nunca falou sobre sumir e abandonar o Dom com você.

— Você sabe onde esse homem mora? Talvez ela esteja com ele.

— Não sei.

— Vocês são amigas. Como você não sabe de nada?

— Nesses últimos meses da gravidez a Carla se fechou muito.

— Agora o Dom está lá em casa e a mãe dele Deus sabe onde. — suspirei sem esperança.

— Carla sempre te admirou. Se ela deixou o filho com você é porque sabe que é o melhor pra ele.

— Mas será que é o melhor pra mim? Ninguém quis saber o que eu queria. Ninguém nunca quer na verdade.

As vezes eu tinha a impressão que só jogavam as responsabilidades em mim e a minha opinião pouco importava.

— Mari, vou te passar o endereço da tia dela. Talvez a Jussara saiba onde ela se meteu.

Ela passou o endereço por mensagem e agradeci.

— Você vai cuidar do Dom? Eu poderia até me oferecer, mas mal consigo me cuidar.

— Claro que cuidarei dele.

Nunca deixaria um bebê com alguém assim. Não sou irresponsável.

— Fico mais tranquila em saber que ele está bem e seguro com você. Se ela aparecer te aviso.

Agora me restava cuidar do bebê e continuar procurando essa irresponsável.

MARIOnde histórias criam vida. Descubra agora