HÁ POESIA NA IDEIA de ano novo. Quando um ano termina e os fogos de artifício explodem no céu, eu sempre tenho a sensação de que estou passando para o próximo nível da vida, como se eu estivesse encerrando um livro e começasse outro, onde tudo vai ser diferente. Exceto que, na prática, nunca é bem assim. O ano mudou, há cerca de uma semana, mas eu continuo a mesma. Ainda tenho o mesmo cabelo cacheado, a mesma pintinha na bochecha, o mesmo irmão irritante e ainda sou pequena demais para andar com a Melissa, minha melhor amiga, que é toda grandona, sem me sentir uma nanica. É comecinho de ano, e a tevê diz que tudo começou de novo, mas a minha vida parece exatamente como antes do reveillon; eu estou na casa do Cadu, namorado da Melissa, curtindo uma tarde de verão: o sol brilhante, o calor não passa nunca, o aroma de protetor solar e de piscina, cloro puro.
O Cadu está soltando pipa no quintal, eu e a Melissa estamos aqui, na área da piscina. Melissa está sentada no chão, usando um bonezinho. Ela trouxe a sua agenda, e está organizando o seu horário para o segundo ano. Agora, ela está comentando comigo:
- Vou estudar mandarim todos os dias, depois da escola. Acho que assim eu consigo aprender esse troço de vez.
Eu estou ao lado dela. Estiquei a minha toalha no azulejo da piscina, lendo uma revista, deitada de bruços, balançando os meus no ar. Verão é a minha época favorita do ano. Tudo fica tão colorido.
Estou terminando de ler os horóscopos da revista, quando vejo Cadu se aproximando. Ele se senta ao lado da Melissa e a puxa para um abraço.
E lá vamos nós. Me afundo atrás da minha revista.
- Cadu, está calor.- Ela se desvia dele, sem tirar os olhos da agenda- Sai fora.
Suspiro. Graças a Deus.
- Ih, Melissa. Para de ser assim.- Cadu implora, fazendo biquinho.
- Depois, Cadu. Eu tô fazendo uma coisa importante. Por que você fica tão meloso no calor?
Cadu me olha, pedindo ajuda. Eu dou de ombros. Ele sabe que a namorada é uma mal-humorada, toda cheia de não me toque. Quando eu e a Gabi ainda nos falávamos, namorávamos, por trás sempre chamávamos a Melissa de "vovozinha Melissa". Aqui na revista, eu me deparo com uma matéria importante.
- Melissa, mercúrio vai entrar em retrógrado de novo! Quer dizer, ja entrou. Essa revista é de duas semanas atras.- Franzo a testa.- Por que as pessoas vendem revistas antigas?
O Cadu ri.
- A pergunta é: por que você está lendo horóscopos na revista, Lily? Você conhece esse dispositivo aqui?- Ele balança o celular no ar.- Aqui no seculo vinte e um o chamamos de "celular".
Viro os olhos.
- Sim, e a proposito meu nome é Emily Louise.
Melissa pega a revista da minha mão.
- Quando o mercúrio retrógrado termina? Estava pensando em me inscrever em uns cursos online hoje.
O Cadu estica a coluna para olhar a revista.
- Por que você não pode se inscrever nos cursos agora?
Melissa olha para o Cadu.
- Porque Mercúrio está retrógrado. Do ponto de vista da terra, é como se ele estivesse dando para trás. E isso é um mal presságio.
Eu aponto para o Cadu.
- É melhor você não tomar nenhuma decisão importante nesse momento.
O Cadu obviamente não está entendendo nada.
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Devolva o meu coração
Teen FictionEmily Louise é de peixes. Ok, muitas pessoas são de peixes. Não é esse exatamente o problema. O problema são os romances sáficos que ela não para de ler. Ou será que são as músicas de amor que ela não para de ouvir? Seja qual foi o problema, Emily p...