Capítulo 18

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— Estou acabada.

Me joguei na cama e o Danilo continuou parado na porta.

— Não é fácil, mamãe. — brincou.

O Dom já estava com a gente há algumas semanas e o meu coração começou a se acostumar com ele.

Nunca vi uma criança mais fofa que o meu bebê.

Tinha vezes que me pegava pensando nisso, que ele seria o filho que apareceu pra mim por algum motivo.

A Carla evaporou. Desapareceu como se nunca tivesse existido. Durante esses dias, eu tinha a esperança que ela voltasse e viesse ver o filho ao menos, mas nada disso aconteceu.

— Não é. Mas vale o trabalho só de ver que ele está bem, dormindo alimentado e feliz na vida de bebê dele.

Sem querer o Danilo bateu o pé num andador parado no canto do corredor. Não sei por que a Sofia comprou isso, sendo que o Dom ainda tem três meses. A minha amiga sempre foi exagerada.

A Sofia tinha vindo assim que soube do bebê e disse que ele era meu e que não me deixaria ficar sem ele.

Achei bonito o carinho dela por ele, a dona Natália também esteve aqui. Aliás, todos os dias ela fazia questão de passar aqui e saber se a gente precisava de alguma coisa.

Os meus irmãos adoraram o Dom. Se achavam os tios. Eu adorava esse carinho, mas tinha medo, a gente tem que manter os pés na realidade. E como sabemos melhor que ninguém, por vezes pode ser amarga e dolorosa.

Qualquer dia a Carla pode aparecer e levá-lo de mim. Odiei pensar nisso.

O Danilo sorriu e sentou ao meu lado.

— Às vezes torço pra que ela não volte para buscá-lo. — ele leu os meus pensamentos.

— Danilo.

— É, Mari. Fico preocupado, nós sabemos como o Dom vive aqui. Não sabemos como seria a vida dele lá com a mãe, por mais que seja estranho falar isso, a gente não sabe as circunstâncias do por que ela o deixou aqui, mas com certeza não eram as melhores condições de vida. Aqui ele é protegido e bem cuidado.

— Eu entendo tudo isso. Sinto também. — tentei tranquilizá-lo — Já começo a achar que ela não vai voltar.

Sendo bem sincera comigo, começava a torcer também com isso. Que o esquecesse aqui.

A tia dela quando a procurei disse que a Carla não conversava com ela há uns anos e não queria ficar com o bebê.

Ela foi muito clara quando falou que não queria nem saber sobre o Dom. Eu disse que não o deixaria com ela, que pudesse ficar tranquila que a minha intenção era saber o paradeiro da Carla, não me livrar do Dom, entregando a qualquer uma.

O Danilo tinha que fazer alguma coisa com o Lucius e eu iria ao bistrô rapidamente com o bebê.

Tentava organizar a minha rotina da melhor maneira para cuidar do Dom.

— Preciso encontrar o Lucius, mas encontrarei vocês logo.

A cada dia mais o Danilo ganhava o meu coração.

Cuidar do Dom está curando nós dois aos poucos. No fundo, nós somos dois rejeitados pelas mães. Só que o Danilo foi pior, ele não teve nem o pai e nem a mãe.

O Danilo disse que ele é o nosso presente inesperado.

Ainda não tive coragem de pedir a guarda do Dom, preciso saber como agir nessa situação.

No fim da tarde levei o bebê comigo ao bistrô e tinha uma péssima visita para nós.

— Me deixa ver o meu sobrinho neto.

A Jussara queria segurar o Dom. Não gostei.

— Não me leva a mal, mas é não.

Ela ficou surpresa e vi o seu aborrecimento.

— Me deixa levar o bebê da tia. — a Sibele pegou o Dom enquanto eu conversava com a Jussara.

— Esses dias você foi bastante clara sobre não querer saber do bebê e hoje aparece aqui querendo pegá-lo? A resposta é não.

— Eu sou a tia. Tenho os meus direitos.

— Pouco me importa os seus direitos.

— Eu pensei melhor e quero te ajudar.

Não gostei do rumo da conversa.

— Como você me ajudaria? Posso saber?

— Posso cuidar do Dom e você nos ajuda com a sua generosidade.

A minha generosidade só podia ser uma coisa.

— Dinheiro. — cruzei os braços pra não grudar nela.

— Sim. Você é uma mulher jovem e muito ocupada. Olha a sua vida como é agitada? Posso cuidar dele. Eu sou a tia e tenho os meus direitos.

Essas coisas de direitos começavam a me tirar do sério.

— O seu único direito aqui é ainda sair viva. Porque te juro que quero grudar no seu cabelo.

— Olha como você fala comigo. Você não me conhece.

— Olha você como fala. Acha que me amedronta? O Dom vai ficar comigo. Se a Carla não o deixou com você agora eu sei os motivos. Você é podre por dentro.

— Quero ficar com o meu sobrinho.

— Só se for nos seus sonhos. Você não quer cuidar dele, quer tirar algum dinheiro de mim e não vai conseguir. Duvido que queira cuidar dele sem um centavo. Porque não te darei nada.

— Ah, quer saber? Pode ficar com esse menino. Eu já cuidei de dois filhos e ter trabalho pra cuidar de um pirralho depois de velha, não vale a pena.

— Faça um favor a si mesma, não apareça aqui nunca mais. Você é nojenta.

— Vou acompanhá-la até a porta e rezar pra que esqueça o caminho. — a Sibele levou a Jussara.

O Dom estava no carrinho e sorria pra mim.

— Ouvi quase tudo e você está certa. Mantenha o Dom longe dela.

— Ela nunca mais o verá.

— Tudo bem agora, respire.

— Não, vou pra casa. Aqui já está tudo certo e vocês conseguem trabalhar sem mim.

O que precisava ser feito ali já tinha sido resolvido e agora só queria levar o bebê pra casa e deixá-lo em segurança.

— Mari. Com certeza a Carla está orgulhosa por ter decidido deixar o bebê com você. Vi o quanto você é uma mãe leoa pra defender o Dom.

— Não gostei dessa mulher. E enquanto o Dom estiver comigo vou dar o melhor de mim pra cuidar dele.

— Eu sei que sou um pouco doida e atrapalhada, mas estou aqui se vocês precisarem. Não apoio o que a Carla fez, mas agora está feito. Temos que lidar com isso.

— Obrigada, Sibele.

Nada era mais desagradável do alguém tentar lucrar com algo que tem um valor inestimável. O Dom é uma vida, é uma criança e merece todo o amor e cuidado do mundo. A vida e o bem estar dele são coisas inegociáveis.

MARIOnde histórias criam vida. Descubra agora